O seguro de Portugal está em Sintra

O seguro é Mario Draghi. A partir de hoje, e até quarta-feira estará em Sintra, no Fórum do Banco Central Europeu onde poderá dar novos sinais de até quando continuará a apoiar o euro, e Portugal.

O boletim económico do Banco de Portugal divulgado na semana passada não pode ter deixado de surpreender, nem um primeiro-ministro irritantemente optimista como António Costa. Já não é apenas o crescimento económico que ultrapassa as previsões do Governo - e outras bem menos optimistas - é toda a forma como a economia está a avançar que surpreende.

O que a instituição liderada por Carlos Costa veio dizer é que o país deverá crescer nos próximos três anos acima da média da zona euro, recolocando Portugal numa trajectória de convergência com a Europa. E se este facto já de si surpreende tendo em conta o nosso passado recente, maior surpresa é o facto de essa convergência acontecer sem que haja um agravamento do défice externo. Tal como aqui escrevemos, é caso único nas últimas quatro décadas. Esta era, aliás, uma marca da economia nacional: Portugal crescia à custa da procura interna; essa procura não era acompanhada por igual ímpeto das exportações; o défice externo deteriorava-se e impedia que os períodos de crescimento perdurassem.

É obviamente cedo para garantir que houve uma mudança estrutural e que o cenário apresentado pelo Banco de Portugal seja o novo paradigma da economia nacional. Ainda assim, a confirmar-se a projecção para os próximos três anos, podemos dizer que “saiu melhor que a encomenda”.

Mas há perigos neste cenário. E talvez o maior seja a euforia. E o eventual laxismo que a mesma poderá provocar, tanto nas famílias, como nas empresas e também no Estado.

Apesar dos bons resultados, Portugal continua amarrado a uma pesada dívida – pública e privada – que continua a impedir que o país avance mais depressa. E enquanto não houver - se é que algum dia haverá - uma solução europeia para o problema da dívida soberana, teremos de lidar com esse peso. Como? Criando espaço orçamental para reduzir a dívida até que deixe de ser um peso que nos puxa para trás.

Até que tal aconteça, resta esperar que o maior seguro da economia portuguesa não nos abandone de vez. Sem as suas declarações em 2012, muito provavelmente o fim do programa de ajustamento seria diferente. Sem as actuais intervenções nos mercados, as taxas de juro não estariam a níveis tão baixos.

O seguro é Mario Draghi. A partir de hoje, e até quarta-feira estará em Sintra, no Fórum do Banco Central Europeu onde poderá dar novos sinais de até quando continuará a apoiar o euro, e Portugal.

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