Redes de marketing multinível encontraram na Madeira terreno fértil para crescer

Telexfree, Wings Network, Wishclub, BNG, Geteasy, PayDiamond - nem os avisos, nem o histórico de problemas que criaram afastam os madeirenses de arriscar num negócio que não é mais do que um esquema de pirâmide.

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Paulo Pimenta

Ali, paredes meias com uma loja da marca CR7, num bairro de classe média-alta do Funchal, uma montra discreta anuncia a sede da Brilliant Team. O espaço, apagado se olharmos para os letreiros extravagantes das lojas vizinhas, guarda a sala de conferências e de recrutamento na Madeira da empresa PayDiamond.

O nome remete para uma vida de luxo e glamour, e serve de chamariz para mais uma sucedânea da Telexfree, o esquema de pirâmide que durante dois anos contagiou uma larga fatia da sociedade madeirense com promessas de lucros astronómicos e fáceis.

A empresa apresentava-se com uma plataforma de marketing multinível, mas não era mais do que uma variação do velhinho esquema de Ponzi. O negócio era simples, e fácil de explicar. Bastava investir inicialmente cerca de mil euros, para todas as semanas receber 300. Só precisava de colocar uns anúncios online e o dinheiro, 'vivo', chegava às mãos do investidor através da pessoa que o tinha recrutado.

Durante dois anos, a pirâmide financeira funcionou alimentada pelos novos investidores, atraídos pelos sinais económicos que viam nos vizinhos, amigos e familiares. A febre espalhou-se rapidamente, num meio pequeno como a Madeira. Houve quem contraísse empréstimos bancários para poder investir. E quem abandonasse o emprego para poder dedicar mais tempo à Telexfree, gerindo múltiplas contas.

O nome da empresa entrou no léxico popular. Até Alberto João Jardim comparava aquela rede de marketing multinível como uma espécie de agricultura que, em tempo de crise, proporcionava rendimento extra às famílias. Ninguém, ou quase ninguém, conseguiu resistir às promessas de 300 euros por semana em troca de meia dúzia de cliques - advogados, padres, políticos, empresários.

Mas no início de 2014, o dinheiro começou a fluir menos. Com dificuldades em angariar novos investidores, os principais recrutadores viraram-se para as comunidades madeirenses emigradas. Jersey, Venezuela e África do Sul foram os alvos, mas as autoridades locais, mais atentas ao fenómeno do que as portuguesas, barraram a entrada. E em Abril desse ano, a bolha rebentou com estrondo, espalhando o desespero com a mesma velocidade em que nos meses anteriores publicitava o sucesso.

Alguns dos principais dinamizadores da rede ausentaram-se do arquipélago, perante ameaças dos muitos que perderam dinheiro. O Ministério Público abriu um inquérito que, de acordo com o Diário de Notícias da Madeira, já tem quatro arguidos suspeitos da prática dos crimes de branqueamento e burla qualificada. Mas depressa os esquemas regressaram, com outros nomes: Wings Network, Wishclub, BNG ou Geteasy.

Um após outro foram rebentando, porque a confiança dos madeirenses, escaldados pela Telexfree, não era a mesma e estes esquemas sustentam-se precisamente com a entrada de novos investidores. Mas se a confiança diminuiu, a dos líderes das várias redes que foram surgindo mantêm-se. O rosto da Brilliant Team é bem conhecido dos madeirenses, já que era o mesmo que liderava uma das principais redes da Telexfree no arquipélago.

Foi sempre uma das vozes defensoras da legalidade do negócio, e mesmo quando a justiça norte-americana forçou o encerramento da empresa, insistiu que tudo ia ser decidido a favor da Telexfree. Não foi.

Agora, tal como antes, tudo acontece às claras. Seja através de conferências online, seja através de palestras, ali naquela espaço ao lado da loja CR7. Nos tempos áureos da Telexfree, um Ferrari descapotável estacionado à porta ajudava a mostrar que o dinheiro que ali se fazia era real. Neste momento, a ostentação é menor, mas a linguagem, escrita e visual, mantêm-se.

Nas redes sociais ligadas ao PayDiamond e aos dinamizadores da rede, as frases motivacionais retiradas de uma qualquer livro de auto-ajuda repetem-se, misturando-se com o brilho dos diamantes. Fotografias de destinos de férias, automóveis de luxo e conferências radiantes compõem o ramalhete, que tem um único objectivo: atrair mais investidores, para pagar aos que já lá estão mais alguns meses. 

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