Portugal ainda fragilizado enfrenta nova crise nos mercados

Bolsa de Lisboa caiu quase 7% e chegou a níveis de 1996. Juros da dívida subiram ligeiramente.

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Mário centeno diz que Portugal tem almofada financeira para enfrentar crise

Com poucas certezas em relação à força da sua recuperação económica e ainda a ter de enfrentar as dúvidas dos mercados em relação à saúde das suas finanças públicas, Portugal vê-se agora a braços com mais uma convulsão nos mercados internacionais.

No início do ano, quando nos mercados o clima era de nervosismo por causa da instabilidade na China, Portugal foi um dos países mais afectados, com quedas acentuadas na bolsa e com uma subida das taxas de juro da dívida maior do que a dos outros países periféricos da zona euro. Agora, com os mercados internacionais novamente em polvorosa, Portugal é novamente um dos países mais fragilizados.

Ainda assim, na primeira sessão do dia a seguir ao voto no “Brexit”, Portugal não se destacou particularmente nos mercados. Na bolsa de Lisboa, a perda foi de 6,99%, com o PSI 20 a fechar nos 4.362,11 pontos, chegando aos níveis de 1996. A queda foi semelhante à registada na Alemanha e a França, mas ficou abaixo da descida superior a 12% que se verificou em Espanha e Itália.

A banca fez-se notar nas perdas. O BCP, que iniciou a sessão a perder mais de 20% terminou a negociação a cair 12,2%, para 1,8 cêntimos, o BPI perdeu 4,16%, para 1,08 euros, e os CTT, que agora também estão expostos ao sector financeiro, recuaram 10,77%, para 6,93 euros. Num comunicado emitido esta sexta-feira, a Associação Portuguesa de Bancos lamentou o “Brexit”, alertando que não poderá “deixar de provocar forte volatilidade nos mercados”

 Outros títulos importantes também caíram. A EDP também fechou a sessão a desvalorizar mais de 10% nos 2,635 euros, assim como a NOS, que caiu 10,53%, para 5,43 euros, e a Sonae (dona do PÚBLICO), que recuou 10,27%, para 0,734 euros.

Ao PÚBLICO, a presidente da administração da Euronext Lisboa, Maria João Carioca, não arriscou fazer previsões sobre a evolução da praça portuguesa no médio-longo prazo. “Não consigo ter a audácia de fazer perspectivas muito fechadas nesta altura”, afirmou a gestora, vincando ser “muito cedo” para saber se o PSI-20 pode ainda recupera em relação ao ano passado (desde o início do ano, o PSI-20 já acumula uma desvalorização de 18%.  “A nossa principal preocupação será que a incerteza se possa ir clarificando quanto aos próximos passos do processo", de modo a que "os investimentos e agentes de mercado possam ir convergindo para uma situação de normalidade”, afirmou.

No mercado secundário de dívida pública, que serve muitas vezes de barómetro para medir a confiança dos investidores nas finanças públicas portuguesas, as taxas da dívida portuguesa a dez anos subiram 27 pontos base, para 3,38%, um agravamento ligeiro, mas que ainda assim foi mais forte do que o verificado em Itália e Espanha, por exemplo. A taxa da dívida alemã a dez anos, que é vista pelos investidores como um activo sem risco, caiu para -0,04%.

Numa entrevista à TSF transmitida esta sexta-feira, Mário Centeno defendeu que Portugal está preparado para enfrentar um cenário de instabilidade nos mercados, afirmando que o tesouro conta com “uma almofada financeira que cobre aproximadamente metade das necessidades de financiamento do próximo ano". Com Pedro Crisóstomo

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