Metro nas mãos da câmara? Ministro abre a discussão

Autarquias a controlar o Metropolitano, aposta na partilha de deslocações, investimento em ciclovias. O ministro do Ambiente diz que há muito a fazer na mobilidade.

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João Pedro Matos Fernandes, ministro do Ambiente Nuno Ferreira Santos

Depois da Carris, o Metro de Lisboa: o ministro do Ambiente, Matos Fernandes, reabriu esta sexta-feira a discussão sobre a transferência para a autarquia da rede de metropolitano. “Não tenho nenhum problema em considerar essa hipótese mais à frente. As vantagens são muito menos óbvias e imediatas” do que no caso da Carris e da STCP, que foram entregues à gestão das câmaras, largando a privatização pretendida pelo Governo PSD/CDS. “Mas é muito normal que as autarquias venham também a gerir empresas como esta”, acrescentou o ministro, no Open Day promovido esta sexta-feira pelo PÚBLICO sobre mobilidade.

Matos Fernandes acusou o Governo de Passos Coelho de ter pretendido “imobilizar as pessoas” nas cidades, garantiu que não há nenhum país do mundo onde as empresas públicas de transportes tenham lucros. E deu como exemplo a seguir o novo sistema de pagamentos que o Metro do Porto inaugurou, permitindo a utilização da rede apenas com um “check in” por telemóvel, com a conta optimizada (ao menor preço possível) a aparecer ao fim do mês: “A tecnologia pode revolucionar” os transportes, disse o ministro do Ambiente, “e o que está a ser feito no Andante é usar transporte público com a naturalidade de beber água ou acender a luz.” O próximo passo "pode vir a ser uma conta de mobilidade, se associarmos a isto a conta dos estacionamentos, as deslocações por Uber, os sistemas partilhados.”

Ouvindo o discurso do ministro, antevê-se que é mesmo na partilha de transportes que o Governo se prepara para colocar as cartas - ou seja, a aposta orçamental. Explicando que antes das autárquicas o Governo nada dirá sobre o que virá inscrito no Orçamento do Estado para 2018, Matos Fernandes deixou a indicação de que é esse o caminho: “Circular num final de tarde, ir à escola, ir ao ginásio, e ter uma rede de transportes que dê tudo, é muito difícil. O importante é ter uma oferta de transporte disponível”, que não obrigue a levar o automóvel para a cidade. “E o Estado não se pode pôr de fora. Porque há metas públicas, por exemplo, por virtude do acordo de Paris”. O que virá aí ficou, para já, em segredo.

Outra aposta que vai merecer investimento do Estado será a construção de uma rede de ciclovia nacional. Mas essa, só com os próximos fundos comunitários - pós 2020. “Vamos fazê-lo à escala nacional para garantir que nas interurbanas é possível circular de bicicleta”, explicou Matos Fernandes, apontando as estatísticas para explicar que há, aqui também, um caminho a pecorrer: em Portugal só menos de 2% da população se desloca de bicicleta, na Europa há cidades com médias de 7% “e com temperaturas menos amenas”. 

Antes do ministro do Ambiente, já tinham discutido o tema João Felizardo, líder da portuguesa CEIIA, e Pedro Rocha e Mello, vice-presidente da Brisa. Ambos apostados em que tudo mudará rapidamente no panorama da mobilidade nas cidades. O trunfo, reconheceram, é a partilha de dados: “Porque não ter um sistema de sinalética que seja electrónico, para mudarmos os sentidos, as faixas de trânsito, o estacionamento, sempre que se justificar naquela hora?”, desafiou José Felizardo. 

No Open Day que assinalou o dia da mobilidade, sobressaiu ainda um desafio do ministro às empresas: “Os empregadores são fundamentais. Porque não fazer parte do pacote salarial, não o carro, mas 200 ou 250 euros por mês para ir e vir trabalhar? Dá para pagar muitas viagens, as empresas reduzem compromissos face a terceiros, têm menos riscos. Podem fazer diferente e melhor”, concluiu Matos Fernandes.

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