Principal accionista do BCP entre os grupos analisados por regulador chinês

Supervisor dos bancos da China quer conhecer risco dos empréstimos feitos a empresas como a Fosun e a HNA, ligada à TAP.

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Fosun emitiu um comunicado onde disse desconhecer razões para a queda das acções REUTERS/Bobby Yip

O ritmo e a escala das compras de empresas chinesas no estrangeiro têm sido impressionante nos últimos anos, com dúvidas pelo meio sobre a viabilidade de algumas operações e sobre os níveis de endividamento envolvidos. Agora, quem está a levantar interrogações, com o poder de exigir respostas, é o supervisor financeiro chinês.

A entidade reguladora está preocupada com o grau de exposição dos seus bancos a empresas com forte ritmo de aquisições no estrangeiro, como a Fosun, que em Portugal se tornou no principal accionista do BCP.

De acordo com vários órgãos de comunicação internacionais, como o The Wall Street Journal, o Financial Times e a Reuters, o regulador ordenou aos bancos comerciais que analisassem o risco dos empréstimos feitos às empresas que tiveram um ímpeto mais agressivo de compras além-fronteiras nos últimos anos. A lista inclui a Fosun e a HNA, esta última ligada à TAP, bem como a Zhejiang Luosen (que comprou o clube italiano A.C. Milan) e a Anbang.

Ligada ao sector segurador, a Anbang --  que esteve na corrida ao Novo Banco -- viu-se recentemente no centro das atenções, com o seu presidente, Wu Xiaohui, a afastar-se (ou a ser afastado) do cargo sem grandes explicações. Isto, depois de a empresa, que ficou conhecida por comprar o Hotel Waldorf Astoria, em Nova Iorque, ter sido alvo das autoridades chinesas.

Segundo a Bloomberg, a Anbang vendeu produtos de seguros que se assemelhavam muito a investimentos, e, neste momento, pode ficar sem liquidez (e ir ao fundo) se demasiados clientes pedirem o seu dinheiro de volta.

Agora, o regulador chinês quer avaliar o grau de exposição dos bancos a empresas cuja dimensão de dívidas tenha o potencial de risco sistémico (provocando uma onda de pânico difícil de controlar caso não consiga cumprir as suas obrigações junto dos credores). Um dos responsáveis do supervisor, Liu Zhiqing afirmou, citado pela Reuters, e sem citar nomes, que “as grandes empresas são de facto o foco de atenção, porque uma grande empresa representa um grande risco de exposição junto dos bancos”.

De acordo a Reuters, a comunicação do regulador foi feita aos bancos no início do mês, mas só agora é que começaram a ser publicadas notícias sobre essa estratégia, provocando impactos nos grupos envolvidos. As acções da Fosun fecharam a sessão bolsista desta quinta-feira a cair quase 6%, quase o mesmo do que as da HNA.

A mais atingida foi a Dalian Wanda, que tem apostado no sector do cinema e entretenimento: as acções estavam a cair 10% antes de a negociação ser interrompida na bolsa de Shenzhen. Um responsável do grupo, citado pela Reuters, falou em “especulação maliciosa”, com rumores de que os bancos chineses se estavam a desfazer de títulos de dívida da empresa.

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No caso da Fosun, a empresa, ligada a negócios onde se incluem os seguros, optou por emitir um comunicado onde afirmou desconhecer quaisquer informações que pudessem estar relacionadas com a queda do valor das acções. O movimento negativo acabou por se alastrar ao BCP, onde a Fosun detêm já mais de 25%, mas o banco acabou por encerrar a perder apenas 0,2% (depois de ter chegado a cair mais de 3% durante a sessão).

O comunicado da Fosun foi publicado no mesmo dia em que a empresa prestou esclarecimentos adicionais aos seus accionistas sobre o investimento no BCP, através de mais 700 páginas, e quatro meses após o último grande reforço. Além de ser o maior accionista do BCP, a Fosun controla também a Fidelidade e o grupo Luz Saúde.

No caso da HNA, que terá em breve um representante seu no conselho de administração da TAP (por ligações a David Neelman, através da transportadora brasileira Azul, futura accionista da TAP), a empresa optou pelo silêncio. Desde 2015, a HNA já esteve envolvida em operações que, somadas, chegam aos 50 mil milhões de dólares (cerca de 45 mil milhões de euros), com destaque para o investimento no Deutsche Bank (onde é o maior accionista com perto de 10%).

Agora, as autoridades chinesas parecem querer indicar um abrandamento das compras no exterior, depois de estas terem, segundo a Reuters, atingido os 170 mil milhões de dólares no ano passado.  

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