Paciência, um pouco mais de paciência

Boas notícias: a DBRS manteve a nota de Portugal acima do nível da água. Más notícias: isso já não nos chega para nada. 

Boas notícias: a nota que a agência de rating ontem publicou não foi um balde de água fria, porque, não havendo ainda uma mudança de ciclo, não havia essa expectativa. Más notícias: só vamos ter uma mudança de ciclo quando as agências de rating mudarem a nossa nota.

É neste ciclo vicioso que Portugal está desde 2011, quando Portugal perdeu acesso a financiamento externo. Era bom que fosse essa a primeira nota que tirássemos deste vai-não-vai em que estamos agora: a credibilidade da República é muito fácil de perder e muito difícil de recuperar. O lembrete deve servir-nos hoje, para perceber os contrangimentos de quem governa e tem de tomar opções, mas sobretudo para o futuro, quando eventualmente o rating recuperar.

Mas isto já não diz tudo sobre o tal ciclo vicioso em que estamos. A verdade é que, há seis meses, a mesma DBRS anotava seis factores de risco para não mudar a avaliação que faz de Portugal: o da política orçamental; o da dívida pública; o do desempenho da economia; o da estabilidade financeira; o da procura externa (ou seja, da competitividade); e o do cenário político. 

Passado este semestre é justo dizer que Portugal deu bons argumentos à agência em metade desses pontos: o défice foi cumprido, a economia aqueceu, a banca está mais estável e a estabilidade política está assegurada. Quanto aos restantes, nada piorou – os passos serão tímidos, quando não contestáveis, mas é evidente para qualquer economista que problemas estruturais como a dívida alta, o crédito malparado dos bancos e a competitividade da economia não se resolvem do dia para a noite.

Chegados aqui, impõe-se uma pergunta: quem vem primeiro, o ovo, ou a galinha? Explico melhor: sabendo as agências de notação que Portugal precisa de ver melhorado o seu rating para poder criar um ciclo virtuoso (baixando os custos de financiamento da economia), de que mais precisam elas para dar um sinal de confiança a um país que está a recuperar, devagar mas solidamente, desde o resgate de 2011?

Diz-nos o presidente Marcelo, provavelmente com razão, que não há drama, que não era expectável uma subida da nossa nota antes do Verão, aguardando as agências que Portugal saia do procedimento por défice excessivo, a tal zona vermelha da união monetária. 

Diz-nos, porém, a DBRS, no final da avaliação de ontem, que as condições para uma subida do rating permanecem iguais: “Provar-se que as melhorias das finanças públicas são duradouras e sustentáveis [e haver um] fortalecimento das perspectivas de crescimento no médio prazo.” E acrescenta que, pelo contrário, se mantém o risco de uma descida, caso se verifique “um enfraquecimento do compromisso com políticas económicas sustentáveis ou uma deterioração da dinâmica da dívida pública”.

Tenhamos, pois, um pouco mais de paciência. Pelo menos a DBRS, que nos deu muita da sua nos últimos anos, merece-nos agora esse crédito.

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