Previsões que não irradiam felicidade

Portugal não sai bem na fotografia tirada pela Comissão Europeia. Mas nem tudo é mau.

Não é propriamente reconfortante olhar para os números da Comissão Europeia para a economia portuguesa. Os números das Previsões de Primavera para o défice, para o crescimento, para as exportações, para o consumo e para o investimento são sistematicamente piores do que as previsões do Governo. E até para o défice estrutural, que mede a correcção das contas ignorando o ciclo económico e as medidas temporárias, a Comissão está a prever uma deterioração, enquanto o Governo está a apontar para uma melhoria.

Claro que no meio de notícias tão pouco animadoras, há sempre quem prefira olhar para o copo meio cheio. É o caso de Marcelo Rebelo de Sousa, que, de Moçambique, veio dizer que se o valor do défice for de 2,7%, como prevê a Comissão, "é um número de que não [se recorda] há muito tempo em Portugal". Isto, apesar de as contas do Governo apontarem para uma meta bastante mais ambiciosa, de 2,2%. Marcelo tem razão numa coisa – já seria um grande feito o país conseguir, finalmente, colocar o défice abaixo do limiar dos 3% e é importante que a Comissão acredite e passe a mensagem de que tal possa acontecer.

Mas este brilharete pode não chegar. A Comissão já tem em mãos todos os números para poder decidir, no âmbito do procedimento por défices excessivos, se aplica ou não algum tipo de sanção por incumprimento das regras europeias. E os nossos argumentos de defesa são fracos, quer em relação ao historial, quer em relação à fragilidade das previsões. E se Portugal for alvo de uma sanção, mesmo que seja uma multa simbólica de zero euros, por ser inédita na União Europeia, pode comprometer, e de que maneira, a imagem do país no exterior. Mesmo que tenhamos a Espanha por companhia. Por isso convém ao país ser ambicioso não só nas metas que fixa, mas também ser credível no caminho para as atingir.

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