Número de hotéis em Lisboa quase duplica em dez anos

A capital portuguesa contava com 105 unidades hoteleiras em 2008, sendo que em 2017 passou a ter 204 hotéis, revela a Associação Turismo de Lisboa.

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Capital portuguesa tem visto a sua oferta hoteleira aumentar nos últimos anos Sebastião Almeida

O número de hotéis de três, quatro e cinco estrelas na cidade de Lisboa quase duplicou nos últimos dez, revelam os dados disponibilizados à agência Lusa pela Associação Turismo de Lisboa (ATL).

De acordo com os números, a capital portuguesa contava com 105 unidades hoteleiras desta tipologia em 2008, sendo que em 2017 passou a ter 204 hotéis, um crescimento que na óptica do director-geral da ATL, Vítor Costa, trouxe ao país "alguma riqueza" e impediu que Portugal continuasse "a empobrecer".

O maior aumento de unidades hoteleiras aconteceu entre 2014 e 2015, com 23 novos hotéis a abrirem na cidade, o que representa um acompanhamento do crescimento da procura, disse Vítor Costa, em declarações à Lusa.

"Há aqui uma evolução que nos torna um destino turístico hoje com um peso muito diferente daquele que tínhamos inicialmente, com impactos positivos a nível económico, a nível do peso para a economia regional, das exportações, do emprego", notou o director-geral da ATL.

De acordo com a Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), está prevista a abertura de 61 hotéis em Portugal este ano, 25 dos quais em Lisboa. A região de Lisboa vai receber 29 novas unidades hoteleiras, sendo que apenas quatro não estarão dentro da cidade.

Questionado sobre se poderia haver uma sobrelotação de hotéis na cidade, Vítor Costa defendeu que não concorda, apesar de destacar que "há necessidade de este crescimento ser gerido para que seja sustentável".

"Eu penso que se tirarmos o turismo os transportes públicos não ficam melhores, o problema da habitação não fica resolvido, os bairros históricos irão degradar-se como estavam no processo anterior e ficamos todos mais pobres".

"Ninguém consegue responder se há turismo a mais, se há turismo a menos. Se eu for para a fila do Mosteiro dos Jerónimos na hora de ponta digo que há turismo a mais porque tenho muita gente à minha frente para entrar", vincou, acrescentando que "o mais importante não é discutir se há a mais ou a menos, mas como é que podemos gerir e continuarmos a desenvolver o turismo positivamente".

Ainda assim, Vítor Costa advogou que é importante melhorar a "acessibilidade e a mobilidade" na cidade, nomeadamente em relação às infra-estruturas aeroportuárias e à melhoria do serviço do Metro de Lisboa e da Carris.

Relativamente ao preço médio por quarto nos hotéis de três, quatro e cinco estrelas, os dados do Turismo de Portugal dão conta que em 2017 a estadia num quarto de hotel em Lisboa custava em média 103 euros, o valor mais alto em 10 anos.

Também a procura tem aumentado, com a taxa de ocupação por quarto a rondar os 81%, significando a maior taxa de ocupação registada entre 2008 e 2017.

A Ordem dos Arquitectos considera que o crescimento hoteleiro em Lisboa é "positivo", mas alerta para a velocidade com que muitas modificações estão a ser feitas, defendendo, por isso, "uma reflexão séria".

"O problema não é propriamente o haver mais hotéis. Lisboa tinha poucos hotéis e em Portugal, de um modo geral, havia poucos hotéis. É natural que tenha havido um boom de crescimento dos hotéis, o problema é que vieram na maior parte dos casos substituir coisas que preexistiam, que em muitos casos eram habitações não ocupadas, mas também ocupadas", disse à Lusa o presidente da Ordem dos Arquitectos, José Manuel Pedreirinha.

No entender do responsável, o crescimento implica "uma modificação muito profunda na cidade", que exige reflexão por parte das autarquias, arquitectos, sociólogos, economistas e até advogados.

O presidente da Ordem dos Arquitectos disse ainda que receia que "essa reflexão venha a ser feita quando houver alguns disparates já difíceis de resolver". "Se houver um sismo, uma estrutura de um pequeno prédio pode afectar os prédios ao lado que estavam preparados para um tipo de estrutura e que ao ter ali uma estrutura diferente os pode afectar", exemplificou.

"Estou um pouco preocupado por essas transformações estarem a andar a um ritmo, a uma velocidade e com uma intensidade que me parece perigosamente grande", reiterou, acrescentando que se o turismo se reduzir "estas estruturas [hotéis] vão ficar completamente vazias e difíceis de se adaptar para outras coisas".

Numa resposta escrita enviada à Lusa, a Ordem dos Arquitectos defende ainda que "há sem dúvida bons exemplos de integração destes novos equipamentos na estrutura preexistente, mas há também evidentes más práticas, desde a sistemática destruição de grandes conjuntos e a sua substituição com tipologias e vivências muito diferentes e não poucas vezes desajustados, ou o preocupante recurso a um fachadismo sem passado nem futuro que tem destruído importantes testemunhos do nosso património".

"Em termos de cidade é absolutamente necessário que haja um planeamento e um controle que seja flexível", considera, acrescentando que é importante "salvaguardar o necessário equilíbrio entre o novo e o existente, planear equipamentos e redes de transportes, e assim manter a cidade a funcionar: a cidade dos turistas, mas sobretudo a dos seus habitantes, sem manobras de gentrificação, sem guetos de qualquer tipo".

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