Manuel Pinho negoceia reforma de 3,5 milhões com o grupo Espírito Santo

O antigo ministro da Economia de José Sócrates prepara reforma antecipada.

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Manuel Pinho regressou ao grupo liderado por Salgado em 2009 Daniel Rocha

Vinte anos depois de ter entrado no grupo BES, o ex-ministro da Economia de José Sócrates, Manuel Pinho, de 60 anos, está a negociar com Ricardo Salgado a sua reforma antecipada. Em paralelo com a actividade de docente, Manuel Pinho exerce actualmente as funções de vice-presidente da holding BES África, auferindo mensalmente cerca de 50 mil euros, o que abriu espaço a que possa reclamar cerca de 3,5 milhões de euros de compensações até à idade da reforma (65 anos).

“A única coisa que confirmo é que o dr. Manuel Pinho está a contemplar, efectivamente, pedir a reforma a que tem direito desde os 55 anos, não como administrador do BES África, mas como administrador executivo que foi, durante cerca de 10 anos, no BES”, disse ao PÚBLICO fonte oficial ligada ao ex-ministro.

O PÚBLICO tentou contactar Manuel Pinho para obter um comentário, mas este encontrava-se ontem na China e o telemóvel estava indisponível. Um ano depois de ter saído do Governo, em 2009, o ex-ministro anunciou que ia dar aulas na Universidade de Columbia, na School of International and Public Affairs, numa cátedra criada por si sobre energias renováveis e patrocinada pela EDP. As funções de docente nos EUA, onde hoje reside, são exercidas em simultâneo com as de vice-presidente do BES África.  

Através de mensagem escrita, a mesma fonte ligada ao gestor desmentiu que este esteja a reclamar do BES um adiantamento de quatro milhões de euros. Uma versão que não coincide com outros dados recolhidos pelo PÚBLICO junto de responsáveis sindicais e de quadros relacionados com as sociedades africanas do grupo bancário e que garantiram estar em curso uma “negociação dura” entre o BES e o gestor.

O PÚBLICO inquiriu igualmente a instituição presidida por Ricardo Salgado sobre se confirmava a existência de negociações com Manuel Pinho e sobre o valor em cima da mesa. Fonte oficial respondeu com uma curta declaração: “Não comentamos.”

Quando deixou o Governo socialista, em Junho de 2009, após ter feito um gesto considerado “ofensivo” para a bancada do PCP, durante um debate parlamentar, Manuel Pinho regressou ao grupo liderado por Salgado, mas agora como vice-presidente do BES África. A sociedade, criada em 2009 com um capital social de 50 mil euros, concentra as participações do grupo no BESA (BES Angola) no Banco Marocaine (BMCE), no Aman Bank da Líbia e no BES Cabo-Verde.

Depois de ter adoptado, anos a fio, uma política generosa de remuneração dos seus quadros de gestão, o BES foi agora obrigado pelo Banco de Portugal e pelos supervisores europeus a proceder a grandes ajustamentos que abrangeram a área laboral e que poderão estar na base do pedido de reforma antecipada de Manuel Pinho. Após ter apurado em 2013 um prejuízo de 517 milhões de euros, Salgado teve de constituir já este ano uma provisão adicional de 700 milhões de euros e de reforçar o capital em 1045 milhões de euros. O período de subscrição encerrou ontem, mas os direitos de subscrição de novas acções ficaram concluídos na sexta-feira com uma valorização de 61%, o que faz antever que o aumento de capital esteja garantido.

Este sábado, o Expresso noticiou que o BESA, dominado pelo BES, “não sabe a quem emprestou 5700 milhões de dólares” e que a “administração actual acredita que 745 milhões foram parar às mãos de Álvaro Sobrinho”, que utilizou a verba "para negócios da sua família e parte chegou a Portugal para financiar o jornal Sol”.

Álvaro Sobrinho, que detém a Newshold, dona do semanário Sol e o diário i, e que controla 15% da Cofina (Correio da Manhã, Jornal de Negócios e revista Sábado), foi presidente do BESA até 2012. O semanário salienta que os 5700 milhões de dólares representam 80% do total da carteira, desconhecendo-se quem são os beneficiários económicos nem qual foi o destino dado ao dinheiro.

No prospecto de emissão do aumento de capital do BES já se refere que o BESA tem um buraco comercial superior a 3,1 mil milhões de euros, facto que levou o próprio Estado angolano a prestar garantias soberanas sobre os créditos das empresas angolanas, o que protege o banco português de riscos associados à actividade da instituição angolana.

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