Mercado de trabalho: o que esperar para 2017?

As boas notícias associadas à queda do desemprego devem ser devidamente temperadas com as notícias menos boas do aumento da emigração ou do número de desencorajados, as quais implicam uma redução do potencial produtivo do país.

Antes da crise de 2008-2009, a redução do desemprego era geralmente acompanhada por um por aumento do emprego e um aumento da população ativa. Em termos médios, por cada emprego criado no período de 2004 a 2008, o número de ativos aumentava em 2,1. O crescimento da população ativa era então explicada por uma melhoria das condições do mercado de trabalho, que encorajava inativos a procurem ativamente trabalho e como tal passarem para a condição de ativos. Paralelamente, taxas de desemprego baixas eram um convite à entrada de imigrantes, o que também contribuía para um aumento da população em idade ativa.

O ciclo económico que se iniciou após 2013 traz uma novidade na relação antes descrita: para a diminuição do desemprego passa a contar não só o crescimento do emprego, mas também a diminuição da população ativa, seja por via da emigração seja por via das transições para a inatividade. Ou seja, as boas notícias associadas à queda do desemprego devem ser devidamente temperadas com as notícias menos boas do aumento da emigração ou do número de desencorajados, as quais implicam uma redução do potencial produtivo do país.

Os dados anuais, ontem publicados, confirmam novamente que a descida do desemprego foi superior ao aumento verificado no emprego, resultando em nova descida da população ativa. As boas notícias é que estaremos, provavelmente, no final deste ciclo: a variação homóloga do 4º trimestre de 2016 mostram apenas uma diminuição residual da população ativa. Daqui, o que nós poderemos antecipar para 2017? Em primeiro lugar que os fluxos migratórios tenderão para o equilíbrio, terminando um longo período de perda de capital humano, essencial para o crescimento da economia portuguesa. Em segundo lugar, à medida que a taxa de desemprego dos grupos com maior empregabilidade (nomeadamente ativos com experiência laboral e formação superior) se aproxima da sua taxa de desemprego natural (a taxa de desemprego dos ativos com habilitação superior ronda neste momento os 8%), será cada vez mais notório o desencontro entre as qualificações daqueles que permanecem no desemprego com as qualificações requeridas pelas novos empregos criados, o que deverá implicar uma diminuição do ritmo de descida da taxa de desemprego.

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