Portugal volta a depender mais da Europa para exportar

Nova administração da AICEP assumiu funções e promete novo plano estratégico “para breve”

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O novo presidente da AICEP, Luís Castro Henriques, funções esta segunda-feira Rui Gaudêncio

A crise que começou a varrer a Europa em 2010 mostrou que Portugal precisava de exportar mais para o resto do mundo. No entanto, passados seis anos, entre recessões e crescimentos ténues, verifica-se que pouco mudou: em 2016, tal como em 2010, os mercados intra-União Euopeia tiveram um peso de 75% no total das vendas ao exterior, ficando o resto do mundo com 25%. Isto com novos recordes nas exportações, que passaram a barreira dos 50 mil milhões de euros no ano passado (contra 36.760 milhões em 2010).

Esta é uma das realidades com as quais o novo presidente da AICEP, Luís Castro Henriques, que assumiu funções esta segunda-feira, se depara, e com a qual terá de lidar.

Em 2013, quando a troika de credores estava ainda presente em Portugal, os mercados não europeus chegaram a valer 30%. No entanto, a quebra do preço do petróleo atingiu Angola em cheio, e houve um forte recuo nas vendas para este país: só entre 2015 e 2016 a queda foi de 600 milhões de euros, com muitas micro e PME a terem este mercado como destino único das suas exportações.

Ao mesmo tempo, e depois da AICEP, o organismo público que promove as exportações e investimentos, tentar diminuir o peso relativo de cada país, Espanha não larga o seu lugar de destaque, com 26% do total das vendas. Num cenário de queda de 10% das vendas para Espanha (muito inferior aos quase 30% de Angola), tal representaria menos 1300 milhões de euros de vendas para as empresas nacionais.

No discurso de tomada de posse, Luís Castro Henriques sublinhou que a AICEP pretende “captar mais e melhor investimento” e “continuar a potenciar as exportações, apostando na sua diversificação e a acrescentando valor”. Como, o sucessor de Miguel Frasquilho, e que já fazia farte da anterior administração, nada disse. Mais informação, espera-se, estará no plano estratégico, que já deveria ser conhecido, e cuja apresentação o gestor público prometeu para breve. Questionado pelo PÚBLICO sobre o que irá distinguir o novo plano estratégico do anterior, Castro Henriques afirmou, por escrito, que a AICEP vai “construir sobre o que foi concretizado nos últimos três anos e identificar novas oportunidades” na actual conjuntura.

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Apesar do choque provocado por Angola, que caiu da posição de 5º maior mercado para 8º, os últimos quatro meses já dão um cenário menos negativo, com taxas de crescimento onde se destacam os produtos agrícolas, máquinas e aparelhos, alimentos e químicos.

Sombras no horizonte

Para este ano, a expectativa da AICEP é a de continuar a bater recordes de exportações (de bens, mas também de serviços, tendo estes últimos a missão de fazer com que a balança comercial seja positiva), mas há sombras no horizonte. A mais óbvia, mas mesmo assim com tons incertos, é a do “Brexit”, tema destacado pelo ministro dos Negócios Estrangeiro, Augusto Santos Silva, na cerimónia desta segunda-feira, e que estará inevitavelmente no radar de Castro Henriques, coadjuvado por António Carlos Silva, João Paulo Salazar Dias, Maria Madalena de Sousa Monteiro Oliveira e Silva e Maria Manuel Prado de Matos Aires Serrano.

 A esta problemática soma-se o receio de medidas proteccionistas por parte dos EUA, com efeitos a nível mundial, já para não falar do enorme impacto negativo que acontecerá caso a Frente Nacional ganhe as eleições francesas. Depois, há que contar com o efeito das presidenciais em Angola (com saída de Eduardo dos Santos do cargo) e verificar até que ponto a recuperação das vendas, mais visível em Fevereiro, é sustentável.

Uma segunda tarefa do novo presidente é a da captação, e também retenção, do investimento, área à qual estava mais ligado. Aqui, depois do mau ano vivido em 2016, com uma variação negativa no investimento (com uma paragem a fundo do investimento público), a AICEP, como destacou Castro Henriques, vai “reforçar ainda mais o posicionamento de Portugal nos radares dos investidores internacionais”. Para já, segundo o secretário de Estado da Internacionalização, Jorge Costa Oliveira, estão na calha, e na mira da AICEP, projectos cujo valor ascende aos mil milhões de euros. Aqui, há ainda que contar com uma ligeira recuperação do investimento público, e a concretização de projectos com fundos europeus.

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