Portos nacionais caem dez lugares no ranking de competitividade

Comunidades portuárias assumem objectivo de chegar a 200 milhões de toneladas de carga em 2040. E defendem autonomia de gestão e mandatos de dez anos para as administrações portuárias.

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A queda no ranking foi mais pronunciada na área da competência logística Miguel Manso

Em apenas um ano, Portugal caiu dez posições no ranking em que o Banco Mundial analisa o desempenho logístico de 160 países. Passou do 26º para o 36º lugar, entre 2014 e 2015 (o pior resultado de sempre desde 2010, ano em que este relatório começou a ser publicado). A justificação para esta queda dos portos nacionais, que estiveram sempre entre os 30 melhores, não estará tanto na degradação da qualidade das suas infra-estruturas, mas antes no facto de nos últimos anos alguns países terem vindo a afirmar-se, até de forma algo inesperada, no contexto global, como é o caso dos Emirados Árabes Unidos, Qatar, Canadá, República Checa, Hungria ou Lituânia.

Comparando com 2014, a análise ao desempenho nos seis indicadores usados para elaborar o ranking revela que Portugal perdeu terreno em quase todos eles. À excepção das grandes melhorias registadas no tempo em espera dos navios, em que Portugal passou da 35ª posição a nível global para a 27ª, em todas as outras áreas o país perdeu (muito) terreno. Por exemplo, no índice que mede o acompanhamento das cargas caiu nove posições, ficando em 2016 no 29º lugar. Mas há outros indicadores em que queda foi ainda mais pronunciada: na qualidade das infra-estruturas passou de 31º a 49º; na competência logística desceu de 20º para 47º. Foi também para esta posição que caiu no índice que compara os envios internacionais, quando garantia a 29ª em 2014.

O ranking do Banco Mundial coloca em primeiro lugar a Alemanha, tal como acontecia em 2014. Em segundo surge o Luxemburgo, que escalou seis posições, roubando o estatuto à Holanda, que passou a quarto. Como terceiro classificado aparece a Suécia, que foi sexta no índice anterior.

Os resultados do Logistics and Performance Index (LPI) surpreenderam, inclusive, as comunidade portuárias do continente, que entregaram à ministra do Mar um estudo em que se propunham a utilizar estes mesmos indicadores para monitorizar a performance dos portos nacionais e contribuir para a sua melhoria contínua. Estas comunidades, que integram todas as entidades públicas e privadas que têm interesses directos nos portos, acreditam que é possível mais do que duplicar o volume de toneladas movimentadas até 2040 e passar das actuais 87 milhões toneladas contabilizadas pela Autoridade da Mobilidade e dos Transportes (AMT) em 2015 para 200 milhões. “Parece-nos um patamar perfeitamente exequível. Basta manter uma taxa de crescimento média anual de 3,5%”, defende Miguel Marques, consultor da PwC e um dos autores do estudo “Portugal – o Porto Europeu do Oceano Atlântico”, divulgado publicamente no último congresso da Agepor – Associaão dos Agentes de Navegação, na semana passada.

Mais tempo e mais poder

Para atingir esta meta, as comunidades portuárias alegam que será necessário não apenas intervir no hardware (nomeadamente nas acessibilidades e nos equipamentos) e no software (investimentos em novas tecnologias) dos portos, mas também mudar a organização portuária. E isso poderá passar por uma maior longevidade nos ciclos de governação dos portos.

De acordo com as propostas do estudo, o Estado “deve garantir a estabilidade da gestão nas administrações portuária vinculando os seus conselhos de administração a mandatos de dez anos” e as “administrações portuárias deveriam ter a obrigação de construir o plano estratégico do seu porto, discutido de forma ampla no meio da respectiva comunidade portuária, e executá-lo”. Para tal, argumentam, “as autoridades portuárias devem dispor de capacidade de decisão e de capacidade financeira para garantir o bom funcionamento do porto na dupla perspectiva dos interesses público e privado”. Estas sugestões já foram entregues à ministra Ana Paula Vitorino, que prometeu para o final do primeiro semestre deste ano uma série de decisões para o sector, em vários domínios. O PÚBLICO tentou ouvir a governante sobre esta matéria, mas não teve sucesso.

Um novo fôlego ao sector

A surpresa trazida pela queda abrupta no ranking mundial merece, como resposta, o apelo de que é necessário “intervir já”, como resumiu Vieira dos Santos, presidente da Comunidade Portuária de Leixões, que defende que Portugal deve voltar a assumir uma posição hegemónica no Mediterrâneo e no canal da Mancha “e dar mais importância à fachada Atlântico em vez de continuar a olhar para a China”. “Portugal ainda tem ainda um caminho a percorrer para a excelência de modo a reforçar a sua posição no mapa mundial de portos”, defende Vieira dos Santos, que considera também ser importante olhar para a “desmaritimização” da logística e usar as novas tecnologias para acrescentar valor à movimentação da carga.

“Portugal detém um dos sistemas mais avançados a nível europeu em termos de tecnologias de informação e comunicação aplicadas ao sector dos portos”, lê-se no estudo, em referência a iniciativas como a Janela Única Portuária, que já está a ser aplicada numa grande parte dos portos, e a Janela Única Logística, que ainda está a ser trabalhada.

Uma das recomendações sugeridas como “fundamental” no estudo é monitorizar o desempenho logístico dos portos de Portugal.  Um trabalho que as comunidades portuárias se propõem a fazer, aplicando de forma permanente os critérios de análise que são usados no  LPI.

As comunidades portuárias querem avaliar a posição relativa de Portugal tomando como referência os países como a Bélgica, a Holanda e a Alemanha, e também os portos espanhóis, não pelo seu desempenho, mas pela pertença ao mesmo espaço logístico, a Península Ibérica. O índice de Satisfação do Mercado Portuário, em Portugal, deverá ser o resultado combinado da redução do tempo de passagem dos navios e das cargas pelos portos e da redução do custo dessa mesma passagem, estimuladas por ganhos progressivos de eficiência e de eficácia.

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