Sindicato diz que “há medo” na PT e inicia inquérito para avaliar clima social

STPT diz que a operadora da Altice está "há dois ou três meses" a propor rescisões de contratos e a deixar sem funções os trabalhadores que não aceitam sair.

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Armando Pereira é o presidente da administração da PT Pedro Lima/N Factos

O Sindicato dos Trabalhadores da Portugal Telecom (STPT) está a fazer circular entre os trabalhadores da PT Portugal um questionário sobre o ambiente de trabalho na empresa. “Hoje vive-se um clima de medo na PT, há um ambiente stressante e as pessoas estão desmotivadas”, assegurou ao PÚBLICO o presidente do STPT, Jorge Félix.

Por isso, o STPT quer ter “dados concretos para mostrar ao comité executivo” da empresa que as medidas de reorganização que já levaram à saída de cerca de um milhar de trabalhadores (seja por rescisões, seja por iniciativa própria) e à mudança de funções de outros tantos desde a entrada da nova gestão, em Junho do ano passado, estão a “criar um clima de mal-estar” que “não ajuda ao crescimento da empresa”.

O administrador com o pelouro dos recursos humanos, João Zúquete da Silva, foi informado da realização do inquérito, que deverá prolongar-se até ao final do mês. O sindicalista diz que já receberam perto de mil respostas, embora note que, “mesmo sendo um processo sigiloso, as pessoas têm receio de responder”.

Segundo o presidente do STPT, "há cerca de dois ou três meses" que a gestão da PT Portugal tem estado a propor a diversos trabalhadores, “como as pessoas mais velhas”, rescisões por mútuo acordo. “O problema é que a empresa já ultrapassou as quotas para o subsídio de desemprego”, o que leva muitos deles a recusar a proposta.

“Em Lisboa e no Porto esses trabalhadores que recusam estão a ser colocados em salas, com um telefone e sem funções”, afirmou Jorge Félix, calculando que em todo o país haverá cerca de 400 colaboradores nesta situação. Outras fontes contactadas pelo PÚBLICO referem, no entanto, que este número deverá rondar os 120 trabalhadores.

“As rescisões por mútuo acordo são situações pontuais, que não pressupõem que os colaboradores fiquem sem funções, caso não cheguem a acordo com a empresa", assegurou fonte oficial da empresa de telecomunicações. Quanto ao estudo do STPT, a mesma fonte indicou que "a forma como está a ser conduzido e suas conclusões são da inteira responsabilidade desta entidade sindical", pelo que a empresa não fará qualquer comentário.

Segundo Jorge Félix, muitas pessoas têm estado a ser colocadas “em funções que nada têm a ver com o seu percurso profissional”, como o caso das antigas secretárias de administração que “foram parar às portarias” ou os “técnicos de telecomunicações de Portimão e Tavira que foram colocados em Faro", a fazer atendimento ao cliente.

O presidente da administração da PT, Armando Pereira, "sempre disse nas reuniões com os sindicatos que não queria despedir ninguém", lembrou o responsável do STPT, queixando-se que, apesar da promessa, os método seguidos pela gestão da empresa estão a gerar um “ambiente complicado” que faz perigar “a saúde psicológica e física de muitos trabalhadores”. “A empresa não nos confirma os números, mas nós temos a noção de que está a aumentar o absentismo e há mais pessoas a recorrer à baixa por doença”, adiantou o presidente do STPT ao PÚBLICO.

A comissão de trabalhadores (CT) da PT também está a acompanhar “com preocupação a transformação” da empresa, disse, por seu turno, o presidente do organismo, Francisco Gonçalves. A CT “continua a insistir” que os trabalhadores devem ser integrados “em funções compatíveis com as suas categorias profissionais e as suas capacidades”, disse ao PÚBLICO. E “não vai descansar enquanto houver um trabalhador sem funções” na empresa, acrescentou.

A PT Portugal, sublinhou Francisco Gonçalves, “tem de continuar a ser líder de mercado e a angariar clientes”, por isso, o que necessita “são medidas de gestão que motivem as pessoas” e que não se traduzam em quebras da qualidade do serviço.

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