Vieira Monteiro: acordo dos swaps não traz ganhos ao Santander

Nos primeiros três meses do ano, o Santander Totta lucrou 124,3 milhões, um crescimento de 8,6%

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Rui Gaudencio

Entre Janeiro e Março de 2017, o Santander Totta lucrou 124,3 milhões de euros, mais 8,6% do que no mesmo período do ano anterior, anunciou o presidente da instituição António Vieira Monteiro, durante a divulgação das contas trimestrais, em que aproveitou para criticar as condições de venda do Novo Banco ao Lone Star e defender o acordo dos swaps celebrado já este mês com o Governo.

Durante o encontro, Vieira Monteiro foi inquirido sobre a “saúde” do sistema financeiro nacional e considerou que a situação está hoje melhor, pois os temas BPI e BCP foram resolvidos por meios próprios e a capitalização pública da CGD está em curso. Mas continuam por fechar dois pontos: o crédito malparado, que contamina as contas do sector; e a venda do Novo Banco ao Lone Star, que prevê um mecanismo de capitalização contingente [o Fundo de Resolução garante o capital do Novo Banco até 3,9 mil milhões, o que constitui uma protecção contra eventuais desvalorizações do side bank].

E é esta última questão que lhe merece reparo. “Quem comprar o Novo Banco é que tem de correr os riscos, não são os outros bancos [que financiam o Fundo de Resolução com crédito público]” e que estão a ser chamados a assumir responsabilidades “por conta de erros do passado” de um concorrente. E lembrou que foi para assumir os riscos que o Lone Star “fez a due diligence e outras análises”.

Ao contrário do que o Banco de Portugal anunciou, o banqueiro veio dizer que “não foi candidato à compra do Novo Banco” e que a instituição nunca gerou interesse.

Mas as perguntas colocadas na conferência de imprensa desta quarta-feira centraram-se sobretudo no acordo celebrado já este mês entre o Santander e o Governo de António Costa, envolvendo os contratos de swaps (instrumentos de cobertura de risco associados a uma subida da taxa de juro de financiamentos) assinados com empresas públicas e que estavam em incumprimento desde 2013. 

As condições do acordo inicial (celebrado quando Passos Coelho era primeiro-ministro) mantêm-se inalteradas e têm implícito que o Santander cobre ao Estado taxas de juro superiores a 100%. Interrogado se não considerava as condições “uma usura” e se estava confortável com a situação, o banqueiro optou por não responder. E referiu, nomeadamente, que esta é matéria sigilosa pelo que eventuais explicações terão de ser dadas pelos clientes, as empresas públicas que adquiriram os designados swaps tóxicos.

Em todo o caso, Vieira Monteiro sublinhou que o processo esteve a ser analisado na Justiça durante cinco anos e meio e “as sentenças dos tribunais de Londres” deram razão ao Santander “e não falam de juros, mas de fluxos”.  

A actual equipa das Finanças aceitou respeitar os compromissos assumidos pelo anterior governo, em troca de um desconto de cerca de 500 milhões. O presidente do Santander Totta aproveitou para evidenciar que a negociação agora finalizada teve por base uma proposta distinta da que existia quando Passos Coelho estava à frente do executivo.

Adiantou: "Não é nosso hábito estar em conflito com os Estados", o que "nos levou a fazer o acordo, apesar de ganhadores [em tribunal]. Os contratos mantêm-se iguais".

Embora garanta que “não há ganhos” para o banco, Vieira Monteiro acabou a reconhecer que o Santander irá cobrar juros à República pelo financiamento de 2,3 mil milhões de euros, e que servirá para o Tesouro pagar ao banco os swaps. O que irá traduzir-se num aumento da exposição da instituição ao risco Estado português, facto que não incomoda Vieira Monteiro.

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