O Verão juntou-se à aceleração da economia e o desemprego caiu

Economia portuguesa criou mais 102 mil empregos, prolongando, num segundo trimestre tradicionalmente beneficiado por factor sazonais, a tendência positiva que se vive no mercado de trabalho.

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O Algarve foi a região do país onde o desemprego mais caiu Mario Lopes Pereira

Combina-se uma economia a acelerar na primeira metade do ano com um aumento de procura de mão-de-obra provocado pela aproximação do Verão e aquilo que acontece é uma descida acentuada da taxa de desemprego. Foi esse o resultado no segundo trimestre deste ano, com o desemprego a cair em três meses mais 1,3 pontos percentuais e a ficar, pela primeira vez nos últimos nove anos, abaixo dos 9%. Mas esperar que uma descida deste tipo se mantenha nos próximos trimestres seria demasiado optimismo.

Os dados publicados esta quarta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) vieram confirmar que se mantém bem viva a tendência de melhoria acentuada no mercado de trabalho em Portugal. Esta é uma tendência que se verifica desde que, no início de 2013, a taxa de desemprego atingiu o seu máximo histórico de 17,5% - e que parece querer prolongar-se durante mais algum tempo.

Os números do segundo trimestre são particularmente impressionantes. A taxa de desemprego caiu, em apenas três meses, mais 1,3 pontos percentuais, de 10,1% para 8,8%, o valor mais baixo dos últimos nove anos em Portugal. De igual modo, durante os mesmos três meses, foram criados mais 102 mil empregos, desaparecendo 63 mil desempregados (a diferença entre os dois valores é explicada pelo facto de se ter registado também um acréscimo da população activa).

Ainda assim, seria muito imprudente pensar que este vai passar a ser, nos próximos trimestres, o ritmo de criação de emprego e redução do desemprego a registar-se em Portugal. Se assim fosse, com uma descida de 1,3 pontos percentuais por trimestre, muito rapidamente Portugal voltaria aos níveis mínimos históricos do final do último milénio.

De facto, o que há é uma série de sinais que apontam para que uma parte importante da descida agora verificada se tenha devido a factores sazonais relacionados com o aumento da procura de emprego durante o Verão. Efeitos que nos próximos trimestres não se deverão voltar a fazer sentir.

O primeiro sinal surge quando se compara o resultado do segundo trimestre de 2017 com o de outros segundos trimestres do passado. Ao fazê-lo, percebe-se que aquilo que aconteceu agora está em linha com o ocorrido nos últimos dois anos e conclui-se, de forma clara, que o segundo trimestre é, de longe, o período em que mais empregos são criados em Portugal.

Em 2015, criaram-se 104 mil novos empregos no segundo trimestre e em 2016 mais 89 mil, resultados que não destoam dos 102 mil empregos agora conseguidos. Entre 2013 e 2016, a média de criação de emprego no segundo trimestre foi de 90 mil novos postos de trabalho, ao passo que no terceiro trimestre foi de 37 mil e no quarto trimestre foi de 26 mil negativos. É provável, portanto, que na segunda metade deste ano, se volte a registar uma tendência de estabilização do número de empregos.

Este fenómeno explica-se porque é, no período entre Abril e Junho de cada ano, que as empresas fazem as contratações para os chamados empregos de Verão. E os dados do INE fornecem mais pistas que apontam para este cenário. O sector onde se criaram mais empregos foi, durante o segundo trimestre de 2017, o da restauração e alojamento, precisamente aquele onde mais se faz sentir um aumento de actividade durante o Verão. Foram 45 mil empregos, uma parte importante do acréscimo líquido total de 102 mil. Em segundo lugar, surgem os empregos na agricultura, floresta e pesca (31 mil) e em terceiro a indústria (18 mil).

Depois, é também significativo que, contrariando a tendência registada nos três trimestres anteriores, entre Abril e Junho, a maioria dos novos contratos de trabalho assinados foram com termo, o que dá a indicação de se tratarem de empregos com um carácter mais temporário. Houve mais 47 mil empregos com termo e mais 27 mil sem termo, quando nos últimos doze meses o que aconteceu foi o contrário, isto é, muitos mais empregos criados sem termo.

A evolução dos indicadores de trabalho por região do país também dá mais pistas, já que foi no Algarve, a zona do país que mais cresce no Verão, que a taxa de desemprego mais desceu, passando de 10,6% para 7,6% em apenas três meses.

Por fim, há também problemas no mercado de trabalho que persistem e que mostram que, uma queda acelerada do desemprego será sempre um processo demorado. Neste segundo trimestre, o peso do desemprego de longa duração (pessoas que procuram emprego sem sucesso há mais de um ano), foi de 59,1%, uma pequena descida face aos 59,4% do primeiro trimestre.

De igual modo, para além das pessoas que são oficialmente classificadas pelo INE como desempregadas, subsistem à margem pessoas que estão contra a sua vontade apenas empregadas a tempo parcial ou que, apesar de desejarem um emprego, estão já desencorajadas a procurá-lo. Pela primeira vez, o INE publicou um indicador que junta os desempregados oficiais a esta população, denominando-o como taxa de subutilização do trabalho. Este indicador também caiu durante o segundo trimestre, mas de forma menos expressiva do que a taxa de desemprego tradicional.

Manter o mesmo ritmo de descida do desemprego é, portanto, improvável, mas mesmo assim, o resultado agora obtido confirma que a tendência continua a ser positiva, podendo mesmo esperar-se que os resultados superem aquilo que eram as previsões no início do ano.

Para o total de 2017, o Governo previa, no Programa de Estabilidade apresentado em Abril uma taxa de desemprego de 9,9%, o mesmo valor estimado pela Comissão Europeia em Maio. O indicador agora publicado pode apontar para que, tal como acontece com o crescimento do PIB, a taxa de desemprego possa vir a superar a expectativa do Executivo.

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