Vítor Gaspar vai liderar departamento de assuntos orçamentais do FMI

Ex-ministro das Finanças assume funções em Junho.

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Numa entrevista recente ao PÚBLICO, Gaspar rejeitou ter sido o quarto elemento da troika Nuno Ferreira Santos

O ex-ministro das Finanças Vítor Gaspar foi nomeado pela administração do Fundo Monetário Internacional (FMI) para o cargo de director do departamento de assuntos orçamentais da instituição, lugar a que se candidatou depois de sair do Governo no Verão.

O ex-governante assume funções em Junho, 11 meses depois de deixar a pasta das Finanças no executivo de Pedro Passos Coelho.

Gaspar vai substituir no FMI o italiano Carlo Cottarelli, que se demitiu em Outubro último. A nomeação foi confirmada nesta sexta-feira pela directora-geral do FMI, Christine Lagarde, que em comunicado elogiou “as impressionantes capacidades de gestão” e a experiência política do ex-ministro a nível europeu e nacional.

Depois de se demitir com estrondo do Governo a 1 de Julho, Gaspar regressou ao Banco de Portugal como consultor do governador, Carlos Costa, e a convite de Durão Barroso foi nomeado o responsável do Grupo de Alto Nível para a Tributação da Economia Digital, como consultor da Comissão Europeia.

Numa entrevista recente ao PÚBLICO, publicada na semana que marcou o seu regresso ao espaço público com a apresentação do livro Vítor Gaspar por Maria João Avillez, o ex-governante insistia numa ideia que batalhou como ministro das Finanças: a da responsabilização de cada país da moeda única pela “sustentabilidade das [suas] finanças públicas”. Uma estratégia que, agora, acompanhará de perto a partir de Washington.

No FMI – uma das três instituições da troika que supervisionam a implementação do programa de resgate –, terá em mãos o acompanhamento de assuntos relacionados com as finanças públicas dos Estados-membros. E do economista português, Lagarde espera ver um “aconselhamento vital em termos de política orçamental” aos países que pertencem ao fundo, onde se inclui Portugal.

“Boa relação” com a troika
Na entrevista ao PÚBLICO, o ex-governante recusava “completamente” ter sido o “quarto elemento da troika”. Garantindo que sempre defendeu o país enquanto foi ministro das Finanças, Gaspar considerava “simplesmente insultuosa” a visão de ser olhado como um aliado do FMI, da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu. “A troika estava sentada do outro lado da mesa. As relações com as equipas da troika foram sempre boas, base fundamental para melhor defender os interesses de Portugal”, afirmou então.

Também no extenso livro de entrevistas à jornalista Maria João Avillez, Gaspar rejeita essa visão. “Os meus colegas das instâncias internacionais ficavam espantadíssimos quando sabiam que, por vezes, eu era aqui caricaturado. Essa perspectiva – eu ser ‘de lá’ – não era sequer natural”, diz.

A “boa relação com as organizações representadas na troika” é igualmente enfatizada por Gaspar no mesmo livro de Avillez, a quem sublinha o envolvimento do FMI nos resgates financeiros na zona euro por ser à data a organização “com mais experiência em gerir programas nacionais de ajustamento”.

Na breve nota onde confirma a nomeação de Gaspar, Christine Lagarde refere as suas funções como responsável pelo Gabinete de Conselheiros de Política Europeia na Comissão Europeia e como primeiro responsável pela Direcção-Geral de Estudos Económicos no BCE.

O departamento que vai liderar, fundado em 1964, presta hoje assistência técnica aos Estados-membros em quatro áreas: no acompanhamento das políticas orçamentais, fiscais, de despesa pública e tributárias.

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