Portugueses deixam cada vez menos prémios de jogo por reclamar

Valor dos prémios caducados registado pela Santa Casa da Misericórdia desceu quase 6% em 2015. Raspadinha já distribui mais dinheiro aos apostadores do que o Euromilhões.

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Receitas da Raspadinha são maiores do que as do Euromilhões Nelson Garrido

Os portugueses não só estão a gastar mais dinheiro em jogos sociais do Estado, como deixam cada vez menos prémios por reclamar. De acordo com o relatório de contas da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), as vendas brutas dos jogos sociais atingiram em 2015 o maior valor de sempre e os resultados financeiros confirmam o que já se esperava: pela primeira vez a instituição ultrapassou a barreiras dos dois mil milhões de euros nas vendas dos seus jogos, onde se incluem o Euromilhões e a Raspadinha. Face a 2014, trata-se de um aumento de 19,1%. Ao mesmo tempo, o montante global de prémios distribuídos aos apostadores também aumentou para 1295 milhões de euros, mais 21,6%.

Ao aumento das receitas brutas e do dinheiro ganho pelos portugueses com as apostas sociais, junta-se uma redução dos prémios caducados. No ano passado ficaram por reclamar 8,6 milhões de euros, menos 5,9% do que em 2014, uma confirmação da “tendência para a sua redução”. Este valor corresponde aos prémios de jogo apurados depois de terminado o período de 90 dias que o apostador tem para exigir a sua recompensa. A SCML sublinha que “neste último ano, os prémios caducados representaram, em média, 0,7% dos prémios atribuídos, quando no ano anterior a sua representatividade era de 0,9%”. O montante reverte para as actividades de acção social da Misericórdia de Lisboa.

No ano passado, os portugueses que jogaram no Euromilhões ou na Lotaria, por exemplo, pagaram em imposto de selo um total de 81,9 milhões de euros, mais 28% em comparação com 2014. Esta evolução é explicada não só pelo aumento das vendas, mas também porque o ano foi “bastante favorável no que se refere aos montantes de prémios atribuídos em Portugal”. Dos 1295 milhões de euros arrecadados pelos apostadores, 53,4% referem-se à Raspadinha que, além de ter ultrapassado pela primeira vez o Euromilhões em receitas brutas, também distribuiu mais dinheiro aos jogadores. Este jogo, lançado em 1995, atribuiu em 2015 “os maiores prémios de sempre” no valor de 504 mil euros cada, no jogo “Mega Pé de Meia”, em que os vencedores recebem 3000 euros por mês durante 14 anos.

Mas em termos de valor individual, o Euromilhões continua a destacar-se, com cinco prémios atribuídos em Portugal num valor total de 320 milhões de euros. Um português que apostou dez euros ganhou mais de 163 milhões de euros, por exemplo. Desde que foi lançado, em 2004, e até ao final do ano passado, 58 primeiros prémios calharam a Portugal, que é o terceiro país da Europa com mais vencedores.

A estreia do Placard rendeu à SCML vendas brutas de 65,4 milhões de euros e o lançamento destas apostas desportivas à cota de base territorial acabou por “desacelerar” o “crescente domínio da lotaria instantânea”, a Raspadinha. Só em Dezembro, por exemplo, o Placard representou 10,3% das vendas. Nesta terça-feira, em conferência de imprensa, Pedro Santana Lopes, provedor da Santa Casa, garantiu que a instituição está a fazer “um esforço enorme” no que toca à fiscalização de apostas ilegais de menores e já decidiu extinguir quatro postos de mediação (locais que vendem os jogos sociais) “por denúncias comprovadas”, estando “outros a ser analisados”.

Dos 2240 milhões de euros facturados, 97% destinam-se aos prémios a entregar aos vencedores, aos mediadores que vendem os jogos sociais, ao imposto de selo e outras deduções legais, ou ainda aos patrocínios e investimento em promoção do jogo responsável. Mais de 607 milhões financiaram o que a SCML chama de “boas causas”, que incluem os apoios que a instituição presta na saúde, a idoso ou famílias. “As pessoas pensam que a instituição é rica. Não. Quase tudo é devolvido”, disse Pedro Santana Lopes.

A SCML, que tem nos jogos sociais a sua principal fonte de receita, também conseguiu aumentar os lucros em 2015 de 538 milhões para 601 milhões de euros.

À espera dos novos jogos

Além das apostas desportivas, a Santa Casa vai passar a explorar, em regime de exclusividade, as apostas em corridas de cavalos mas ainda está a aguardar por “novidades do poder central” sobre este assunto. Questionado pelo PÚBLICO, Pedro Santana Lopes deu conta de já ter sido contactado por “investidores internacionais” que solicitaram informações à SCML. “Nós não vamos explorar os hipódromos mas a rede física” das apostas hípicas”, esclareceu o responsável, sublinhando que os investidores (da zona do Algarve e da região de Lisboa) “estão ávidos em começar a actividade”. Este novo jogo, diz, “está mais atrasado do que o do jogo online”.

Quanto ao jogo online, depois de no final do ano a Santa Casa ter decidido não avançar, a instituição voltou agora a admitir a possibilidade a candidatura a uma licença a este negócio, legal desde o Verão do ano passado. 

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