Nuno Amado defende a criação de um grande “banco privado português de referência"

Presidente do BCP “não tem qualquer problema com a origem ou o género dos seus accionistas” mas defende que é importante “a origem do capital” e “que a gestão esteja baseada no local onde trabalha”.

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Presidente do BCP vai pedir para devolver ao Estado cerca de um terço dos 700 milhões de euros do empréstimo público Miguel Manso

O presidente do BCP, Nuno Amado, veio esta segunda-feira defender a criação de um grande “banco privado português de referência" e garantir que “não tem qualquer problema com a origem ou o género dos seus accionistas”. O banqueiro confirmou que vai, nos próximos dias, pedir para devolver ao Estado cerca de um terço dos 700 milhões de euros do empréstimo público de Coco’s ainda por pagar.

Esta semana o BCP comemora 30 anos que foram celebrados numa conferência de imprensa de apresentação das contas do primeiro trimestre do ano, que decorreu na sucursal da Avenida 5 de Outubro, em Lisboa, onde o banco iniciou a sua actividade na área comercial. Entre Janeiro e Março de 2016, o maior banco privado reportou lucros em queda de 46,7 milhões (menos 23,7%), fruto da redução das mais-valias apuradas com a venda de dívida pública portuguesa. Neste período, as imparidades para crédito caíram 20,1%, totalizando agora 160,7 milhões de euros.

O rácio de capital  (Common Equity Tier 1) subiu de 11,5% para 12,8%, depois de o BCP ter concluído a fusão da operação em Angola (Millenium Bank) com o Banco Privado Atlântico, também seu accionista. Nuno Amado espera pedir nos próximos dias autorização  para antecipar o reembolso de parte do empréstimo de Coco´s ainda a dever ao Estado. À divida de 700 milhões de euros, o banqueiro propõe-se abater entre 200 e 250 milhões.

Instado a comentar o manifesto dos 51 economistas e ex-governantes que pedem a reconfiguração da banca nacional, o banqueiro sublinhou que “o que é fundamental é que o nível de concorrência seja adequado no mercado português”, que o capital “seja diversificado". E de “diversas origens". Assim como é importante que o sector conte com "um banco privado português de referência". E concluiu: “o BCP está no caminho certo” e pode “ocupar esse lugar”. “Tivemos um enquadramento muito exigente para podermos ser um banco que se foca muito em Portugal e no mundo português.” 

Para o presidente do maior banco privado a “origem do capital é relevante”, mas também o é a capacidade de “atrair capitais”, assim como “é importante saber onde está o seu centro de decisão”, o local onde “consolida” as contas e o facto de “a gestão estar baseada no país onde trabalha”.

À pergunta se admitia a entrada no BCP de um investidor de referência não europeu e não angolano, Amado respondeu: “O Conselho de Administração não tem qualquer problemas com a origem ou o género dos seus accionistas, desde que o investimento seja feito by the book”. Mas notou que “são os accionistas que nos escolhem e não somos nós que os escolhemos”, pois é assim que “funcionam as sociedades”. 

Sobre a privatização do Novo Banco,o banqueiro deixou o campo aberto para poder ir a jogo. “Não sei como vai decorrer o processo, mas é fundamental que quando se entrar numa fase mais decisiva”, estejam na corrida “o maior número possível de concorrentes e o mais diversificado” e que esteja presente pelo menos uma “instituição portuguesa, o que não é fácil, mas é importante.” O BCP vai estar envolvido? “É uma obrigação olhar para todo o processo” e se for permitido “então olharemos para o dossier”. Mas tudo "depende de uma negociação entre o Estado e a DGComp [Direcção Geral de Concorrência da Comissão Europeia]”, pois “temos uma proibição de aquisição [por beneficiar ainda de auxilio estatal] que pode ser levantada em circunstâncias excepcionais”. E no final “veremos qual a melhor solução".

Ao longo da reunião, o presidente do BCP foi chamando a atenção para o facto de mais de 50% dos accionistas do BCP serem portugueses, apesar da petrolífera angolana Sonangol ser o maior investidor com cerca de 20% do capital.Até há pouco tempo admitia-se a entrada na instituição da empresária Isabel dos Santos após consumar o divórcio no BPI. 

Nuno Amado falou também do impacto no banco a que preside [cujos estatutos estão blindados a 20% das acçõesl] da entrada em vigor do decreto-lei da desblindagem do capital das sociedades financeiras, já designado de diploma BPI. E repetiu o que antes já tinha dito: “Quando os accionistas fazem um investimento, fazem-no dentro de certas regras societárias e deveriam ser eles a alterá-las”, o que neste caso não aconteceu. Mas “vamos cumprir a lei.”

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