Mário Centeno, o magnânimo

Se há lição que se pode tirar da evolução da popularidade de Mário Centeno entre Fevereiro e Maio é que é efémera.

O défice orçamental diminui; o país ganha espaço dentro do espartilho orçamental a que está amarrado com a iminente saída do Procedimento por Défice Excessivo; a economia cresce mais que o previsto e continua a acelerar; há mais margem para negociar com os parceiros de coligação; a melhoria do rating deixou de ser uma miragem. A vida é bela.

E no topo do mundo está Mário Centeno.

O ministro das Finanças é ironicamente comparado pelo seu homólogo alemão a Cristiano Ronaldo. O elogio é feito ao mesmo ministro que, como tão bem chamava a atenção esta semana Bruno Faria Lopes no Jornal de Negócios, em Fevereiro passado esteve quase, quase, quase a sair do Governo, devido as desinteligências referentes à nomeação de António Domingues para a Caixa Geral de Depósitos. Já poucos se lembrarão, mas ainda não passaram quatro meses desde a tarde em que o ministro das Finanças falou ao país e, de forma atabalhoada e penosa, admitiu que teria havido erros de percepção mútuos entre ele e António Domingues.

Adiante. Passou pouco tempo, mas foi tempo suficiente para que a confiança que ia crescendo nos consumidores e nos empresários portugueses contagiasse Mário Centeno.

De tal forma é assim que o ministro, em entrevista ao Expresso, já considera “evidente” que não pode fechar a porta à liderança do Eurogrupo. É evidente que pode. Mas também parece evidente que não quer fechar essa porta.

Mário Centeno está à espera que a situação política na Holanda se clarifique. Que o actual presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, deixe de ser ministro das Finanças e deixe, assim, o lugar vago. Centeno poderá então avançar. Estará então nas nuvens.

É este clima de euforia que se parece instalar que assusta. Os últimos dados económicos permitiram a Portugal construir uma enorme oportunidade. Nada mais do que isso. A oportunidade de poder, desta vez, atirar para trás das costas o problema do défice. Só isso, nada mais.

Se há lição que se pode tirar da evolução da popularidade de Mário Centeno entre Fevereiro e Maio é que é efémera. Basta que a conjuntura internacional se degrade para passarmos da euforia à depressão. Para que Centeno passe de bestial a besta. Mas essa será uma preocupação do ministro das Finanças.

A nossa é que não aconteça o que já aconteceu por duas vezes no passado: vermos novamente o país entrar no Procedimento por Défice Excessivo. De voltarem os pedidos de mais sacrifícios. A desconfiança, a recessão e o desemprego. É essa a oportunidade que não devemos perder. E é nessa que o Governo devia dar sinais de estar concentrado.

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