Reino Unido cresceu 0,5% nos três meses seguintes ao referendo

Economia abranda. O desempenho melhor do que o antecipado não descansa economistas. O verdadeiro impacto do “Brexit”, avisam, ainda está para chegar.

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Theresa May vê anúncio de investimento da Nissan como prova de confiança no país TOBY MELVILLE/Reuters

São os primeiros dados trimestrais sobre a economia do Reino Unido desde o referendo que ditou o “Brexit”: a economia britânica desacelerou entre o segundo e o terceiro trimestre, crescendo 0,5% de Julho a Setembro em relação aos três meses anteriores, em que o PIB avançara 0,7%.

É, porém, ainda muito cedo para se tirarem ilações sobre o impacto económico, mesmo no curto prazo, da decisão dos britânicos, avisam economistas, salientando que as verdadeiras repercussões vão começar a fazer-se sentir mais para 2017, quando Londres accionar o artigo 50.º do Tratado de Lisboa para o Governo de Theresa May começar a negociar a saída da União.

Entre quem diz que os primeiros números oficiais não correspondem aos cenários antecipados pelos mais catastrofistas e quem diz que é preciso esperar para ver, há para analisar dados “preliminares” do instituto estatístico britânico (Office for National Statistics, ONS). E, para já, o ONS diz que o nível de crescimento continua a não ser globalmente afectado pelo resultado do referendo. O que se verifica é “um forte desempenho dos serviços a contrabalançar quebras noutros grupos industriais”.

O crescimento económico nos três meses seguintes ao referendo (a 23 de Junho) foi melhor do que esperavam alguns analistas, como o grupo  de economistas inquiridos pela Reuters, que apontavam para uma variação do PIB em cadeia de 0,3%. O crescimento trimestral acabou por ser de 0,5% e, na comparação do o período de Julho a Setembro de 2015, a economia apresenta uma variação de 2,3%. É o 15.º trimestre consecutivo de crescimento económico, desde que o Reino Unido saiu da recessão no início de 2013, refere o ONS.

Segundo o instituto britânico, há três principais tendências a registar: “o crescimento continuado dos serviços, que sustentou o crescimento do terceiro trimestre de 2016, o impacto das recentes flutuações cambiais no volume da produção [industrial] e um desempenho mais fraco do sector da construção”.

Na agricultura continua a haver um recuo da actividade, tal como no trimestre anterior; a indústria também caiu, ao contrário do que acontecera antes; a construção desceu e mais do que no trimestre de Abril a Junho; só os serviços tiveram um desempenho melhor, continuando a crescer e a um ritmo superior ao do primeiro trimestre.

Nissan anuncia investimento

A incerteza paira no ar em relação ao futuro do Reino Unido depois do “Brexit”, a começar pelo relacionamento com o mercado único europeu. Passados já cem dias desde que Theresa May chegou a Downing Street, a estratégia de negociação da saída do Reino Unido continua a ser uma incógnita, faltando ainda accionar o artigo 50.º do Tratado da UE, o que May deverá fazer até Março.

A primeira-ministra, que ontem esteve sob fogo depois de o Guardian divulgar uma gravação anterior ao referendo em que Theresa May dizia que as empresas sairiam em massa do Reino Unido se o país abandonasse a UE, pôde hoje capitalizar uma boa notícia. Quase à mesma hora em que eram conhecidas as estatísticas do PIB, a Nissan revelou que vai produzir um novo modelo Qashqai no Reino Unido, um anúncio a que a primeira-ministra não demorou a reagir, lendo nele um voto de confiança no país por parte de uma grande multinacional. Para a decisão do fabricante automóvel japonês, disse o presidente executivo do grupo, Carlos Ghosn, foi determinante o compromisso do Governo britânico de que o Reino Unido continuará a ser um território competitivo.

Em relação à economia, as principais instituições internacionais prevêem que o próximo ano será de desaceleração e terá impacto não só no crescimento da Europa como do conjunto da economia mundial. A OCDE deixou uma nota em Setembro a alertar para as ondas de choque que resulta do elevado grau de incerteza: “Graças à forte resposta do banco de Inglaterra ter contribuído para estabilizar os mercados, a incerteza continua a ser extremamente elevada e os riscos são claramente negativos”.

A previsão é de que o Reino Unido cresça muito menos do que nos últimos anos. A OCDE, que em Setembro reviu ligeiramente em alta a projecção para 2016 face ao que dizia em Junho (de 1,7% para 1,8%), baixou o valor previsto para 2017, contando que o PIB varie 1%.

O governador do Banco de Inglaterra, Mark Carney, que depois do “Brexit” cortou as taxas de juro de referência para um nivel histórico de 0,25%, sublinhava recentemente que a descida da libra tem permitido um ajustamento da economia, mas alertava para a subida dos preços.

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