Aeroporto de Beja é como “quem tem uma piscina mas não a utiliza”

A “diminuta procura” vocacionou a infraestrutura para operações como a manutenção, mas mesmo isso está a tardar.

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Aeroporto foi inaugurado em Abril de 2011 Pedro Cunha

As Orientações Estratégicas para o Sistema Aeroportuário Português, apresentadas em Julho de 2006 pelo então ministro das Obras Públicas, Mário Lino, previam que o aeroporto de Beja movimentasse, em 2015, cerca de meio milhão de passageiros. Entre 2011 e 2014, nos primeiros três anos de vida, o aeroporto de Beja movimentou 6624 passageiros e realizou 245 movimentos de aeronaves, a maioria de operações “charter”.  

A previsão falhou e hoje, os aviões não sobrevoam o aglomerado urbano de Beja, quando, a uma dezena de quilómetros, está uma base militar e um aeroporto civil. O único ruído é o dos cinco aviões P-3C Cup+Orion que intervêm na vigilância marítima, na componente civil, mas aviões de passageiros raramente se ouvem ou observam.

José Freitas, investigador na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, refere no estudo que elaborou: “O Aeroporto de Beja e competitividade do Baixo Alentejo: o caso das potencialidades turísticas”, que as “dinâmicas da região não estão ao nível de maturidade que possam simultaneamente beneficiar e ser beneficiadas pela existência do Aeroporto de Beja”. E acrescenta: “Em termos de transporte de passageiros, não existe escala urbana para a sua viabilização”, enquanto o tráfego associado ao turismo, “apresenta um nível pouco expressivo” sintetiza o investigador.

E mesmo as Orientações Estratégicas para o Sistema Aeroportuário Português, apesar de avançarem com um número de passageiros tão significativo para 2015, concluíam que o projecto aeroportuário em Beja” tem um potencial reduzido” e que só o turismo lhe dará algum alento, mesmo assim a médio longo prazo.

Este cenário não se concretizou. Os inúmeros empreendimentos turísticos que durante o Governo de José Sócrates, foram anunciados para Alqueva, ficaram pelo caminho e a ANA Aeroportos de Portugal foi obrigada, em meados de 2016, a repensar a actividade no aeroporto de Beja, confrontada com “diminuta procura” da aviação comercial. A infra-estrutura teria de ser dimensionada para operações como o desmantelamento, manutenção e estacionamento de aviões, alternativa que não se está a revelar promissora.

Para além do estacionamento ocasional de aeronaves das companhias aérea Hi Fly, euroAtlantic airways e SATA Azores Airlines, só se observam voos de executivos que, na sua maioria, chegam à região para caçar.

O autarca de Beja, João Rocha, compara a condição a que foi votado o aeroporto de Beja à de “quem tem uma piscina mas não a utiliza” frisando que o seu aproveitamento “está muito aquém do seu potencial.”

Há vários meses que mantém um contencioso com diversos ministérios pelo atraso em ver aprovado um projecto da AeroNeo formalizado em Julho de 2016, que visa a construção e exploração de uma unidade industrial, destinada à manutenção, desmantelamento e certificação de componentes recuperáveis de aeronaves.

João Rocha aguarda que, a qualquer momento, o Conselho de Ministros aprove a instalação de um equipamento que pode significar “o arranque de um cluster aeronáutico” em Beja, “um polo agregador de outros investimentos que permitam dar vida à unidade aeroportuária. Mas para que um tal desiderato seja realizável o autarca chama a atenção do Governo para a urgência em concluir as obras do IP8 e a electrificação do troço de caminho-de-ferro entre Casa Branca e Beja. Alqueva e o escoamento de produtos trabalhados nas agro-indústrias regionais é outra das valências que pode vir a viabilizar o aeroporto de Beja, e acabem os remoques sobre uma infra-estrutura, que, pelas contas feitas pelo anterior primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, custou cerca de 50 milhões de euros.

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