Utopias incómodas

O presidente da Associação da Hotelaria de Portugal, Raul Martins, parece acreditar que o país se deveria resumir à faixa litoral. Numa entrevista que publicámos ontem, este responsável considera: “Estamos sempre a cometer erros, como construir auto-estradas no interior para incentivar investimentos.” Argumenta que a vontade de criar no interior “condições para atrair pessoas é uma utopia” e questiona: “Por que hão-de viver tantas pessoas no interior como no litoral, quando o litoral é melhor?” Em suma: “Portugal é muito padrinho da utopia.”

Ainda bem que o país, ou parte dele, apadrinha utopias. Foi assim que deixou para trás a ditadura quando a liberdade parecia uma quimera, e é por isso que insiste na luta contra a pobreza, cujo fim parece impossível. Aceita-se que o presidente da hotelaria queira ver o seu sector com maior escala. Mas é discutível que o caminho passe pelo sacrifício de metade do país onde, se calhar, o potencial é grande, mas ignorado, em nome de uma macrocefalia que até terá mais custos do que benefícios.

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