“Sejam pacientes”, diz Draghi aos alemães

Numa altura em que na Alemanha sobem de tom os apelos a que o BCE comece a retirar as suas políticas expansionistas, o presidente do banco central respondeu que ainda é cedo.

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Mario Draghi está a ser colocado sob pressão por causa da subida da inflação LUSA/RONALD WITTEK

A subida acentuada da inflação registada no final do ano passado na zona euro não será para já motivo para que o Banco Central Europeu (BCE) recue na política monetária expansionista que têm em prática. Quem o garantiu foi Mario Draghi, que, na primeira conferência de imprensa do ano, deixou um recado aos que na Alemanha subiram o tom dos apelos a uma retirada das medidas do banco central. “Sejam pacientes”, disse.

Na reunião do conselho de governadores que antecedeu a conferência de imprensa de Draghi – a primeira desde que se ficou a saber que a inflação na zona euro subiu em Dezembro de 0,6% para 1,1% - o BCE decidiu, tal como era esperado, manter as suas taxas de juro inalteradas e confirmar aquilo que foi dito em Dezembro relativamente ao programa de compra de activos que o banco tem vindo a aplicar desde 2015: que se prolonga pelo menos até ao final deste ano e que, a partir de Abril, o montante de compras mensais baixará de 80 mil milhões de euros para 60 mil milhões.

Mario Draghi garantiu em diversas ocasiões que os responsáveis do BCE não estão a discutir ainda qualquer plano de saída, isto é, de que forma e quando é que se pretende colocar um ponto final nas compras de dívida feitas pelo banco central e começar a subir as taxas de juro que, no caso do financiamento aos bancos, se encontra actualmente a zero.

Esta é a questão que mais expectativa tem criado, principalmente depois dos sinais de subida da inflação registados em Dezembro, que poderiam começar a fazer o BCE chegar à conclusão que chegou a hora de recuar, para não se correr o risco de ir longe demais. No entanto, Draghi, apesar de assinalar que a política do BCE está a ser muito bem-sucedida em fazer subir a confiança dos consumidores, aumentar o número de empregos e fazer recuperar a expectativa de evolução dos preços, argumentou que a subida da inflação em Dezembro deveu-se em larga medida à evolução dos preços do produtos energéticos e que a chamada inflação subjacente (que retira da análise os bens mais voláteis) continua a recuperar mais lentamente. Por isso, disse, as políticas expansionistas “continuam a ser necessárias”.

A discussão sobre se o BCE deve ou não começar a recuar está particularmente acesa na Alemanha, país em que existe uma preocupação muito acentuada com os riscos de aceleração dos preços e onde se fez sentir em Dezembro a subida mais forte da inflação, para 1,7%.

Aos alemães, principalmente os aforradores que estão a perder com as taxas de juro muito baixas, Draghi pediu paciência, deixando claro que não será tão cedo que a política do BCE irá mudar. “É preciso ter taxas de juro baixas agora para podermos ter taxas mais altas no futuro”, disse, defendendo que “a recuperação da zona euro é no interesse de todos, incluindo da Alemanha”.

O presidente do BCE manifestou ainda confiança de que as divergências nos níveis de inflação entre os vários países – com a Alemanha com taxas altas e outros países com a inflação ainda muito baixa – “serão geríveis” pelo BCE, que tem de adoptar as suas políticas para o total da zona euro, sem atender aos interesses específicos de cada um dos países.

Na conferência de imprensa realizada em Frankfurt, não foram realizadas perguntas sobre Portugal, cujas taxas de juro da dívida têm vindo a apresentar uma tendência ascendente nos mercados, sendo um dos motivos o facto de o BCE estar a reduzir o volume de compras de títulos portugueses, para não ultrapassar o máximo de um terço que pode deter da dívida de cada um dos países.

No entanto, quando questionado sobre se a dívida em países da zona euro como a Itália continuará a ser sustentável quando o BCE acabar com o seu programa de compra de activos, Mario Draghi adoptou um discurso pela positiva. “Não vemos a dívida de nenhum país da zona euro como insustentável”, afirmou.

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