Se BE e PCP falharem “em nova TSU”, “caberá ao PS retirar as devidas consequências”

Carlos Silva vê complexos nalgumas organizações, sindicais e políticas, quando têm de suportar um partido, o PS, que está no Governo, e apoiar a maior parte das suas políticas de governação.

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Para o líder da UGT não é certo que o salário mínimo volte a subir em 2018 Miguel Manso
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Carlos Silva quer travar precariedade laboral, mas admite que não será possível acabar com essa "chaga" Miguel Manso

O líder da UGT não assegura que a actual solução governativa chegue ao fim. Carlos Silva aponta para as sondagens e para as eleições autárquicas como perigos que podem fazer tremer a actual solução governativa.

A actual solução governativa tem condições para chegar ao fim da legislatura?
O primeiro-ministro tem dado provas de grande resistência e grande resiliência, sobretudo porque é um habilidoso político, quando digo habilidoso, digo no sentido da política no seu termo mais profundo. Mas também resta saber, perante um quadro de eleições autárquicas que se aproxima e perante as sondagens a que todos estão sujeitos… Às vezes elevar muito as sondagens para o PS pode ser pouco benéfico para os partidos mais à esquerda, que poderão sofrer alguma erosão. Isso nos próximos meses vai ter de ser muito bem acompanhado. Mas também vai depender muito da forma como o PCP e o BE se posicionarem em relação a algumas matérias que vão ter de ser abordadas no Parlamento, nomeadamente as PPP [da Saúde] e outras questões que vêm por aí. Poderão colocar de novo em cima da mesa a necessidade de o PCP e o BE, de uma vez por todas, perceberem se estão, ou não estão, com a política do Governo que apoiam.

Concorda com quem defende que está na altura de renovar os acordos entre o Governo e os dois partidos da esquerda?
Deixo ao cuidado dos dirigentes do PS fazerem essa avaliação. Dir-me-á, mas também é dirigente. Mas como secretário-geral da UGT, nessa condição, prefiro não me pronunciar. Deve ser o PS a encontrar no seu seio aquilo que deve ser a sua responsabilidade governativa. O PS tem um programa de governo e o primeiro-ministro tentará levá-lo até ao fim. Sabe que precisa de apoios à esquerda, esses apoios falharam na questão da TSU. Se falharem noutros momentos e circunstâncias importantes para a governabilidade do país nos próximos meses, naturalmente, caberá ao PS e ao Governo retirar as devidas consequência.

A relação entre o Governo e o PCP não está um bocado como as relações entre a UGT e a CGTP? No início do seu mandato tentou uma aproximação à CGTP, houve uma greve conjunta, mas agora parece que estão muito mais afastados do que estavam nesse início de mandato.
Não devemos deixar de dizer aquilo que pensamos em cada momento e em cada circunstância. Há convergências quando é necessário ter convergências.

Não é esse o momento?
No final da semana passada o PCP decidiu suscitar uma apreciação [parlamentar] em relação à concessão da Carris à Câmara de Lisboa. Não passava pela cabeça, nomeadamente dos trabalhadores e das nossas organizações, que apoiaram este processo, que neste momento, depois da questão da TSU, o assunto fosse suscitado. Há momentos, e estamos a viver um momento atípico na vida do país, em que é necessário não nos encolhermos e dizermos o que pensamos. Há organizações que acham que têm sempre razão. A Concertação Social, por exemplo, é um espaço de partilha de opiniões e compromisso. Se alguém nunca assina um acordo de concertação social, qual é o espírito de compromisso que é emergente dentro dessa organização? Se nunca assina nenhum compromisso, significa que nunca será acusada pelos trabalhadores nem por ninguém neste país de ter tomado qualquer decisão. A UGT, no meio da discussão parlamentar, acabou por ser acusada de ser o mordomo – ou de estar sempre ao lado dos patrões, ou de estar do lado do governo, seja o do PS ou outro qualquer.

Não está?
Não. Estamos ao lado dos trabalhadores, estamos ao lado país, porque as empresas fazem parte do país e as empresas não são só os empresários. Costuma dizer-se, como disse o secretário-geral da CGTP, os empresários, os empregadores é que são os nossos adversários. Para nós não são adversários. Podem ser um complemento. Estamos no século XXI, uma empresa é o empresário, são os seus quadros intermédios e são os trabalhadores. Os trabalhadores precisam de emprego. Quem é que lhes dá emprego? É nesta articulação de respeito que estamos mergulhados. O Outubro de 1917 já foi há quase 100 anos, há ideias que não se perderam, mas temos de evoluir. É isto que defendemos na Concertação Social, princípio do compromisso sem ceder a chantagens.

A CGTP caiu na tentação da hegemonia depois desta solução governativa?
No início desta solução perguntaram: então agora qual é o papel da UGT? Fica relegada para um segundo plano? Os portugueses percebem bem o que é que é viver constantemente na agitação e o que é que é viver na necessidade de fazer sempre negociação. Durante o último ano tem havido poucos protestos, alguma estabilidade e paz social. Ainda bem. Há organizações que não percebem o que é a cultura do poder. Só sabem o que é a cultura do contrapoder e antipoder. E é a isso que estamos a assistir um pouco. Talvez um complexo de algumas organizações, nomeadamente sindicais e políticas, que tendo a necessidade de suportar um partido, o PS, que está no Governo, e apoiar a maior parte das suas políticas de governação... [Isso] coloca alguns desafios a que não estão habituados. E nesse aspecto a UGT sempre esteve habituada a lidar com o poder ou o contrapoder dentro daquilo que é a melhor forma de intervenção: respeito mútuo, sentido de compromisso e das negociações independentemente de quem governa, seja socialista, social-democrata ou democrata cristão ou outro qualquer. É a nossa forma de estar.

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