O BCE tem finalmente dados económicos positivos para mostrar

Confiança dos consumidores e empresas voltou a subir e o banco central pode vir a rever as suas previsões para o PIB e a inflação.

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Mario Draghi pode ter mais motivos para optimismo DANIEL ROLAND/AFP

Passados dois meses desde que reforçou as medidas de combate à deflação e a três dias de uma nova reunião do seu conselho de governadores, o Banco Central Europeu (BCE) parece finalmente ter nas suas mãos alguns resultados económicos positivos para mostrar, reduzindo deste modo a pressão para que novas medidas de estímulo sejam adoptadas na zona euro.

O principal motivo para um maior optimismo surgiu dos dados da confiança dos consumidores e das empresas publicados nesta segunda-feira pela Comissão Europeia. O índice de sentimento económico subiu de 104 pontos em Abril (um valor revisto em alta) para 104,7 pontos. Este resultado, que ficou acima das expectativas da generalidade dos analistas, representa a segunda melhoria mensal consecutiva e constitui um argumento de peso para aqueles que acreditam, sobretudo dentro do BCE, que as medidas monetárias que têm vindo a ser aplicadas estão agora a produzir os resultados desejados.

A acompanhar este indicador, ficou-se também a saber nesta segunda-feira que a economia francesa – a segunda maior da zona euro – cresceu no primeiro trimestre deste ano a um ritmo mais elevado do que o esperado (0,6%), ajudada por uma subida mais forte do investimento das empresas.

Esta combinação de bons resultados pode permitir a Mario Draghi, na conferência de imprensa que se seguirá à reunião que o BCE irá realizar em Viena na próxima quinta-feira, fazer um discurso mais optimista em relação ao efeito que as medidas adoptadas pelo banco central estão a ter na economia da zona euro. “O BCE vai salientar a importância do quantitative easing [a compra de activos efectuada pelo banco central nos mercados financeiros], agora que realmente se conseguem observar alguns efeitos positivos nos indicadores”, afirmou um analista de um banco de investimento europeu à Bloomberg.

No mercado existe a expectativa de que, nessa reunião, o BCE não só não altere a estratégia delineada em Março (o momento em que foram reduzidas as taxas de juro e reforçadas as aquisições de dívida pública), como possa apresentar uma revisão em alta das projecções dos seus técnicos para a variação do PIB da zona euro e para a inflação.

Em Março, quando reforçou as suas medidas de combate à deflação, o BCE apresentou uma previsão de crescimento económico na zona euro de 1,4% este ano e de 1,7% no próximo, com uma inflação de 0,1% e 1,3% em 2016 e 2017, respectivamente.

Com as medidas que aplicou, colocando as taxas de juro a níveis mínimos e comprando activos no valor de 80 mil milhões de euros ao mês nos mercados, o BCE espera poder estimular a concessão de crédito às famílias e às empresas na zona euro. Se tal acontecer, isso pode significar que o consumo e o investimento crescem mais depressa, conduzindo igualmente a uma subida da taxa de inflação, sendo actualmente muito baixos os números em que se encontra.

Os responsáveis máximos do BCE, que têm como objectivo assegurar que a taxa de inflação se mantém no médio prazo num valor abaixo mas próximo de 2%, têm revelado estar preocupados com o facto de a variação dos preços na zona euro estar há vários meses muito próxima de zero, registando mesmo em alguns momentos valores negativos, o que coloca a economia em risco de cair numa espiral deflacionista bastante perigosa.

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