Ongoing aponta o dedo a Zeinal Bava pelos investimentos na Rioforte

Acções da PT atingiram novo mínimo histórico abaixo de 70 cêntimos no dia seguinte à assembleia geral.

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PT SGPS comprometeu-se a divulgar ao mercado pareceres contra e a favor da fusão com a Oi Enric Vives-Rubio

No final da reunião de accionistas que adiou a decisão da venda da PT Portugal à Altice para a próxima semana, Rafael Mora, administrador da PT SGPS, apontou o dedo a Zeinal Bava na realização dos investimentos ruinosos de 900 milhões de euros na Rioforte. Foi junto a jornalistas e alguns accionistas que lamentavam “a burla” de que foram alvo no negócio da fusão PT/Oi que Rafael Mora, representante da Ongoing na PT, afirmou que “se Bava não sabia, devia saber” dos investimentos na Rioforte.

Dizendo limitar-se “a ler os factos” e apoiando-se no relatório de auditoria da PwC sobre os investimentos da PT no Grupo Espírito Santo (GES), Rafael Mora sublinhou que a renovação dos investimentos em papel comercial da Rioforte foi em Abril, data em que a responsabilidade pela tesouraria centralizada do grupo PT já era da PT Portugal, presidida então por Zeinal Bava, que era simultaneamente presidente da Oi. “Não há nenhum documento que diga que o Bava autorizou a renovação. Mas há um facto que é muito claro: a 15 de Abril a decisão foi tomada pela PT Portugal, que tinha um conselho, um presidente e um administrador financeiro. E o que a auditoria diz é que se não sabia, devia saber”, afirmou Rafael Mora.

Rafael Mora, que tal como o PÚBLICO noticiou, mudou num mês de opinião sobre o grau de conhecimento da Oi nos investimentos da Rioforte, disse que foram estas conclusões da auditoria que o esclareceram: “Percebi que os senhores brasileiros tiveram de pagar a Rioforte”. E mais uma vez, acusou Bava: “Parto da premissa que aconteceu lá o que aconteceu cá, o Bava tinha que saber e se calhar os accionistas não sabiam”.

O responsável da Ongoing (segunda maior accionista da PT SGPS, com 10,05% do capital e 7,5% dos direitos de voto) reportou-se ainda à auditoria para explicar que a PT Portugal, por ter renovado os investimentos na Rioforte, ficou sem dinheiro suficiente para entrar no aumento de capital da Oi (em Maio) e pediu empréstimos de curto prazo, no total de 855 milhões de euros, ao BES (400 milhões), Caixa (155 milhões) e a um sindicato bancário internacional (300 milhões), para poder realizar a operação de 1550 milhões.

Nesse mesmo mês, a Oi (que entretanto recebeu a PT Portugal) realizou por seu turno um aumento de capital de 1250 milhões de euros na PT Portugal, que teriam a finalidade de pagar 500 milhões de dívidas de curto prazo e 750 milhões de euros de obrigações convertíveis, que venciam no final de Agosto. Mas, segundo Mora, “os gestores da PT gastaram tudo a pagar a dívida de curto prazo” - porque os 855 milhões levantados para o aumento de capital venciam no final de Maio - e depois “ficaram calados”.

E por isso, quando "rebentou o escândalo da Rioforte", chegou-se à conclusão que não havia dinheiro para reembolsar a emissão de obrigações convertíveis e teve de se marcar “um conselho de administração de urgência na Oi e fazer-se um segundo aumento de capital de 750 milhões de euros” na PT Portugal, afirmou Rafael Mora.

Se em tempos a Oi terá sido obrigada a injectar dinheiro na PT Portugal, a venda desta empresa à Altice parece ser agora a única tábua de salvação para a operadora brasileira, que tem às costas uma dívida de pelo menos 15 mil milhões de euros. E o facto de assembleia geral da PT SGPS ter posto a decisão em “banho maria” pesou como uma pedra na cotação, empurrando os ADR da Oi (os títulos cotados em Nova Iorque) para uma queda de 13% na segunda-feira.

As acções da PT SGPS (que tem como único activo a posição accionista na Oi) reagiram no mesmo sentido nesta terça-feira. No regresso à negociação, depois de a CMVM ter levantado a suspensão de dois dias, os títulos chegaram a cair 12% e bateram num novo mínimo histórico, negociando nos 62,9 cêntimos. Fecharam no entanto a valer 70 cêntimos (a cair 2,37%) graças à correcção das acções da Oi, já que a PT SGPS “não faz mais que seguir o comportamento da Oi”, disse ao PÚBLICO Steven Santos, gestor da XTB. “O impasse” quanto à decisão sobre a venda à Altice “tem tudo para continuar a prejudicar a Oi e por conseguinte a PT SGPS” nos próximos dias, acrescentou.

Também Gualter Pacheco, trader da GoBulling, no Porto, entende que “a incerteza” sobre o negócio vai “continuar a afastar” investidores da PT SGPS. Isso e o facto de os investidores ao entrarem na PT SGPS saberem que “estão a entrar no mercado brasileiro, que não lhes diz muito”. Mais que a “pressão vendedora sobre os títulos que houve nos últimos meses”, o que há neste momento “é falta de interesse comprador”, afirmou.


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