Portugal entre os países que mais ganharam com a queda do preço do petróleo

Estudo do FMI diz que, sem descida de preços do petróleo, a economia portuguesa poderia não ter evitado a recessão em 2015.

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A partir da segunda metade de 2014, o preço do barril de petróleo caiu de valores acima de 100 dólares para preços abaixo de 50 dólares ANDY BUCHANAN/REUTERS

Sem a queda registada no preço do petróleo nos mercados internacionais, a economia portuguesa poderia ter caído em 2015 novamente numa recessão, calcula um estudo publicado na semana passada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), que coloca Portugal como um dos países que mais beneficiaram com o embaratecimento dos custos da energia registado a partir de 2014.

O estudo, intitulado “Taking Stock: Who Benefited from the Oil Price Shocks?”, simula o que teria acontecido em 71 economias do planeta – representando 92,8% do PIB mundial – caso não se tivessem registado as mudanças abruptas no mercado petrolífero que, a partir da segunda metade de 2014, fizeram cair o preço do barril de petróleo de valores acima de 100 dólares para valores abaixo de 50 dólares.

Como seria de esperar, na simulação dos dois economistas autores do estudo, existe uma distinção clara entre os efeitos sentidos pelos países exportadores e os países importadores de petróleo. Os primeiros perderam com a descida de preços, os segundos ganharam.

Portugal surge no estudo como um dos países que mais se destacaram entre os vencedores. Em 2014, no cenário em que o preço do petróleo não desce, a economia portuguesa cresceria menos 0,3 pontos percentuais do que os 0,9% registados na realidade. Esta variação é a nona mais elevada entre os 71 países analisados.

Em 2015, os efeitos são substancialmente maiores, nomeadamente porque a descida dos preços fez-se sentir na totalidade do ano. De acordo com o estudo, se o petróleo se tivesse mantido a preços elevados nesse período, a economia portuguesa teria crescido menos 1,66 pontos percentuais do que o efectivamente registado. Tal lançaria Portugal para mais um ano de evolução negativa do PIB, já que o crescimento conseguido em 2015 foi de 1,6%.

Em 2015, as simulações colocam Portugal como o terceiro país (num total de 71) a registar um benefício mais acentuado com a descida dos preços do petróleo.

Com ganhos mais acentuados na taxa de crescimento, surgem apenas a Irlanda e o Luxemburgo, outros países que são importadores líquidos de petróleo. Outros países europeus como a Espanha, Itália ou Grécia estão também entre os mais beneficiados.

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No pólo oposto, o país que, em 2015, mais perdeu na sua taxa de crescimento por causa da descida dos preços do petróleo foi a Ucrânia, surgindo em lugares também muito negativos grandes economias como a Rússia ou Brasil. Angola não faz parte das 71 economias analisadas pelo estudo.

A nível mundial, os autores chegam à conclusão que, ao contrário daquilo que é habitualmente pensado, a descida do preço do petróleo não resultou desta vez num maior ritmo de crescimento económico. Os benefícios nas economia classificadas como avançadas foram moderados, ao passo que nos países emergentes se assistiu a um impacto bastante negativo.

Em média, calcula o estudo, as 71 economias analisadas apresentaram em 2015, por causa da descida dos preços, uma taxa de crescimento económico inferior em 0,2 pontos percentuais do que aqueles que se teria registado sem qualquer tipo de mudança nos preços.

Para Portugal, o benefício sentido em 2014 e principalmente 2015 é o sintoma da persistência de um forte desequilíbrio da balança com o exterior no que diz respeito aos produtos petrolíferos. O país, não sendo um produtor desta matéria prima, tem uma economia relativamente dependente deste bem energético.

Sendo assim, da mesma forma que a variação do PIB saiu beneficiada com a descida dos preços do petróleo, também poderá vir a sofrer com uma subida dos preços.

Nos mercados internacionais, depois de ter caída para a casa dos 30 dólares por barril em Fevereiro de 2016, os preços do petróleo registaram uma ligeira subida para valores ligeiramente acima dos 55 dólares, em resultado dos sinais de aceleração em algumas economia mundiais (o que fortalece as perspectivas de procura) e do acerto de estratégias entre os países produtores (o que limita a oferta). Nas últimas semanas, verificou-se uma correcção para próximo dos 50 dólares por barril.

A análise do efeito da variação dos preços do petróleo na economia portuguesa durante os últimos anos tem vindo a ser feita por diversas entidades. Para além do efeito positivo que é possível observar por conta da redução dos preços de um bem de que o país é um importante importador líquido, tem-se vindo a dar conta nos últimos anos de um efeito negativo indirecto. É que, ao caírem os preços do petróleo, a economia angolana sofre de forma muito significativa, reduzindo as compras de bens que faz a Portugal. 

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