Reunião do BCE e crescimento da China em destaque esta semana

A semana que hoje se inicia deverá ficar marcada, no plano macroeconómico, pela reunião de política monetária do Banco Central Europeu, na quinta-feira, e pelos dados de crescimento da economia chinesa no último trimestre de 2015, a serem publicados na terça. Estes dados ganham particular relevância no actual contexto de agravamento dos receios de um abrandamento mais acentuado daquela economia, que constitui um dos principais riscos à evolução da economia global ao longo do ano de 2016, algo que poderá ficar patente nos encontros do Fórum Económico Mundial de Davos, que decorrerá esta semana.

Relativamente à reunião de quinta-feira do Banco Central Europeu não são esperadas quaisquer alterações à política monetária da instituição, após o conjunto de medidas anunciado no passado dia 3 de Dezembro, para promover o regresso da inflação a níveis consistentes com a estabilidade de preços a médio prazo. Recorde-se que, naquela ocasião, o BCE anunciou uma redução adicional da taxa de depósito dos bancos junto do banco central (de -0,2% para -0,3%) e o prolongamento, até Março de 2017, do programa de aquisição de títulos de dívida. A ausência de um aumento do ritmo mensal de compras e de um alargamento mais expressivo do leque dos activos contemplados naquele programa acabou, no entanto, por ter sido recebida pelos mercados como insuficiente ou decepcionante, dadas as elevadíssimas expectativas em torno daquela reunião. Desde aquela data, os indicadores conhecidos no plano da actividade e do sentimento têm, no essencial, sido moderadamente favoráveis, corroborando o cenário de um comportamento relativamente robusto da procura interna, que poderá atenuar o impacto desfavorável da desaceleração esperada da procura externa, e das economias emergentes em particular, ao longo do ano de 2016. Tal evolução positiva poderá vir a ser também evidenciada pelos índices PMI para o mês de Janeiro, a serem publicados esta quarta-feira. Contudo, no plano dos preços, tem sido evidente a persistência de níveis muito baixos de inflação. Tendo a inflação homóloga permanecido em apenas 0,2% em Dezembro, a inflação média anual de 2015 foi de 0%, abaixo da previsão do BCE, constituindo a evolução dos preços do petróleo e da generalidade das matérias-primas um claro risco negativo às perspectivas de elevação gradual dos níveis de inflação. Neste contexto, o discurso do BCE e do seu Presidente, Mario Draghi, deverá manter em aberto a possibilidade de introdução de novas medidas, caso a persistência de níveis muito baixos de inflação o justifique. Tal poderia vir a ocorrer a partir de Março, mês em que será revisto o conjunto de previsões macroeconómicas da instituição.  

No que diz respeito à economia portuguesa, destaca-se, na sexta-feira, a publicação dos índices coincidentes do Banco de Portugal para a actividade económica e para o consumo privado referentes ao mês de Dezembro.

A semana ficará também marcada por abundante informação relativa à economia chinesa. Na madrugada de terça-feira será conhecido o crescimento do PIB no quarto trimestre de 2015, bem como a produção industrial e as vendas a retalho no mês de Dezembro. O crescimento homólogo do PIB poderá ter diminuído ligeiramente face ao registo do trimestre anterior (de 6,9%), o que conduziria a um registo de um crescimento anual de 6,8% no conjunto do ano de 2015. Importa, no entanto, sublinhar que, apesar deste desempenho robusto, estes dados ilustram uma trajectória de desaceleração gradual da economia chinesa, que deverá prosseguir ao longo dos próximos trimestres, tal como sinalizado pelos últimos indicadores divulgados, com destaque para os índices PMI. Os receios de um abrandamento mais expressivo da economia chinesa mantêm-se no topo dos riscos para a economia global no ano de 2016, podendo vir a ser um dos principais temas de debate nas reuniões do Fórum Económico Mundial, que decorrerá entre quarta-feira e sábado em Davos, na Suíça. Note-se que desde o final de 2014 têm sido implementadas pelas autoridades chinesas diversas medidas tanto no plano orçamental como no plano monetário (descidas das taxas de juro e das reservas obrigatórias para a banca), visando evitar uma desaceleração mais brusca da actividade, sendo possível a introdução de novas medidas de estímulo ao longo dos próximos meses.

No Brasil, o Banco Central poderá vir a proceder, esta quarta-feira, a uma nova subida da taxa de juro de referência, de 14,25% para 14,75%, dada a deterioração da trajectória de inflação (que atingiu 10,7% no ano de 2015), apesar da continuação de contracção da actividade.

Para a economia norte-americana destacam-se os dados de inflação e do início de novas construções para o mês de Dezembro (quarta-feira) e o índice Philadelphia Fed (na quinta-feira).

Novo Banco Research Económico

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