Um terço dos desempregados procura trabalho há mais de três anos

Depois de ter estabilizado, a taxa de desemprego subiu para os 12,2% entre o terceiro e o quarto trimestre de 2015. Na comparação com 2014 houve melhorias

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A tempestade que assolou o mercado de trabalho em Portugal está a dissipar-se, mas para um número significativo de pessoas a possibilidade de voltarem a desempenhar uma profissão parece cada vez mais distante. No último trimestre de 2015, um terço do total de desempregados procurava trabalho há 37 ou mais meses sem qualquer sucesso.

Na recta final do ano, o Instituto Nacional de Estatística (INE) dá conta de 211 mil desempregados nesta situação, que classifica como “desempregados de muito longa duração”. São menos pessoas do que no final de 2014, é certo, mas representam agora uma fatia maior no total do desemprego:  33,3%, o mais elevado desde, pelo menos, o início de 2011.

Estes desempregados têm, na sua maioria, 35 e mais anos (75%) e o seu percurso escolar não foi além do 9º ano (58,8%), o que torna mais difícil integrá-los de novo no mercado de trabalho. Os dados solicitados ao instituto permitem ainda concluir que embora a maior parte sejam homens (50,7%), as mulheres também têm uma presença significativa neste grupo.

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O peso cada vez maior do desemprego de muito longa duração é uma das conclusões que se retira da análise às estatísticas trimestrais do desemprego, divulgadas ontem pelo INE, que dão conta de um ligeiro aumento da taxa de desemprego para os 12,2%, depois de ter estabilizado nos 11,9%, entre o segundo e o terceiro trimestres.

O ano terminou com quase 634 mil desempregados, mais 15 mil do que no trimestre anterior. O agravamento trimestral do desemprego notou-se em particular nos homens (mais 15.800 desempregados), que concluíram o ensino secundário ou pós-secundário (mais 17.900) e que estavam à procura de primeiro emprego (mais 9000). Entre os trabalhadores que procuravam novo emprego, registou-se um agravamento do desemprego entre os que antes tinham trabalhado na agricultura, produção animal e pesca (mais 5900) e no sector dos serviços (mais 5800).

Na recta final de 2015, o INE dá conta de uma diminuição de 0,3 % do emprego, uma tendência que já era notória nos dados mensais divulgados recentemente pelo instituto. Havia 4.561.500 pessoas empregadas, menos 13.800 do que nos três meses anteriores.

O decréscimo trimestral da população empregada ocorreu sobretudo nas mulheres (menos 17.200), nas pessoas dos 15 aos 34 anos (menos 26.300) e que tinham, no máximo, o 3.º ciclo do ensino básico (menos 43.000). A agricultura, produção animal e pesca foi o sector que mais emprego perdeu (menos 19.000), seguindo-se a indústria e a construção (menos 5200). O emprego por conta de outrem também registou um recuo de 8200 pessoas.

Os dados do INE mostram ainda uma redução da população empregada a tempo completo (-0,8%), enquanto o emprego a tempo parcial aumentou 3,7% no trimestre. O fenómeno do subemprego a tempo parcial (pessoas que trabalhavam a tempo parcial, mas que pretendiam fazer um horário tempo completo) também aumentou em 10,4%.

A taxa de desemprego jovem fixou-se nos 32,8%, um agravamento de dois pontos percentuais face ao trimestre anterior, mas uma melhoria face aos 34% registados em 2014.

O Algarve foi a região que mais sofreu com o agravamento do desemprego em cadeia. Do terceiro para o quarto trimestre, com o fim da época alta de Verão, a taxa de desemprego passou de 10,2% para 12,9% (mais 2,7 pontos percentuais), o aumento mais elevado entre as sete regiões do país e bem acima da média nacional (que foi de 0,3 pontos percentuais).

Os dados divulgados pelo INE mostram que a taxa de desemprego foi superior à média nacional na Madeira (14,7%), no Norte (13,5%), no Alentejo (13,3%), no Algarve (12,9%), nos Açores (12,6%) e em Lisboa (12,5%). Abaixo da média encontrava-se apenas o Centro (9%).
Apesar de o Algarve ter sido a região onde o desemprego mais aumentou em relação ao trimestre anterior, o panorama é ainda assim melhor do que o verificado em 2014. O instituto de estatísticas revela que em relação ao trimestre homólogo, esta está entre as regiões onde o desemprego mais caiu.

População activa cresce 
Na comparação com 2014, verifica-se uma melhoria significativa das condições do mercado de trabalho. Depois de perdas sucessivas, a população activa registou um crescimento homólogo pela primeira vez desde 2010. Soma agora  5.195.400 pessoas, mais 0,11% face a 2014 (5600 pessoas).

A população inactiva tem agora menos 14 mil pessoas, o desemprego recuou 1,3 pontos percentuais, o que corresponde a menos 64,4 mil pessoas desempregadas. A população empregada teve um acréscimo de 69.900 pessoas (mais 1,6%). 

O ministro do Trabalho e da Segurança Social considera positiva a redução homóloga do desemprego, mas reconhece que continua a ser “um problema muito significativo”. “Ter-se reduzido em termos homólogos é um factor positivo, mas a taxa de desemprego continua a ser um problema muito significativo e continua a ser um problema mais significativo enquanto (...) essa diminuição da taxa de desemprego não for acompanhada pela criação do emprego correspondente”, afirmou Vieira da Silva, ontem no final dos encontros com os parceiros sociais sobre a proposta de Orçamento do Estado para 2016. 

Os dados disponibilizados agora pelo INE incluem ainda a taxa de desemprego média para o conjunto do ano, que se fixou em 12,4%, uma diminuição de 1,5 pontos percentuais em relação a 2014. Esta taxa corresponde a 646.500 desempregados, menos 79.500 do que no ano anterior. A população empregada registou um acréscimo de 49.200 pessoas, para um total de 4.548.700.

Nas estimativas trimestrais do mercado de trabalho, o INE considerada a população com 15 e mais anos e os dados apresentados não têm em conta o efeito das actividades sazonais. As estimativas mensais, divulgadas desde Novembro de 2014 consideram o grupo dos 15 aos 74 anos e apresentam dados ajustados de sazonalidade, não sendo por isso directamente comparáveis.

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