Novo Banco com prejuízo de 249,4 milhões no primeiro trimestre

Saída de obrigações para "BES mau" penalizou depósitos de grandes empresas e de institucionais.

Foto
Novo Banco deverá ser vendido em breve João Silva

A dois meses de se completarem os dois anos da intervenção ao BES, e da criação do Novo Banco, as contas da instituição liderada por Eduardo Stock da Cunha continuam no vermelho. No primeiro trimestre o Novo Banco apurou um prejuízo de 249,4 milhões de euros, que compara com perdas de 117,8 milhões assinaladas em idêntico período do ano anterior. 

Este é um dos temas financeiros sensíveis que o actual executivo liderado por António Costa herdou do anterior executivo e que está a ser resolvido num quadro de urgência, tendo em conta os timings definidos pelas autoridades europeias.

Depois de, em 2015, a primeira tentativa de venda da instituição ter falhado, o dossier Novo Banco terá de estar encerrado em Agosto de 2017. Mas Bruxelas pede ainda que até 31 de Julho de 2016 lhe sejam dadas provas de que foram tomadas medidas para retirar da esfera pública a instituição liderada por Stock da Cunha, ou lhe seja comunicado que o tema está em vias de se resolver.

Nos bastidores aceleram-se as movimentações para vender o banco através de um concurso internacional, processo que está a ser liderado por Sérgio Monteiro, contratado pelo Banco de Portugal (que gere o Fundo de Resolução). O objectivo é encontrar um investidor que assuma a totalidade ou parte da instituição ou garantir a possibilidade de dispersão minoritária do capital em bolsa (fora do retalho).

Detido pelo Fundo de Resolução, dotado de verbas do sector bancário, o Novo Banco é risco público e os contribuintes podem perder até 3900 milhões de euros (o que foi injectado no banco a 3 de Agosto de 2014). E um valor que dificilmente será recuperado. Ao balanço desequilibrado do Novo Banco, junta-se um quadro de incertezas que a passagem do tempo não tem ajudado a minorar. Em cima da mesa das autoridades estão várias centenas de milhões de euros de pedidos de indemnização. Um conjunto de responsabilidades que o BdP retirou do Novo Banco. Mas alguns processos estão a ser dirimidos nos tribunais londrinos e desconhece-se sobre que entidades vão recair no final as contingências. Um vazio que tende a repercutir-se no preço de venda do Novo Banco que será alvo de grande desconto relativo ao risco.

É neste contexto de indefinições que estarão a ser avaliadas outras soluções que podem envolver a partilha de activos entre bancos do sistema. Até ser encontrada uma solução, caberá ao Estado garantir a solidez da instituição.

Esta sexta-feira, Eduardo Stock da Cunha (que deixará a instituição no Verão) divulgou as contas trimestrais com perdas de 249,4 milhões, um agravamento de 131,6 milhões face ao período de 2015. O rácio Common Equity Tier 1 (CET1) fixou-se em 12,4% (10,7% em regime de full implementation), um patamar que a 31 de Dezembro de 2015 estava em 13,5%. 

Em comunicado o Novo Banco refere que a deterioração reflecte uma provisão de 109 milhões para custos de reestruturação e a contribuição sobre o sector bancário. “Sem estes efeitos o resultado do trimestre seria negativo em 140,1 milhões de euros”, com “o resultado operacional a ser positivo em 78,9 milhões” o que, diz o banco, “é demonstrativo da capacidade de recuperação da actividade”.

Por seu turno, a rubrica do crédito a clientes baixou 2200 milhões de euros, tanto quanta a redução de depósitos (uma saída de 2200 milhões), que caiu para 25.100 milhões (menos 8,1%), fruto de decisões de “grandes empresas e de institucionais” pela “política de redução de preço que tornou a oferta neste segmento menos competitiva e pelas repercussões da retransmissão de cinco emissões seniores para o perímetro do BES”.

Entre Janeiro e Março, o activo do Novo Banco caiu para 56.000 milhões de euros, um decréscimo de 2,7% (menos 1600 milhões de euros) “em linha com a prossecução do processo de desalavancagem do balanço”.  Em termos de provisões o Novo Banco contabilizou 348,2 milhões de euros, "que incluem uma provisão para custos com o processo de reestruturação em curso, no valor de 109,6 milhões de euros.”

Sugerir correcção
Comentar