Moinhos do futuro portugueses

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Tiago Pardal lidera a Omnidea Rui Gaudêncio/PÚBLICO

Balões ainda são protótipo mas podem ser um novo passo no desenvolvimento da energia eólica

Muitas vezes, é por acaso que as boas ideias surgem, mas depois temos de alimentá-las com novas hipóteses até tomarem forma. Foi o que aconteceu a Tiago Pardal. Há cerca de cinco anos, este investigador e empresário estava na praia, no Algarve, a ver os iates a passarem, quando se imaginou dentro de um daqueles barcos, no meio das ondas. "Naaaa! Gastam demasiado combustível...", pensou. Pôs-se então a questionar se poderia existir um barco com uma vela, que aproveitasse a força do vento para alimentar um motor. E nunca mais largou aquele pensamento.

É verdade que o projecto Boreas, em fase de desenvolvimento desde que a Omnidea, liderada por Tiago Pardal, requereu a primeira patente em 2006, está muito distante daquele dia na praia. Mas foi esse o primeiro momento. A ideia de produzir energia a partir da força do vento continua a ser um dos principais projectos que inspiram os investigadores desta pequena empresa portuguesa, que conta com uma equipa de 15 pessoas e está instalada no parque tecnológico da Universidade Nova de Lisboa, no Monte da Caparica. No entanto, em vez da vela de um barco capaz de se alimentar a vento, a equipa do Boreas acabou por desenvolver um cilindro mais leve do que o ar que um dia - esperam - poderá alimentar a energia das casas e das cidades. Pode ser até que estes estranhos balões que podem subir até três quilómetros de altitude, para tirarem proveito de ventos que quase nunca param, sejam no futuro as nossas turbinas eólicas, acredita Tiago Pardal. Afinal, o equipamento acabará por sair mais barato e o aproveitamento da força do vento deverá ser bem maior do que nos parques eólicos de hoje em dia, que produzem apenas 25 a 30 por cento do tempo, sublinha o responsável da Omnidea.

"Este novo tipo de parque eólico será de muito mais baixo custo do que os actuais, que custam o dobro de uma central térmica (a carvão, por exemplo). Queremos ser tão baratos como uma central térmica", assegura Tiago Pardal.

Neste momento, o Boreas (ou HAWE, de High Altitude Wind Energy, como é conhecido na Comissão Europeia, que financia o projecto em dois milhões de euros) está entre protótipos. Tiago Pardal acredita que será possível fazerem a demonstração final do projecto no fim de 2012, em Portugal. Mas apesar de neste momento não ser possível observar directamente um destes "moinhos" a alta altitude, o conceito parece relativamente simples.

"A vantagem de se ir para alta altitude é que há sempre vento. Uma eólica não funciona com ventos abaixo de quatro metros por segundo, mas nós sim, pelo que produzimos quase sempre", afirma este investigador, formado em Engenharia Mecânica pelo Instituto Superior Técnico, de Lisboa, e a fazer um doutoramento em Química na Áustria.

Será a força do vento, ao impelir este "cilindro" para cima, que vai, por sua vez, arrastar um cabo ligado a um guincho ao nível do solo, ligado a um gerador, que irá produzir energia eléctrica. Uma pequena parte desta energia (cerca de um quinto) terá de ser reaproveitada para puxar o cilindro "voador" para baixo, cerca de um quilómetro apenas, para que o vento o volte a impelir para cima e se produza novamente electricidade.

Simples? Nem por isso. Ainda há vários desafios para ultrapassar, até que o objectivo final seja atingido, mas a Omnidea já sente que as empresas concorrentes, que desenvolveram conceitos semelhantes, têm obstáculos mais fortes para ultrapassar.

No fim, a Omnidea não se quer ficar apenas por um cilindro, mas por vários, numa espécie de grande colchão gigante, que poderá chegar a fabricar cinco mw (megawatts) de energia - bem mais do que as actuais torres eólicas, que produzem no máximo três mw. Outras vantagens, face aos "moinhos" de hoje, é que estes cilindros ficam muito mais distantes do solo e podem instalar-se muito mais longe no alto mar, uma vez que não precisam de um leito oceânico com pouca profundidade como é o caso das torres eólicas offshore, enumera o responsável e fundador da empresa.

No consórcio liderado pela Omnidea, financiado pela Comissão Europeia no âmbito de um programa para o desenvolvimento de futuras energias emergentes, estão também outras companhias que colaboram no mesmo projecto. Uma é a Royal Lankhorst Euronete, uma firma luso-holandesa que fabrica redes de pesca e cabos para plataformas petrolíferas. Irá fornecer, para este caso, cabos que aguentam 60 toneladas, flutuam nas águas e albergam cabos eléctricos, fibras ópticas e tubagens de gás. Outra, entre vários membros do consórcio, é a EDP, que irá ajudar a validar o projecto, no final.

E enquanto desenvolvem o próximo protótipo do Boreas, os responsáveis da Omnidea vão já pensando em mercados possíveis. O Canadá, país onde muitas localidades vivem isoladas boa parte do ano e precisam de ser autónomas em termos energéticos, pode ser o primeiro destino escolhido em direcção ao mercado.

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