Redução do desemprego de longa duração é sinal “encorajador”

Nota de optimismo é deixada pela OCDE no seu relatório sobre as perspectivas do emprego para 2016, divulgado nesta quinta-feira. Abrandamento da economia global é um risco.

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Andrea Comas/Reuters

Apesar das dificuldades que ainda persistem no mercado de trabalho, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) detectou, ao longo do último ano, alguns sinais encorajadores. O número de desempregados de longa duração começou a cair, sugerindo que este grupo – um dos que mais sofreu com a recessão – está a beneficiar da recuperação do emprego no conjunto dos países que integram a organização.

Este é uma das notas que se destaca no relatório sobre as perspectivas do emprego para 2016 (Employment Outlook), divulgado nesta quinta-feira, e que representa uma inovação face aos documentos divulgados nos anos anteriores.

Ainda assim, é cedo para cantar vitória. A OCDE alerta que, no último trimestre de 2015, um em cada três desempregados estava fora do mercado de trabalho há um ano ou mais, existindo 13,5 milhões desempregados de longa duração. Mais de metade destas pessoas procura emprego há dois ou mais anos, “aumentando o risco de se desencorajarem e de abandonarem a população activa”, refere o relatório.

A organização dirigida por Angel Gurría também não esconde a sua preocupação com o facto de o desemprego de longa duração estar a recuar a um ritmo mais lento do que o desemprego total. Uma das razões que explica esta evolução, adianta a OCDE, pode ter a ver com o facto de os empregadores encararem os longos períodos de desemprego como um sinal de desmotivação ou de competências obsoletas e desadequadas, acabando por preterir estes trabalhadores.

Contudo, a experiência recente revela que colocar a taxa de desemprego nos níveis anteriores à crise “fará recuar também o desemprego de longa duração, embora com um atraso considerável” face ao desemprego total. Isto pode indicar que os mercados de trabalho da OCDE se tornaram um pouco menos vulneráveis aos efeitos de privação (de longa duração ou mesmo permanentes) do que durante as recessões dos anos 1980 e 1990”, refere a OCDE.

A organização, que tem sede em Paris, recomenda aos governos que continuem “a apoiar este grupo, que frequentemente é evitado pelos empregadores, a encontrar emprego adequado”.

Outro grupo que tem suportado o peso da recessão e da lenta recuperação é o dos jovens pouco qualificados que não estão na escola, nem em formação, nem a trabalhar (os NEET, no acrónimo em inglês). Em 2015, 15% dos jovens entre os 15 e os 29 anos estavam nesta categoria e, destes, 38% não terminaram o ensino secundário.

Num contexto de crescimento económico lento, a OCDE recomenda aos governos que façam todos os possíveis para eliminar as barreiras que impedem alguns grupos da população de entrarem plenamente no mercado de trabalho, sob pena de os jovens NEET “serem permanentemente deixados para trás”.

A organização destaca medidas tomadas por alguns países que têm tido algum sucesso. É o caso, em França, da École de la Deuxième Chance, ou do Jobs Corps, nos Estados Unidos, que permitiram aos jovens que abandonaram a escola e não conseguiam entrar no mercado de trabalho obterem a formação adequada que lhes permitirá encontrar um emprego.

Também as mulheres estão entre os grupos mais vulneráveis e a OCDE considera fundamental tomar medidas para conciliarem as suas responsabilidades familiares com o trabalho.

Níveis anteriores à crise em 2017

Desde 2007, o cenário macroeconómico tem-se caracterizado por um emprego baixo, um crescimento lento dos salários nominais e uma reduzida qualidade do emprego, devido à maior insegurança do mercado de trabalho na maioria dos países da OCDE. Estes impactos adversos têm gradualmente vindo a dissipar-se à medida que a recuperação se tem concretizado, traduzindo-se numa melhoria gradual do mercado de trabalho.

Os resultados variam consoante os países. “Cerca de dois terços dos 34 países da OCDE ainda não atingiram as taxas de emprego anteriores à crise as lacunas no emprego continuam a ser grandes em alguns países europeus, nomeadamente na Grécia, na Irlanda e em Espanha”, refere a organização.

A OCDE espera, ainda assim, que a população empregada no conjunto dos países que representa atinja os níveis anteriores à crise em 2017, dez anos depois do início da Grande Recessão. Contudo, lembra, o desemprego continua a ser demasiado elevado e mesmo nos países que conseguiram enfrentar com alguma resistência a anemia do mercado de trabalho, há problemas com a qualidade do emprego, os salários praticamente estagnaram e a participação dos jovens no emprego continua a ser insuficiente.

É por isso que, numa altura em que os mercados de trabalho ainda não recuperaram totalmente da Grande Recessão, o recente abrandamento do crescimento da economia global preocupa a organização, porque “aumenta o risco de uma nova crise antes que muitos países consigam recuperar [da anterior]”.

Perante os novos desafios que se colocam às economias e um cenário de lento crescimento do mercado de trabalho, a OCDE compromete-se a rever a sua estratégia para o emprego e apresentá-la em 2018.

“Se os países não conseguirem responder aos desafios da digitalização da economia e às mudanças demográficas, adoptando políticas inovadoras para impulsionar o crescimento e promover empregos de qualidade que paguem salários adequados, a estagnação que assolou os mercados de trabalho desde a Grande Recessão, poderá tornar-se o novo normal”, alerta a organização.

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