Preços em Luanda sobem antes das eleições

Preços de produtos como o feijão, o açúcar e o arroz dispararam na capital angolana. Nos últimos dias, um saco de arroz passou de 18 euros para 22,10 euros.

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LUSA/MANUEL DE ALMEIDA

Alguns produtos da cesta básica em Angola estão a inverter a tendência de queda nos preços que se verificava desde o início do ano e nos últimos dias voltaram a acelerar, influenciados pelas eleições gerais de 23 de Agosto.

A situação foi constatada pela agência Lusa numa ronda por feiras de Luanda, como o conhecido Mercado dos Congoleses, com os vendedores a confirmarem a subida dos preços, em grande medida face ao açambarcamento de produtos, com o aproximar das eleições.

Antónia da Costa vende naquele mercado há 28 anos e explica que a subida dos preços afecta produtos como feijão, arroz, açúcar, face, por sua vez, aos altos preços nos armazéns grossistas, nos últimos dias. Explica que o quilo de açúcar, que estava nos 200 kwanzas (um euro), é agora vendido a 250 kwanzas (1,30 euros), com o preço nos armazéns a disparar nos últimos dias, tal como o arroz, cujo saco grande passou de 3.500 kwanzas (18 euros) para 4.300 kwanzas (22,10 euros), em poucas semanas, e reclama ainda da falta de clientes.

"Está tudo caro de novo", conta aquela comerciante, de 45 anos, enquanto busca justificações da subida dos principais produtos da cesta básica, relacionando com o actual ambiente político que Angola vive, de eleições gerais, marcadas para 23 de Agosto, e hábitos de eleições passadas, de açambarcamento de produtos essenciais, por receio.

"Agora ninguém sabe se a subida dos preços tem a ver com as eleições, mas se for por causa das eleições então os preços tinham de baixar e não subir", atirou.

O mesmo retrato do ambiente de vendas no mercado dos Congoleses, na capital angolana, é também apresentado por Maria Adão, que vende naquele espaço há 23 anos, afirmando que os preços dos principais produtos estão a aumentar desde finais do mês de Julho. "Os preços subiram porque nos armazéns, onde compramos, também dispararam", disse, recordando que por estes dias comercializa o quilo de feijão ou de farinha a 500 kwanzas (2,60 euros), e que o litro de óleo passou de 500 para 700 kwanzas (3,60 euros).

Em ambiente de eleições, Maria Adão, de 60 anos, defende que os preços "deveriam baixar e não disparar", como está a acontecer. "Não sabemos se por terem medo que as coisas vão falhar", aponta. "O mercado está sem clientes porque preferem comprar os produtos na rua e dificilmente entram aqui para esta zona e as bancadas estão vazias, estou a vender fuba de bombom ao preço de 200 kwanzas o quilo e a de milho 300 kwanzas", explica ainda.

Sem clientes está também Luzia Bernardo, que condena a existência de mercados paralelos nos arredores daquela praça, justificando que por vezes passa dias sem nada vender. "O nosso grande problema é mesmo a falta de clientes", atirou a Luzia Bernardo, há mais de 40 anos no Mercado dos Congoleses.

Só entre Janeiro e Dezembro de 2016, os preços em Angola aumentaram 42%, devido à crise no país, tendência que estava em queda desde o início do ano e que agora volta a ser invertida. Angola vai realizar eleições gerais a 23 de Agosto, às quais concorrem o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Convergência Ampla de Salvação de Angola — Coligação Eleitoral (CASA-CE), Partido de Renovação Social (PRS), Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) e Aliança Patriótica Nacional (APN).

A Comissão Nacional Eleitoral de Angola constituiu 12.512 assembleias de voto, que incluem 25.873 mesas de voto, algumas a serem instaladas em escolas e em tendas por todo o país, com o escrutínio centralizado nas capitais de província e em Luanda, estando 9.317.294 eleitores em condições de votar.

A Constituição angolana aprovada em 2010 prevê a realização de eleições gerais a cada cinco anos, elegendo 130 deputados pelo círculo nacional e mais cinco deputados pelos círculos eleitorais de cada uma das 18 províncias do país (total de 90).

O cabeça de lista pelo círculo nacional do partido ou coligação de partidos mais votados é automaticamente eleito Presidente da República e chefe do executivo, conforme define a Constituição, moldes em que já decorreram as eleições gerais de 2012.

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