Resvés Copacabana

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Oi?, quem é o cara?

Mago das plataformas de telecomunicações, baptizado pelas redes sociais de “Zeinal Baza” (e já bazou), é um engenheiro electrotécnico que, na sua casa nova da Oi, no Brasil, desenvolve uma tecnologia para regressar ao passado. A ideia é inventar um comando semelhante aos da MEO, que dão para ir à casa de banho sem perder a cena do assassínio, ou Pacheco Pereira a falar de Paulo Portas. Mas o novo comando CEO de Bava permitirá fazer rewind da própria realidade, do correr inexorável dos meses, e até das transferências malucas para o Grupo Espírito Santo.

Já se filmaram duas comédias com a ideia do comando do tempo, aliás fraquitas, mas a fusão/destruição da PT em Portugal também é uma história muito mal contada. Como Zeinal é dado à implementação de lideranças, managings, outsourcings e conversas desta laia, poderá regressar ao instante em que o colega administrador Henrique Granadeiro assinou a compra de 900 milhões de papel de lixo da Rioforte (ou foram só 200?), seguir o momento em que o colega e administrador do BES Morais Pires, mais outro colega caramelo que ninguém conhece, decidiram usar o dinheiro da PT em aldrabices. Depois, Zeinal deverá assistir ao momento em que um tal Bava assina a sua rescisão total com a PT. E só depois tira a venda preta dos olhos que impedia um CEO de ver o que se passava na PT, à frente do comprido nariz. Oi?, mas impedia mesmo?

Entrementes, em Portugal, o vilão Ricardo Salgado garante que a Oi sabia e, portanto, Zeinal sabia. A “prova” são uns mails manhosos que enviou para um gestor brasileiro e que até o jornal Expresso desconfia que podem ter sido inventados. As elites portuguesas são miúdos trafulhas que adoram fazer batota no Monopoly, e o Zeinal deve achar que saltou na hora certa, Oi…

Manipulação atrás de manipulação. Em breve, Portugal poderá mudar o texto fundamental, a Constituição, por uma nova redacção:

Manipulação da República Portuguesa. Art. 1º: Portugal é uma República intervencionada, baseada na dignidade do investidor humano e na vontade especulativa e empenhada na manipulação de uma sociedade solidária para os seus accionistas maioritários.

Ricardo Salgado, a propósito, em entrevista ao Diário Económico, prometeu: “Vou lutar pela honra e dignidade, minha e da minha família”. No mesmo plano de intenções, o afundador do império Espírito Santo prepara-se para descobrir um soro eficaz contra o ébola, terminar com os genocídios da Líbia, da Síria, do Iraque e na Faixa de Gaza e, se ainda lhe sobrarem as forças humanas, a revolta do Rojo e do Slimani em Alvalade.

Mas primeiro é preciso acabar com as fugas de informação, a banca e a política são uma placa electrónica com a Internet cheia de vírus. Por exemplo, o comentador Marques Mendes anuncia a separação do banco bom

banco mau em directo na TV, antes do Banco de Portugal. E a Goldman Sachs do social-democrata José Luís Arnaut consegue livrar-se a tempo de milhões de acções que iria perder nos activos tóxicos do BES Mau. No entanto, às famílias dos pescadores da Torreira, Aveiro, não há informação que chegue a horas. Ninguém os avisa a tempo dos resultados das análises anteriormente feitas, e de que não vale a pena apanharem mais 13 toneladas de berbigão porque os bichos têm toxinas. E volta tudo para a ria, 13 mil euros da sobrevivência de centenas de pessoas que vão para o lixo. Há tóxicos e há toxinas. Investimento dos amigos tubarões, banco bom. Trabalho honesto, banco mau. Quem se lixa é o berbigão.

Oi, Zeinal, estava-se cá a fazer o quê, não é, jovem? O gestor que várias vezes, ao serviço da PT, ganhou em Portugal, e na Europa, o prémio de melhor CEO (Chief Executive Officer), prepara-se para ganhar no Brasil, como presidente da Oi, o prémio de melhor CEE (Cara Eu Escapei).

Quanto à ideia de arranjar um nome novo — CorpCo — para a empresa de fusão

derretimento/desaparição da PT na Oi, anda menos falada. Zeinal Bava, que tanto fez pela promoção dos filmes americanos nos lares portugueses, ter-se-á apercebido que CorpCo é nome de ficção:

O Duende Verde do Homem-Aranha é CEO da sua companhia… a Oscorp! E preparemo-nos para outras sequelas: Exterminador Implacável: o Dia do Julgamento da PT, Ascensão da Oi. O ministro da Economia Pires de Lima estará na estreia a comentar a “desfaçatez”, o “inexplicável”.

Zeinal Abedin Mohamed Bava nasceu a 18 de Outubro de 1965 (48 anos) em Lourenço Marques, actual Maputo. Veio para Lisboa com a família em 1975, modestos negociantes de móveis. Em 2010, o executivo português dizia ao PÚBLICO: “Não pedimos desculpa por ter ambição.”

Oi? Agora pode dizer:

— Não pedimos desculpa por não ter supervisão.

Nem vergonha.

A fibra óptica já temos. Falta fibra humana.     

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