Temer diz que "alarde" sobre carne brasileira cria "embaraço económico"

Cresce o número de países que suspenderam a importação de carne brasileira.

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Autoridades sanitárias brasileiras fiscalizam carne à venda num supermercado do Rio de Janeiro Reuters/RICARDO MORAES

Depois de tentar desvalorizar a polémica com o escândalo da carne, o Presidente brasileiro Michel Temer mudou o discurso e reconheceu nesta terça-feira que o problema causa um “embaraço económico” ao país.

Num discurso para uma plateia composta de investidores estrangeiros, Temer insistiu porém que não se pode “deixar transitar impunemente um alarde que não atinge a totalidade dos frigoríficos [matadouros]”. Temer exortou os empresários a investirem no Brasil, afirmando que o Governo já conseguiu alguns “feitos razoáveis” na frente económica, como a redução da inflação e dos juros.

Na passada sexta-feira, a Polícia Federal (PF) apresentou resultados da Operação Carne Fraca, que durava há dois anos, afirmando ter desarticulado uma organização criminosa que envolvia fiscais agropecuários e 22 empresas, incluindo as gigantes BRF e JBS. A investigação apontou fraudes na fiscalização sanitária, como o pagamento de subornos par aa libertação de mercadorias adulteradas e estragadas, e as perícias poderão ser alargadas a cerca de 40 empresas no total.

As autoridades brasileiras falam mesmo na utilização de produtos químicos, alguns dos quais cancerígenos, para prolongar artificialmente a validade da carne ou para retirar o cheiro a podre nas carnes estragadas. Revelam ainda que nas escutas telefónicas efectuadas foram detectadas conversas sobre a utilização de cabeça de porco na produção de enchidos, que é proibida no Brasil.

Segundo a Polícia Federal brasileira, havia também carnes contaminadas com salmonela em sete contentores de uma das companhias envolvidas, produtos que seriam exportados para a Europa. As autoridades nacionais ainda não apuram qual o volume de carne estragada que chegou aos consumidores nos últimos anos, nem as quantidades que foram usadas no Brasil ou exportadas.

Na sexta-feira, as autoridades referiram também que havia carne que era misturada com papelão. Uma das empresas envolvidas emitiu entretanto um comunicado em que afirma que as referências ao papelão detectadas em algumas das escutas feitas pela polícia diziam respeito ao processo de embalamento da carne e não a qualquer mistura com o produto alimentar.

O PÚBLICO revelou nesta terça-feira que Portugal importou de forma directa, em 2016, 524.519 quilos de carne do Brasil, equivalentes a 3,44 milhões de euros, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) – 2,29 milhões de euros (equivalente a 284.812 quilos) de carne de bovino congelada, a que se soma 1,02 milhões de euros (284.812 quilos) de carne fresca ou refrigerada de vaca e 85,1 mil euros de carne fresca, refrigerada ou congelada de aves (52.008 quilos).

Há seis anos, as importações directas de Portugal de carne bovina e de aves eram de 8,88 milhões de euros em valor e de 2.360.170 quilos. Portugal, segundo o INE, não importou de forma directa, entre 2010 e 2016, outro tipo de carnes daquele país, nomeadamente de suíno.

O que Portugal compra ao Brasil é uma gota no oceano de um dos maiores exportadores mundiais de carne, que em 2016 vendeu fora de portas 12,4 mil milhões de dólares (11,54 mil milhões de euros ao câmbio actual) – 6,9 mil milhões de dólares em aves e 5,5 mil milhões de dólares em carne de vaca.

Também nesta terça-feira, a Suíça e Hong Kong anunciaram que suspenderam a importação de carne brasileira juntando-se à União Europeia, China e Chile, que também embargaram as compras.

As autoridades brasileiras anunciaram que vão divulgar em breve quais os lotes de carne irregular e o seu destino, algo que até ao momento não aconteceu.

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