"Não me incomoda se Espanha for o primeiro país sancionado, algum tem de ser"

Ministro da Economia espanhol chega nesta quarta-feira a Estrasburgo para encontros com o vice-presidente da Comissão Europeia e com Moscovici.

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Rajoy com Juncker no Conselho Europeu da semana passada Phil Noble/Reuters

O Governo em funções em Madrid já estava optimista, contando com uma nova trégua de Bruxelas para permitir a Espanha e Portugal anunciarem medidas de redução dos respectivos défices antes de serem decretadas sanções. “Confiante de que não haverá multa”, o ministro da Economia, Luis de Guindos, decidiu, ainda assim, fazer uma viagem não anunciada e rara a Estrasburgo, onde na quarta-feira se vai encontrar com o vice-presidente da Comissão Europeia, Valdis Dombrovskis, e com o comissário da Economia, Pierre Moscovici.

Com o país político concentrado nas negociações para a formação de um novo executivo, depois das segundas legislativas em seis meses, Guindos acredita que, no final, a haver multa esta será de “zero euros!”. Qualquer outro cenário seria uma decisão para “enfraquecer a credibilidade da zona euro”, explicou, numa entrevista à rádio Onda Cero. Mas isso não significa que não haja “detalhes a concretizar”, disse, para justificar a decisão de se deslocar à segunda capital da União Europeia, raro para um ministro da Economia.

Para evitar desencadear o processo que abre portas às sanções, a opinião da Comissão Europeia foi adiada de terça para quinta-feira. Assim, o tema não entra na reunião marcada para esse mesmo dia dos ministros das Finanças e Economia (Ecofin), cuja agenda é fechada sempre de véspera. Assim que a directiva da Comissão for ratificada pelo Ecofin torna-se irreversível e começa a contar um prazo de 20 dias. Com esta manobra, o processo que desencadeia a multa por desvio do défice só pode arrancar no Ecofin de 11 de Outubro, escrevem os jornais espanhóis.

Mais do que suficiente, espera o líder da direita espanhola, Mariano Rajoy, o único que melhorou o resultado nas eleições de 26 de Junho, para formar um novo governo com tempo de apresentar a Bruxelas os cortes que permitirão reduzir a multa a zero – os mesmos que optou por não fazer em ano de eleições. A Espanha que foi a votos pela primeira vez a 20 de Dezembro fechou 2015 com um défice de 5,1% do PIB, quando se tinha comprometido com 4,2% (Portugal deveria ter ficado pelos 3% e chegou aos 4,4%).

Rajoy candidatou-se à reeleição num ano de crescimento (foi de 3,2% em 2015). Em pré-campanha, não se importou de baixar impostos e aumentar a despesa pública. Mesmo no fim, ainda houve tempo para o “Brexit” lhe cair ao colo e lhe servir para apelar às emoções e insistir que representa o “voto útil” contra a ameaça da esquerda anti-austeridade do Podemos. Contados os votos, anunciou que iria começar a trabalhar para uma “grande coligação” com os socialistas assim que regressasse do Conselho Europeu marcado para discutir o chumbo do Reino Unido à União Europeia.

Apesar da extensão da trégua, e da União Europeia reclamar dos líderes espanhóis que formem, quanto antes, um governo estável, sabe-se que o objectivo dos ministros das Finanças e comissários de vários países é “dar o exemplo” e reagir com firmeza. As vozes mais ouvidas falam alemão. “O que é importante é que a Comissão Europeia cumpra com o seu papel, que baseie as suas propostas nas regras", diz um responsável alemão ouvido em Bruxelas. "Não me incomoda que Espanha seja o primeiro país a ser sancionado. Alguém tem de ser."

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