Mudanças no sector bancário nacional afectam concorrência

Fernando Ulrich chamou atenção para dificuldades que o sector bancário enfrenta.

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Nuno Ferreira Santos
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"O que está a acontecer no sector bancário em Portugal vai levar à diminuição do número de concorrentes", um processo que terá "avanços e recuos", mas que "é a resposta às novas condições de mercado", defendeu o presidente executivo do BPI, Fernando Ulrich, um dos oradores da conferência organizada pelo PS para debater "O sector bancário em Portugal: Banca e Economia: desunião de facto?". 

No encontro que esta terça-feira está a decorrer na sede socialista, no Largo do Rato, em Lisboa, participam ainda o ex-secretário de Estado das Finanças Carlos Costa Pina, os deputados João Galamba e Brilhante Dias, para além do presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB), o social-democrata Fernando Faria de Oliveira. A reunião será encerrada pela secretária-geral adjunta, Ana Catarina Mendes.

Na banca "há economias de escala muito grandes" e a resposta é "a concentração" e "menos concorrentes aumenta o peso de cada um dos que ficam. Mas não estou a dizer se é bom ou mau", analisou. 

O banqueiro do BPI chamou ainda a atenção para o quadro de dificuldades que o sector bancário enfrenta, e que não é exclusivo de Portugal. "Não vamos voltar tão cedo aos volumes de crédito que os bancos chegaram a ter no balanço", disse Ulrich, quando enumerava as dificuldades colocadas à actividade. De seguida lembrou que antes os bancos "podiam ter uma carteira com dívida pública ilimitada", com "um gasto de capital nulo", o que "dava algum rendimento." Isto, porque "a dívida de médio e longo prazo emitida pelos Estados da zona euro" era contabilizada "a zero" sem risco. Uma situação que se alterou depois da crise financeira, o que "é bom para a economia e para os Estados", mas mau para os bancos. Hoje na Alemanha os juros da divida pública são negativos, referiu.

"Temos hoje uma regulação exigente e mais cara, e não me estou a queixar", continuou Ulrich, para quem "depois dos excessos" que se verificaram no sector bancário e que foram "permitidos pela regulação", é "normal" que o nível de exigência dos supervisores e da regulação aumente. Mas a mudança de contexto tem um preço para o sector, não só ao nível dos procedimentos, mas também "em investimentos nos sistemas informáticos e nas contribuições para o Fundo de Resolução" dotado de verbas do sector, mas gerido na esfera pública.

O aparecimento de instituições não financeiras, baseadas na inovação tecnológica, a competirem com os bancos traz exigências acrescidas. "Não estão a tentar ser bancos completos, mas estão a tentar entrar em áreas especificas" da actividade, explicou, o que "no curto prazo" obrigará a mais investimentos.

Ulrich salienta que de fora da sua lista de dificuldades ficou o tema das imparidades – um dos factores que deteriorou, por exemplo, os balanços da Caixa Geral dos Depósitos, do BCP e do Novo Banco –, por considerar que não afecta todas as instituições, por depender da "forma como cada uma foi gerida". 

Para o presidente do BPI a "maior dificuldade é ter de lidar com tanta alteração em simultâneo: mudanças regulatórias, tecnológicas e de formação".

Finalmente, referiu como aspecto positivo, "a capacidade de concertação que ainda hoje se verifica e que leva a que bancos e sindicatos se tenham entendido na revisão do contrato colectivo de trabalho. "Demorou tempo, mas que valeu a pena" e bancos e sindicatos, "vamos mudar algumas coisas, para que o essencial fique na mesma", nomeadamente assegurar a viabilidade dos Serviços de Assistência Médica e Social (SAMS).

Antes de dar por terminada a sua intervenção, Ulrich deixou um recado: A principal função do banco "não é dar crédito, mas proteger o dinheiro dos seus clientes." "A necessidade de garantir segurança aos clientes,vai transformar a banca comercial", continuou, socorrendo-se de uma imagem: "Queremos ter um sistema eléctrico em que as centrais não expludam, em que a electricidade chegue às casas. Mas é preciso investimento, rentabilidade, investidores, segurança". E concluiu: "Tudo isso é caro."

E este novo contexto implicará uma maior concentração da banca. Afinal, as "empresas eléctricas até são poucas".

Crédito malparado é "problema grave"

Na mesma conferência, Faria de Oliveira, presidente da APB, alertou para a necessidade de se resolver o problema do crédito malparado, que é um "dos problemas graves da banca portuguesa. "O montante total estimado é de 18 mil milhões de euros", afirmou. Contudo, isto não significa um problema muito diferente dos restantes países da Europa onde o montante total chega aos 800 mil milhões de euros. Contas feitas, Faria de Oliveira diz que Portugal representa 2%, um valor "sensivelmente igual ao peso do país no contexto europeu".

A discussão sobre esta dificuldade do sistema bancário foi levantada numa altura em que o Governo discute a criação de um veículo financeiro (o chamado "banco mau") para resolver o mal-parado nos bancos. Sobre este assunto pouco foi dito, apenas Carlos Costa Pina, ex-secretário de Estado e agora administrador da Galp Energia, defendeu que uma solução para o crédito malparado não pode ficar apenas "ao nível dos balanços dos bancos", mas deve olhar-se para o efeito na economia e sobretudo para o efeito nas "pequenas e médias empresas uma vez que as grandes dispõem de outras alternativas". Com Liliana Valente

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