Ofertas de compra do Banif em 2010 e 2011 eram "ridículas", diz antigo presidente

Carlos Duarte de Almeida recordou no Parlamento que o banco se esforçou por encontrar um parceiro.

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Investidores têm que fazer uma escolha entre o impulso negativo do controlo do Estado e o positivo do reequilíbrio das contas Catarina Oliveira Alves

 O antigo presidente executivo do Banif Carlos Duarte de Almeida afirmou no Parlamento que as propostas que chegaram em 2010 e 2011 – período durante o qual liderou o banco – para a compra da instituição eram "ridículas".

"Procuramos arduamente em 2010 e 2011 por um parceiro estratégico. Por duas ocasiões estivemos muito perto de estabelecer parcerias. Mas por motivos fortuitos nenhuma dela se concretizou", começou por afirmar o responsável. "As propostas que nos chegavam para a compra do banco eram ridículas. Nem podiam ser analisadas com seriedade", disse Carlos Duarte de Almeida, durante a sua audição na comissão parlamentar de inquérito ao Banif.

O antecessor de Jorge Tomé no leme do Banif relatou aos deputados a evolução do grupo ao longo dos 23 anos em que esteve ao serviço do banco, 21 anos e meio dos quais enquanto administrador financeiro. "Dediquei mais de 23 anos da minha vida e da carreira profissional ao projecto. Entrei com 31 anos para o grupo recém-criado e saí com 54 anos", afirmou, destacando a grande influência do fundador, Horácio Roque, para o crescimento do Banif.

"O grupo Banif e em particular o seu fundador incutiam o 'espírito de acreditar'", realçou, sublinhando que em meados de 2010 houve consciência entre os gestores do banco de que "para dar dois passos em frente o Banif tinha que dar dois passos atrás". E destacou: "Com a morte do comendador, fui CEO [presidente executivo]. Só no banco é que eu fui CEO, já que na holding não havia comissão executiva. Sabíamos que a futura administração [liderada por Jorge Tomé] não teria tarefa fácil".

Segundo Duarte de Almeida, "a perda de Horácio Roque foi brutal, por ser inesperada" e levou a que "durante vários meses faltasse orientação estratégica" ao grupo financeiro. "Com ele, estou certo de que hoje não estaríamos aqui", lançou, lamentando que "aquilo a que se chama o 'stop and go' [parar e andar] não era feito".

O responsável admitiu que, "olhando para trás, é de reconhecer que o grupo se tornou demasiado grande e demasiado complexo". E "precisava de dois anos ,pelo menos" para recuperar o terreno perdido, frisou.

"Começámos [a reestruturação] em 2010 mas já não foi a tempo. Devíamos ter começado em 2008 ou 2009", afirmou, reforçando que neste "grupo liderado por uma personalidade como Horácio Roque, era muito difícil convencê-lo que para crescer mais era preciso parar um bocadinho".

De resto, Duarte de Almeida admitiu que a herança para a nova gestão foi de um banco com "pontos fortes" mas também com "muitas carências".

O gestor assinalou que já em 2012 havia "elevados rácios de incumprimento no crédito", pelo que "não havia alçapões nem esqueletos no armário" quando a administração de Jorge Tomé tomou posse. "O crédito em risco sobre o crédito total era de 16% quando saímos em 2012", afirmou, sublinhando que não houve grande variação neste rácio nos anos seguintes.

Certo é que "o grupo Banif nasceu do nada e esteve 20 anos a crescer" e, "não sendo um banco do sistema, tinha que crescer na franja do mercado", o que aumentava as probabilidades de ter problemas ao nível da carteira de crédito.

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