Preço do petróleo condiciona ritmo da prospecção em Portugal

Há evidências desta matéria-prima no país e há interessados, mas o ritmo da pesquisa vai depender dos preços. Repsol vai conseguir adiamento da primeira perfuração de gás no Algarve.

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Paulo Carmona, presidente da ENMC, diz que há uma empresa internacional interessada na prospecção de petróleo no Algarve Daniel Rocha

Há 300 milhões de anos, quando existia um grande continente que unia a África e a Europa às Américas, Portugal estava encostado àquilo que é hoje o Canadá. Do lado de lá do Atlântico já se encontraram reservas equivalentes a três mil milhões de barris de petróleo e a convicção é que deste lado do oceano, nas águas profundas e ultra-profundas da costa portuguesa, há potencial para descobertas futuras. Essa foi uma das mensagens transmitidas por vários intervenientes na conferência sobre a exploração de petróleo em Portugal, organizada pela Entidade Nacional do Mercado dos Combustíveis (ENMC). Outra foi que o preço do petróleo vai ditar a velocidade com que estes projectos irão avançar nos próximos anos, pois põe em causa a sua rentabilidade.

A espanhola Repsol, que lidera um consórcio (onde está também a Partex da Fundação Calouste Gulbenkian) envolvido em dois projectos de prospecção de gás natural em águas ultra-profundas no Algarve, tinha agendado para o próximo mês a perfuração do primeiro poço. No entanto, num cenário de descida das cotações, a petrolífera acabou por pedir ao Governo o adiamento deste investimento de mais de 50 milhões de dólares, optando por prolongar por mais um ano a fase de estudo. A ENMC já enviou o parecer sobre o pedido de adiamento ao Governo, e o sentido é favorável, mediante a aplicação de algumas condições, disse o presidente da entidade, Paulo Carmona, à margem da conferência.

Podem as cotações retirar o interesse aos projectos portugueses, quis saber, da assistência, o secretário-geral da associação de empresas petrolíferas (Apetro), António Comprido. “Faremos o esforço que for necessário, mas a expectativa é que os preços vão ter de subir um dia”, respondeu o representante da Repsol na conferência, Álvaro Arnáiz. O responsável espanhol adiantou também que a empresa “está a procurar novos parceiros para dividir o risco” dos projectos na costa algarvia.

Já Luís Guerreiro, da Partex, recordou que “tem de haver uma adaptação das empresas petrolíferas, mas também das empresas que lhes prestam serviços”, pois os custos de perfuração não podem ser semelhantes ao que eram quando o preço do petróleo estava mais alto (em Julho de 2014 chegou a superar os 100 dólares e desde então não voltou a recuperar). Além do Algarve, a Repsol tem também em curso trabalhos de pesquisa na bacia de Peniche, em associação com a Galp, a Kosmos e a Partex.

“Isto funciona por ciclos, agora estamos mais numa fase de avaliação que de perfuração”, disse o representante da Galp, Roland Muggli, acrescentando que deve ser dada às companhias “a oportunidade de estudar mais sem fazer o poço”.

ENI confirma perfuração
Já a ENI, que está com a Galp na prospecção de petróleo em águas ultra-profundas no Alentejo, adiantou que prevê perfurar o primeiro poço em 2016, a cerca de 80 quilómetros a sul de Sines. “Se olharmos para o outro lado do Atlântico há hipóteses de termos aqui um sistema petrolífero interessante”, assegurou Franco Conticini, o representante da empresa italiana. Cerca de 80% das descobertas mais importantes dos últimos anos deram-se nas águas ultra-profundas, lembrou o responsável da empresa italiana, destacando a extensa dimensão de costa portuguesa.

É precisamente para as águas muito profundas do Algarve que o Governo está a preparar o lançamento de um concurso público internacional que deverá avançar até ao final do ano. "Houve uma empresa internacional que manifestou interesse e por isso optámos por lançar um concurso", explicou Paulo Carmona. Na bacia do Porto também vão ser abertos concursos, para quatro blocos em águas pouco profundas e outros dois em águas profundas. O critério de escolha em todos estes concursos será o valor das propostas, adiantou Carmona.

Apesar de reconhecer que os operadores internacionais estão a retrair os seus investimentos, Paulo Carmona referiu que Portugal terá sempre a ganhar com a abertura dos concursos: "Se não tivermos candidatos, conseguimos pelo menos projectar o nome de Portugal", neste sector, explicou.

Se houver interessados e encontrarem petróleo “ganhamos todos”, caso contrário, o espólio de informação recolhida (todo os estudos, incluindo o que se chamam as “sísmicas”, pesquisas que permitem fazer radiografias tridimensionais da estrutura do subsolo) reverte para o Estado. No caso das águas profundas e ultra-profundas de Portugal, ainda há um grande desconhecimento, adiantou.

Segundo os dados da ENMC, entre 2007 e 2013, os projectos de pesquisa e prospecção de petróleo em Portugal (em terra e no oceano) representaram um investimento em torno de 264 milhões de dólares (cerca de 237 milhões de euros). A grande fatia do investimento foi na bacia Lusitânica (102 milhões de dólares), onde estão a maioria dos projectos de prospecção em terra, seguindo-se Peniche (77 milhões), Alentejo (63 milhões) e Algarve (22 milhões).

Para os últimos dois anos ainda não há valores fechados, mas houve "grandes investimentos" em 2014 no Alentejo e no Algarve e, este ano, investimentos muito significativos em Peniche, adiantou Paulo Carmona.

Segundo a ENMC, em Portugal realizaram-se 174 sondagens de pesquisa, das quais 117 revelaram indícios de petróleo. Houve 27 amostras em teste, mas, até à data, nenhuma descoberta que desse origem à exploração comercial.

 

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