Santander compra Popular: o que acontece aos clientes?

O Banco Popular foi intervencionado pelo Santander. Depositantes ficam salvaguardados, accionistas perdem tudo. Perceba o que está em causa neste negócio.

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Reuters/Vincent West

Porque foi intervencionado o Banco Popular?

O Banco Central Europeu (BCE) avaliou a situação de liquidez e de capital do espanhol Banco Popular – que vinha a sofrer com uma substancial saída de depósitos e com uma espiral de perdas em bolsa – e concluiu que a instituição financeira estaria perto de uma falência, isto é, próximo de ficar incapaz de cumprir com as responsabilidades assumidas com credores e clientes. Assim, para manter o regular funcionamento do banco e os seus compromissos com depositantes, clientes particulares e empresas, credores particulares e institucionais, o regulador europeu considerou inadiável uma intervenção nestes moldes.

O que distingue esta intervenção das que foram feitas no Banif e BES?

O BCE utilizou, pela primeira vez desde que foi criado no início de 2016, a nova estrutura do mecanismo de resolução bancária. Ao contrário das intervenções realizadas em Portugal, o novo modelo exclui o Estado da solução. E força as perdas de accionistas, obrigacionistas e, no limite, de depositantes. No caso do Banco Popular, os accionistas e obrigacionistas subordinados perderam tudo, enquanto os obrigacionistas seniores e depositantes ficaram salvaguardados.

Qual o papel do Santander nesta operação?

A partir do momento em que foi decidido que o Popular seria intervencionado, pela autoridade europeia responsável por estas decisões, as autoridades espanholas, em particular o Fundo de Resgate de Bancos espanhol, desencadearam uma espécie de leilão com várias entidades, do qual saiu vencedor o Santander, superando nomeadamente o BBVA, segundo a imprensa espanhola.

Quanto custa o negócio ao Santander?

O banco liderado por Ana Botín pagou um euro pelo Popular. O que significa que os 300 mil accionistas do Popular perdem tudo, bem como os obrigacionistas com dívida subordinada (instrumentos considerados para efeitos de solidez). No entanto, o Santander anunciou que irá aumentar o seu próprio capital em 7.000 milhões de euros, para cobrir as necessidades imediatas do balanço do Popular, em especial os desequilíbrios registados na carteira de crédito da instituição. As estimativas das autoridades apontam para um “buraco” entre dois mil e 8,2 mil milhões de euros, dependendo dos critérios de análise de stress (segundo critérios da regulação europeia).

O que ganha o Santander com o negócio?

O maior banco espanhol anunciou aos analistas que esta operação permitirá criar valor para os seus accionistas a médio prazo. E, segundo a imprensa espanhola, o Santander acredita que consegue sinergias de capital na ordem dos 2.000 milhões com o recurso a este mecanismo de intervenção, depois de assumidos todos os encargos da operação.

O que perdem os accionistas do Popular?

Tudo. As acções do Banco Popular tinham vindo a perder valor de forma acentuada nos últimos meses, mas a instituição ainda valia 1.300 milhões de euros em bolsa. Com a intervenção das autoridades, os accionistas perdem tudo, inclusive aqueles que acompanharam o aumento de capital, há exactamente um ano, realizado a 1,25 euros por acção. Também os obrigacionistas subordinados perdem o seu investimento, num total de 684 milhões de euros, onde se encontram particulares com uma exposição na ordem dos 450 milhões. O banco tinha ainda emitido 1.250 milhões de euros em CoCos, obrigações convertíveis equivalentes a capital, que tinham sido colocadas em investidores privados, que também vão ficar sem nada.

O que acontece aos depositantes?

Nada, fica tudo como até aqui, apenas passam a ser clientes do Santander, com tudo o que isso implica em termos de custos, taxas de juro, benefícios, etc. O mesmo acontece com os obrigacionistas seniores. Nos dois casos, o recurso aos tribunais com vista a um ressarcimento judicial está em cima da mesa.

Que consequência tem esta operação do Popular em Portugal?

Para os clientes do Banco Popular, acontece o mesmo que em Espanha: sem impacto para depositantes e obrigacionistas seniores, perda total para os restantes. Os créditos ficam na mesma, apenas sob alçada do Santander Totta, o que a prazo poderá ter influência na política de gestão de risco ou na concessão de novos créditos, mas que no imediato não terá grandes alterações. Para os trabalhadores, é previsível que haja alguma redução da estrutura do Popular em Portugal, em especial nas áreas onde o Santander identifique redundâncias. Aliás, já hoje o Santander revelou que a redução de custo desta união deverá chegar aos 10% em 2020, num total de 500 milhões de euros.

E o que muda no Santander Totta?

O banco liderado por António Vieira Monteiro terá de absorver o segundo pequeno banco no espaço de ano e meio, depois da resolução do Banif. O Santander Totta sublinhou logo de manhã que fica como o maior banco privado em Portugal, mas isso acontece apenas no caso dos activos. No entanto, dá alguns saltos importantes nos créditos e nos depósitos, assim como no número de trabalhadores e na quantidade de balcões, o que poderá vir a traduzir-se em despedimentos ou encerramento de agências devido a duplicação de funções e áreas. Tudo o resto fica inalterado. 

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