Na Islândia não se fala da crise, mas ainda há sinais dela

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No final de 2008 os três principais bancos da Islândia entraram em colapso AFP/HALLDOR KOLBEINS

“A crise? Qual crise? “. É com uma pergunta que os islandeses respondem quando se pergunta pelos sinais da crise que estalou no país em 2008, quando os três principais bancos do país faliram.

Apesar de o desemprego ainda estar em níveis elevados, face ao que era habitual, e do elevado nível de endividamento das famílias, a ideia que fica é que o pior já passou e, pouco a pouco, a economia levanta-se.

O segredo, dizem-nos, é olhar em frente e lançar mãos-à-obra. Mas também ter uma moeda para desvalorizar.

 “Estamos a dar a volta à crise”, comenta um empresário das pescas, sector exportador que beneficiou com a desvalorização da coroa islandesa. Magnus Jonsson, director-geral da Iceland Seafood em Barcelona, cidade onde vive há quase duas décadas, lembra que comparado com os países do Sul da Europa, a Islândia não se pode queixar. Mas claro que “tem um mecanismo nas mãos que Portugal ou Espanha não têm, pôde desvalorizar a moeda”.

Em Outubro de 2008, os três principais bancos islandeses (Landsbanki, Kaupthing e Glitnir) entraram em colapso e o governo decretou um forte controlo de capitais, impedindo que os estrangeiros levassem o dinheiro que tinham depositado na banca islandesa para fora do país, e a coroa islandesa perdeu 85% do seu valor face ao euro, beneficiando sobretudo o seu sector exportador (maioritariamente peixe e alumínio). No final desse ano a Islândia entrou em falência. Pediu um empréstimo ao FMI e a população saiu à rua, contrariando a imagem de povo pouco dado a manifestações, recusando-se a pagar pela especulação dos bancos. Os depósitos dos islandeses foram garantidos e o país orgulha-se de ter mantido e até aumentado a protecção social, tendo em contrapartida aumentado os impostos sobre a banca e os mais ricos.

Os islandeses orgulham-se de terem tomado a rédeas do destino da sua ilha, que alberga menos de 322 mil habitantes, numa área um pouco maior do que Portugal. O antigo primeiro-ministro sentou-se no banco dos réus acusado de ter sido negligente e pactuado com a especulação da banca. Acabou por ser considerado culpado por não ter agendado reuniões de emergência quando tudo já se encaminhava para o colapso que acabou por se verificar, mas acabou ilibado da acusação de negligência.

Na semana passada, três antigos dirigentes do Kaupthing foram condenados por fraudes, com penas entre os três e os cinco anos e meio de prisão.

Os indicadores dão sinais de melhorias. Depois de, em 2009, a economia ter caído 6,8%, este ano chegará ao fim com um crescimento de 1,6% e no próximo ano o governo espera um ligeiro aumento para 1,7%, mas muito longe das taxas de crescimento de 6% anteriores à crise. O desemprego está a recuar. Depois de ter atingido o pico de 7,6% em 2010, este ano já chegará aos 4,8% e no próximo ano espera-se que continue a recuar, embora sem qualquer vislumbre da taxa de 2,3% registada em 2007. 

A inflação também dá sinais de recuar, depois dos 12,4% em 2008, chegará aos 3,5 no final deste ano e tudo aponta para que não vá além dos 3% em 2014.

A recente decisão do primeiro-ministro, Sigmundr David Gunnlaugsson, de perdoar em 13% o crédito à habitação contraído pelas famílias, é visto como uma forma de aliviar o enorme peso que recai sobre os seus orçamentos mensais e deixa empresários e famílias expectantes. A medida será escalonada por um período de quatro anos e será financiada por um imposto a lançar sobre a banca. Não se notam entusiasmos esfusiantes com a medida. Querem esperar para ver. Além de outras coisas, a crise deixou os islandeses mais desconfiados em relação aos políticos.

A jornalista viajou a convite da Promote Iceland 
 
 
 
 
 

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