Chineses da Fosun asseguram controlo da ES Saúde

Donos da Fidelidade ficam com 51% do capital e dominam grupo que detém Hospital da Luz.

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O Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, é uma das unidades geridas pela Espírito Santo Saúde Daniel Rocha

A Rio Forte, que controla a Espírito Santo Health Care Investments (ESHCI), aceitou vender à Fidelidade a participação de 51% que detém na Espírito Santo Saúde. A decisão implica também o Novo Banco e a ESFG.

A decisão de vender a participação na ES Saúde surge depois da Fosun (criada por Guangchang), que controla a Fidelidade (é dona de 80%), ter aumentado para 5,01 euros o preço que oferece por cada acção no âmbito na Oferta Pública de Aquisição (OPA).

Foi segunda vez que a Fidelidade subiu o preço, após ter começado a oferecer 4,72 euros. O preço que está agora em cima da mesa sobe para os 478,6 milhões de euros a valorização da ES Saúde, 67,8 milhões acima do valor a que ficava avaliada na primeira OPA, lançada em Agosto pelos mexicanos do grupo Ángeles.

Em comunicado publicado no site da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a Rio Forte e ESHCI referem precisamente que a decisão de venda teve em conta o aumento da contrapartida, bem como o facto de a CMVM ter travado a oferta lançada fora de mercado pelos norte-americanos da UnitedHealth Group.

Acrescentam ainda que o aumento da contrapartida "representa nomeadamente um prémio de 56,56% face ao preço a que as acções da empresa foram vendidas na oferta inicial de distribuição (IPO) a 12 de Fevereiro de 2014", quando foram dispersos 49% do capital.

No comunicado, refere-se ainda que o prazo limite de aceitação da oferta revista da Fidelidade foi fixado pela CMVM para a próxima terça-feira, 14 de Outubro, o que “inviabiliza a apresentação de qualquer oferta pública concorrente”.

O apuramento dos resultados será efetuado em sessão especial de bolsa, agendada para dia 15 de outubro.

A ESHCI é controlada em 55% pela Rioforte (actualmente processo de gestão controlada no Luxemburgo), em 27,26% pelo Novo Banco e em 17,74% pela Espírito Santo Financial Group (ESFG, que está em insolvência).

Pelo caminho tinha ficado a oferta dos mexicanos da Ángeles, os primeiros a avançar com uma  OPA, e da José de Mello Saúde (do Grupo José de Mello, em associação com a Associação Nacional de Farmácias).

A decisão e o momento em que foi tomada, referem a Rio Forte e a ESHCI, teve ainda como factor determinante “o reconhecimento da importância de transmitir ao mercado uma posição definitiva e célere por parte da Rio Forte e da ESCHI, de forma a oferecer a todos os accionistas da Espírito Santo Saúde as melhores condições para a sua tomada de decisão num contexto de transparência e equidade”.

A Fidelidade já tinha dito que Isabel Vaz manter-se-ia à frente da gestão da ES Saúde, que detém o Hospital da Luz e o Hospital de Loures (este em regime de parceria público-privada) entre outras unidades  e é o segundo maior grupo de saúde privada em Portugal (depois da José de Mello).

Por parte da gestão da ES Saúde, esta já tinha considerado  a oferta da Fidelidade “aceitável” (e numa altura em que o preço por acção era inferior, no valor de 4,82 euros) e disse haver algumas vantagens na junção de forças com os chineses. O reforço das áreas dos seguros de saúde foi um dos pontos vincados pela gestão liderada por Isabel Vaz, que também considerou positivo o facto de a compra permitir a aposta na medicina tradicional e na “medicina preventiva ou ocupacional”.

Em declarações enviadas ao PÚBLICO no dia 26 de Setembro, o presidente executivo da Fidelidade, Jorge Magalhães Correia, dizia: “Não nos basta ser uma empresa que vende seguros”. O objectivo é passar a ter “uma oferta integral em seguros de saúde, hospitais, clínicas, medicina ocupacional e preventiva e noutros serviços de saúde e assistência”, reforçou.

Um dos objectivos da Fidelidade, agora ligada à ES Saúde, é facilitar "o acesso aos cuidados de saúde para um universo mais alargado da população, ainda sem recurso a cuidados de saúde no sector privado", conforme referiu no seu prospecto da OPA. Outra ideia é avançar com recursos financeiro que permitam à ES Saúde desenvolver a sua estratégia de "diversificação e internacionalização". Um dos planos da gestão liderada por Isabel Vaz é a abertura de um hospital em Angola.

Embora a Fidelidade não detenha outras unidades de saúde em Portugal, a união da seguradora com a ES Saúde resultará numa concentração vertical, com alterações no mercado. A gestão da ES Saúde já defendeu, no entanto, que isso não irá causar "desequilíbrios no relacionamento da ES Saúde com as seguradoras e demais entidades pagadoras".

O negócio da Fidelidade marca também o regresso da Caixa Geral de Depósitos ao sector da saúde, cerca de dois anos após ter vendido as unidades hospitalares da HPP à Amil/Unitedhealth (e que tentaram agora, sem sucesso, reforçar a sua posição mo mercado português, numa investida fora de bolsa). O banco do Estado detém ainda 15% da Fidelidade, ganha este ano pela Fosun. Os outros 5% ainda estão no universo da CGD, mas por pouco tempo, já que essa fatia está em processo de venda aos trabalhadores da empresa de seguros, através de uma Oferta Pública de Venda (OPV), cumprindo a lei das reprivatizações. Os resultados vão ser conhecidos na segunda-feira. Caso os trabalhadores não subscrevam as acções a que têm direito (e que implicam agora uma empresa mais musculada), a Fosun detém o direito de comprar esses títulos, reforçando assim o seu domínio na Fidelidade.

Nesta sexta-feira,  pelas 11h25, as acções da ES Saúde estavam a ser negociadas a 4,96 euros, ligeiramente abaixo do valor oferecido pela Fidelidade. Com Pedro Crisóstomo e Raquel Martins

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