O mérito do turismo

O sector do turismo em Portugal não está apenas a viver um boom como é maior do que o esperado, segundo a análise do banco central. Os números divulgados esta quarta-feira, segundo os quais os serviços de turismo e viagens a não residentes quase cresceram a dois dígitos e fizeram com que as exportações tenham tido melhores resultados do que o previsto, fazem lembrar taxas de economias emergentes fervilhantes, algo de que é difícil falar hoje.

Hotelaria, restauração e proprietários de casas arrendadas em plataformas digitais parecem viver hoje numa “bolha” que lhes está a render milhões – a Airbnb, por exemplo, diz que os proprietários lisboetas ganharam 78 milhões de euros com o arrendamento de casas só no ano passado – e dinamiza iniciativas inovadoras como o Manifesto da Gastronomia, que precisará de trabalho de imagem e de turistas estrangeiros para a alimentar, como os nórdicos ensinam. E é pela gastronomia que lá iremos, segundo um ex-ministro que defende que esta fileira vale uns surpreendentes 20% do PIB.

O turismo é hoje um aliado do Governo e de alguns autarcas, especialmente de Lisboa, mas não só, ao permitir-lhes argumentos económicos para defender o seu desempenho político. As bolhas, pela sua natureza especulativa, deixam para o futuro as facturas. Para já, este sector está a absorver mão-de-obra desempregada e ou jovem, ao mesmo tempo que é um dos que mais emprego precário cria, em condições e remunerações.

Um eco familiar com as teses dos primeiros anos da década 90 de Michael Porter para Portugal, que nos dizia que o pequeno país devia apostar naquilo que sabia fazer e fazia bem para ter sucesso, atravessa esta história do turismo em Portugal. Porter falava de sectores tradicionais, como o agro-alimentar e os têxteis, isto antes de se sentir a sério a invasão asiática. E no turismo, continuam a não faltar ao país recursos endógenos por explorar e potenciar, não apenas gastronómicos.

A história passada e as décadas seguintes mostraram que os casos de sólido sucesso acontecem não tanto por via dos recursos endógenos e de indústrias tradicionais, mas sobretudo com políticas públicas que criem caminhos e com investimento em actividades produtivas com forte tecnologia e que impulsionem a produtividade. O problema vê-se no desempenho da economia portuguesa em 2016, que não conseguiu crescer mais do que 1,4%, com o investimento e a produtividade a manterem-se em queda. As boas notícias não vêm sozinhas.

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