O alerta do populismo

A globalização, tal como a conhecíamos, acabou com o “Brexit” e com a eleição de Trump.

As eleições alemãs não constituem um desafio para o resto do mundo, tendo em conta a ameaça de Marine Le Pen em França ou se pensarmos que Donald Trump é, de facto, o Presidente dos Estados Unidos da América e não o personagem de uma sitcom com demasiada popularidade.

O que falta saber é com quem Angela Merkel se vai coligar, e qual a verdadeira expressão da Alternativa para a Alemanha (AfD) nas urnas, para futuro azimute na bússola política. Mas se nada de ameaçador advém das próximas eleições alemãs, isso não é motivo para ficarmos descansados, antes pelo contrário. Aquilo que se tem verificado é o reforço de movimentos, mais ou menos visíveis, a favor do nacionalismo, da intolerância, do racismo e da xenofobia, que conduzem à pobreza material e espiritual.

A globalização, tal como a conhecíamos, acabou com o “Brexit” e com a eleição de Trump. Desde essa altura, instituições como a OCDE, o FMI e a Comissão Europeia lembraram-se de que o modelo de globalização era imperfeito, e têm destacado isso mesmo nos seus relatórios, assustadas com os efeitos do populismo à esquerda e à direita. Na Europa, os receios passaram das questões económicas para o terrorismo e para a imigração, mas todos têm uma raiz em comum: a insegurança, a falta de controlo no futuro. E o crescimento económico, ténue, pode rapidamente voltar a recuar, com o surgimento de uma nova crise financeira.

Muito do desemprego existente foi causado não por mudanças do local de fabrico (os “outros”), mas sim por avanços tecnológicos. Isto quando se adivinham transformações ainda mais rápidas na produção de bens e serviços. E, ao mesmo tempo que se verificavam mudanças estruturais, reduziram-se os apoios, financeiros e não só, aos que perderam o posto de trabalho.

A Comissão Europeia diz que é preciso “ajudar os trabalhadores a adquirirem as competências necessárias para impedir que se agravem as disparidades no mercado laboral”. Quanto à OCDE, o seu líder, Ángel Gurría, destaca que é necessário “voltar a colocar o bem-estar das pessoas no centro das atenções”. Falar é importante, porque mostra um rumo e intenção, mas fazer é fundamental, ao mesmo tempo que é também bastante mais complicado, pois requer consensos, recursos, e demora a ter resultados. Já o populismo é ágil na sua exploração dos medos, e tem todo um terreno fértil para semear e crescer. Que a globalização não funcionou tão bem como devia já se percebeu, mas também já compreendemos que há alternativas piores. Neste momento, há um combate a travar, que passa por melhorar o actual sistema. E uma forma de ter sucesso nesse caminho é perceber que o populismo tem todas as condições para ser muito mais forte do que é agora.

P.S.: A UTAM – Unidade Técnica de Acompanhamento e Monitorização do Sector Público Empresarial não foi extinta. Mas é como se tivesse sido, sem que ninguém soubesse. É que, não obstante a importância da sua missão — o acompanhamento das contas e cumprimento das metas estabelecidas às empresas que compõem o Sector Empresarial do Estado —, o último relatório é referente ao terceiro trimestre de 2016. Ou seja, estão três relatórios em falta. Assim sendo, das duas, uma: ou o Governo considera a UTAM inútil, e então deve proceder à sua extinção/substituição, com a devida justificação, ou então este atraso tem que ser resolvido, bem como explicado. 

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