Quando exportam, muitas empresas ainda só exportam para um país

Vendas de bens a outros países continuam concentradas num pequeno número empresas. Entre as empresas que exportam para Angola, 40,5% só vendem para este mercado.

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Em 2015, 87% das empresas que importaram bens compraram apenas a um país Daniel Rocha

Há 46.700 empresas portuguesas voltadas para o mercado externo, mas nem todas têm um grande leque de países a quem vendem produtos. Quando se fala da realidade das exportadoras, há um dado que salta à vista: a maior parte só vende para um país. Em 2015, aconteceu com mais de dois terços das empresas que exportam. Uma realidade que é mais visível nas vendas para países da União Europeia do que para fora do espaço comunitário.

Uma síntese do Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgada nesta terça-feira sobre as características das empresas exportadoras, com dados referentes a 2015, mostra não só que ainda é grande a exposição de muitas empresas a um mercado exclusivo, mas que há também uma grande concentração das exportações num pequeno número de empresas

No lote das que só exportam para um país, há 32.547 casos. Este segmento de empresas escoou para os mercados externos produtos no valor de 3551 milhões de euros em 2015, o correspondente a pouco mais de 7% de todas as exportações de bens portugueses. Há ao mesmo tempo muitas outras que, tendo mais do que um mercado como destino dos seus produtos, concentram pelo menos metade dessas vendas num único país.

O INE nota, no entanto, que a exposição das empresas em relação a um só mercado tem vindo a dimiunir por comparação com a realidade de 2010. A menor dependência, explica, “poderá traduzir uma maior aposta por parte das empresas na diversificação de mercados, em resposta à crise global do comércio internacional verificada em 2009 e a crises específicas em alguns mercados relevantes, como foi o caso de Angola”, para onde as vendas de bens estão actualmente em forte retracção.

Menos exposição a Angola

Como há mais empresas a exportar, também há mais empresas que têm um só mercado (em 2010 eram 30.117 e cinco anos depois são mais 2400 aproximadamente). No entanto, com a diversificação do sector exportador, há percentualmente menos empresas nesta situação (7,3%, contra quase 9% em 2010). E o seu peso “diminuiu tanto em número de empresas como em valor exportado (-2,7 pontos percentuais e -1,4 pontos percentuais em 2015 face a 2010, respectivamente)”. A mesma tendência aconteceu com as empresas que têm pelo menos 50% das exportações num único mercado.

Angola é um dos casos. Por exemplo, segundo o INE, 40,5% das empresas que para ali exportaram bens apenas têm o país como mercado de destino e “62,8% das empresas destinaram pelo menos 50% das suas exportações a esse mercado”. Ainda que o grau de exposição tenha diminuído, a queda das vendas para Angola foi uma das razões que mais contribuíram para a diminuição das exportações de bens já na primeira metade deste ano. Excluindo Angola, China e Estados Unidos, as “exportações registaram um aumento de 1,7%”, sublinha o INE.

As cem “maiores empresas exportadoras concentraram perto de 44% das exportações”, da mesma forma que as cem maiores importadoras são responsáveis por 40% do volume de bens comprados ao estrangeiro. Apesar disso, as empresas presentes em mais geografias são quem tem “uma parte significativa das transacções”, beneficiando do facto de haver uma maior diversificação de parceiros comerciais. Por exemplo, fazendo a conta ao grupo das empresas que actua em pelo menos 20 mercados, conclui-se que aqui estão concentradas 44% das exportações.

Segundo o INE, “as cinco maiores empresas exportadoras de bens concentraram 15,9% do valor transaccionado em 2015”, mantendo-se as mesmas tendências (16% em 2014). As dez maiores concentraram 20,4% do valor transaccionado, as 100 maiores 43,7% e “cerca de dois terços das exportações foram efectuadas pelas 500 maiores empresas”.

O sector exportador tem vindo a crescer consecutivamente nos últimos e, segundo o instituto estatístico, também nas empresas com 15 a 19 países de destino houve um “um acréscimo significativo”, ao contrário do que aconteceu com as empresas que exportam para 10 a 14 países parceiros, que passaram a ter menos peso.

Nas importações, ainda há mais empresas a transacionarem bem apenas com um mercado exclusivo. “Em 2015, 86,9% das empresas nacionais importaram bens de apenas um país, tendo concentrado 9,8% do valor transaccionado”, refere ainda o INE.

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