Novo produto do Estado atrai cada vez mais pequenos investidores

Procura pelas Obrigações do Tesouro de Rendimento Variável (OTRV) superou oferta em 400 milhões. Pequenos investidores tiveram um peso de 90%.

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Cristina Casalinho lidera o IGCP, entidade que gere a dívida pública, e já afirmou que este ano haverá menos emissões de OTRV face a 2016 NUNO FERREIRA SANTOS

Pela quarta vez em menos de um ano, o Estado colocou dívida pública junto do retalho através das Obrigações do Tesouro de Rendimento Variável (OTRV). E, pela quarta vez, a procura superou a oferta, mesmo depois de um reforço do montante inicial. Mas os resultados da oferta pública de subscrição (OPS), ontem divulgados, mostram um dado mais relevante: esta foi a operação onde os pequenos investidores tiveram uma maior presença, ao representar 90% (equivalente a 56.477) do total de aforradores que aplicaram dinheiro neste conjunto de OTRV.

Na primeira emissão, em Maio do ano passado (e a única em que houve investidores a apostar mais de meio milhão de euros), os pequenos investidores, com aplicações entre 1000 euros (valor mínimo) e 20.000 euros representaram 72% do total, peso que subiu depois para 83% (Agosto) e 86% (Dezembro). Agora, representaram 90%.

Ao contrário dos certificados de aforro e do tesouro, que são vendidos ao retalho através dos CTT, as OTRV são colocadas junto do grande público via balcões dos bancos (como os do BPI, CGD, Novo Banco, BCP e Caixa Central – Caixa Central de Crédito Agrícola Mútuo). Assim, num cenário de juros próximos do zero, com os depósitos a perdem capacidade de atracção, os clientes são desafiados a transferir poupanças paras as OTRV. No entanto, conforme já sublinhou o PÚBLICO, a subscrição de OTRV tem custos elevados, o que pode anular a rentabilidade no caso de aplicação de pequenos montantes. A rentabilidade efectiva da aplicação só é medida pela TIR — taxa interna de rentabilidade líquida.

Trata-se um cálculo que à taxa de juro bruta (1,9% nesta emissão, menos do que as anteriores) retira os imposto (IRS a 28%) e todas as comissões pagas, aos valores actuais. Em alguns casos, e para aplicações até cinco mil euros, a TIR pode apresentar valores negativos, ou seja, pode acabar por representar um prejuízo efectivo para o investidor/cliente.

Na emissão em causa, esta vence a 12 de Abril 2022. As OTRV pagam juros semestrais, calculados a uma taxa variável que será igual à Euribor a seis meses acrescida de 1,90%. Como a Euribor a seis meses está em valor negativo, a taxa mínima é de 1,90%.

Procura excedeu 1,42 vezes a oferta

O certo é que este novo produto de poupança do Estado continua a chamar investidores e, mesmo após reforço, a oferta mostra ser insuficiente. As propostas de investimento chegaram aos 1419 milhões de euros, quando o Estado disponibilizou 1000 milhões. Ou seja,  a procura por este tipo de produto de dívida pública excedeu 1,42 vezes a oferta, mesmo após o reforço feito pelo Estado, que duplicou os 500 milhões planeados inicialmente.

De acordo com os dados pela Euronext Lisboa (as OTRV são negociadas no mercado), 45,3 milhões de euros foram atribuídos por rateio, e outros 4,15 milhões por sorteio.

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Ao todo, houve 63.017 investidores. Além dos 56.477 que aplicaram entre 1000 e 20.000 euros, seguem-se outros 6305 que investiram entre 20.001 e 50.000 euros. A estes somam-se os 154 que apostaram entre 50.001 e 100.000, e os 81 que foram para o escalão superior (entre 100.001 e 500.000). Ninguém foi além do meio milhão de euros.

Esta foi a primeira vez que o IGCP recorreu às OTRV este ano, após ter lançado três emissões no ano passado (com estreia em Maio). Ao todo, o Estado já angariou 4450 milhões de euros com este produto.

A responsável do IGCP, a agência que gere a dívida Pública, Cristina Casalinho, já afirmou, em entrevista ao PÚBLICO, que este ano a ideia é fazer menos emissões face a 2016, seja em número de emissões, seja em valor, apontando para uma por semestre.

Além das OTRV, o Estado financia-se através dos certificados do tesouro e do aforro, bem como por via da emissão de bilhetes e obrigações do tesouro (junto de investidores institucionais).

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