Empresa apanhada nos Panama Papers pagou cerca de 180 mil euros a Manuel Pinho

O ex-ministro da Economia desempenhou funções na administração do BES e do BES África e o seu nome consta da ES Enterprise, que consta nos Panama Papers.

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Em Julho de 2009, Pinho demitiu-se do governo socialista depois de, no quadro de um debate do estado da nação, ter dirigido um gesto de corninhos à bancada comunista Nelson Garrido

Manuel Pinho, ex-ministro da Economia de José Sócrates, é um dos nomes que constam da lista dos fluxos financeiros da ES Enterprise, um veículo sombra do Grupo Espírito Santo/Banco Espírito Santo (GES/BES), que servia para pagamentos a colaboradores ou a entidades terceiras e cuja abrangência o Ministério Público investiga desde o final de 2014. 

Através da ES Enterprise terão passado cerca de 180 mil euros destinados a Manuel Pinho, apurou o PÚBLICO. A alegada remuneração pode estar associada à actividade do economista no universo GES, onde trabalhou durante cerca de duas décadas, desempenhando cargos executivos ao mais alto nível, nomeadamente de administrador do BES. As suas funções como gestor da instituição liderada por Ricardo Salgado foram interrompidas em 2005 após ser nomeado ministro da Economia de José Sócrates. Em Julho de 2009, Pinho demitiu-se do governo socialista depois de, no quadro de um debate do estado da nação, ter dirigido um gesto de corninhos à bancada comunista, considerado insultuoso. Um ano depois, foi convidado para dar aulas numa universidade em Nova Iorque, num seminário sobre energias renováveis sector patrocinado por uma doação de três milhões de euros da EDP.

Após a passagem pelo Governo, regressou ao universo Espírito Santo para assumir funções de vice-presidente da holding BES África. Criada em 2009, com um capital social de 50 mil euros, esta sociedade concentrava as participações do grupo no BESA (BES Angola) no Banco Marocaine (BMCE), no Aman Bank da Líbia e no BES Cabo-Verde.

O PÚBLICO já tinha noticiado em Novembro de 2014, que a ES Enterprise era usada pela família Espírito Santo como saco azul, designadamente para fazer despesas não documentadas, e de onde terão transitado fundos provenientes de Angola. O nome desta empresa surge referenciada na mega investigação a que se deu nome de Panama Papers, e a que se associam o Expresso e a TVI. E em Dezembro de 2014, era mencionado pelo PÚBLICO, noutro texto, que tinham passado pelo veículo do GES, ES Enterprise, e que nunca constou dos organigramas oficiais, verbas que totalizavam 300 milhões de euros.

Desde Junho de 2015 que o PÚBLICO tem tentado, por diversas vezes, quer por sms, por mensagem de voz, ou mesmo contactando a sua advogada, obter um comentário de Manuel Pinho sobre o tema mas este nunca esteve disponível para o fazer. Neste domingo, voltou a insistir através de mensagem escrita, mas sem resultado.

Já o Ministério Público inquirido em Julho pelo PÚBLICO sobre a presença de Manuel Pinho, entre outros, na lista de movimentos financeiros da ES Enterprise respondeu “que o processo ES Enterprise estava em investigação” e que “não deixará de investigar todos os factos com relevância criminal que cheguem ao seu conhecimento”.

Recentemente, Manuel Pinho surgiu envolto numa outra polémica judicial, esta relacionada com o facto de reclamar do Novo Banco uma reforma antecipada negociada com Salgado (a que teria direito desde os 55 anos) de 3,5 milhões de euros de compensações até à idade da reforma (65 anos). Esta verba era o resultado, não de ter sido vice-presidente do BES África, mas do exercício de funções de administrador executivo no BES durante dez anos anos.

A 20 de Abril de 2015, Manuel Pinho entrou com um processo em tribunal a reclamar o pagamento de 1,8 milhões de euros, accionado contra o Novo Banco (ex-BES) e o Novo Banco África (ex-holding BES África). Em 2014 recebia um vencimento mensal do BES África de quase 40 mil euros.

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