Santa Casa refreia expectativas do Governo sobre entrada no Montepio

Vieira da Silva até pode ver com “simpatia e naturalidade” que a SCML entre no capital do Montepio. Mas as propostas da tutela não implicam a sua concretização, alerta a Santa Casa

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NFACTOS / Pedro Granadeiro

Sem nunca mencionar o Montepio, ou qualquer outra instituição, a direcção da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa reiterou esta quarta-feira a intenção de Pedro Santana Lopes de não embarcar no que qualifica como “aventuras” de investimento.

Em comunicado, no qual avançou os resultados obtidos em 2016, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) colocou no papel a frase já pronunciada no domingo passado pelo seu provedor. A expressão é a mesma que Pedro Santana Lopes utilizou, a 1 de Abril, em entrevista à TVI, sobre a hipótese de a SCML ser parte interessada na restruturação financeira do Montepio. Questionado, Santana Lopes afirmou que a possibilidade deve ser "estudada", primeiro. Até porque "a Santa Casa não entra em aventuras", garantiu então o provedor.

Posição que o comunicado da SCML vem agora repetir: “Sempre consciente da sua missão e valores, a SCML não entra em aventuras e analisa escrupulosamente todos os eventuais projectos ou investimentos de potencial interesse”.

“Nomeadamente”, continua na nota enviada às redacções, “propostas apresentadas pela tutela ou pelo Governo”. É que, explica, “a obrigação de estudar e ponderar parcerias não implica necessariamente a sua concretização, já que a Misericórdia de Lisboa nunca assume riscos indevidos, porque não é essa a sua vocação nem é essa a sua natureza”.

Na semana passada, o ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Vieira da Silva, que tutela a actuação da Associação Mutualista Montepio, dona do banco Montepio (CEMG - Caixa Económica Montepio Geral), veio afirmar que veria com "simpatia e naturalidade" uma possível entrada da Santa Casa da Misericórdia e de outras instituições da área social no capital da Caixa Económica Montepio Geral. Vontade da tutela que voltou a reiterar esta quarta-feira, ao afirmar que o Governo vê "com bons olhos" a "cooperação entre instituições da área social".

"O Governo e eu próprio vemos de forma positiva uma cooperação reforçada entre instituições que têm uma missão social relevante", afirmou Vieira da Silva em Lisboa, à margem do evento que marcou o 40.º aniversário do Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social, citado pela agência Lusa. "Estamos a falar de uma [instituição] que tem por base uma organização da chamada economia social, de matriz mutualista, e a integração com outras organizações que também têm essa origem de instituição de natureza social vejo como positiva", sublinhou.

Tema, aliás, que levará o ministro à Assembleia da Repúnblica em breve, e "com urgência", uma vez que os deputados da comissão parlamentar de Trabalho aprovaram esta quarta-feira a audição de Vieira da Silva sobre a hipótese de a SCML entrar no capital da Caixa Económica Montepio Geral. À Lusa, esta tarde, Vieira da Silva reagiu afirmando que tem o "maior prazer" em responder às questões sobre este tema no Parlamento.

Um dia antes, nesta terça-feira, em assembleia-geral, a CEMG aprovou os procedimentos necessários à sua transformação em sociedade anónima, passo fundamental à eventual abertura do capital social a novos accionistas.  

No comunicado emitido esta quarta-feira, a SCML sustenta que tem vindo a reforçar “a sustentabilidade financeira da instituição [Santa Casa] através de uma “gestão eficiente e responsável”. E que resultou, avançou na mesma nota, que a SCML tivesse melhorado em 2016 os resultados líquidos em 15,3 milhões de euros (face a 2015), para 21,1 milhões de euros em 2016. Um acréscimo que atribui a “um controlo eficaz da despesa, nomeadamente em compras, fornecimentos e serviços externos”, que recuaram 4,1% face a 2015, e à “distribuição dos resultados dos Jogos Sociais”, que aumentaram 13,4%, ou 23,6 milhões de euros, face ao ano anterior.

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