Maior parque europeu de produção de microalgas avança na Póvoa de Santa Iria

Investimento de 22 milhões de euros cria cerca de 100 postos de trabalho. Objectivo final é desenvolver cluster que envolva áreas de investigação, produção, transformação e comercialização de microalgas.

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O crescimento do projecto na Póvoa de Santa Iria poderá vir a obrigar a comprar CO2 para “alimentar” as microalgas ADRIANO MIRANDA

A maior unidade de produção de microalgas da Europa já está em fase de instalação numa área de 14 hectares das antigas salinas da Solvay Portugal, na Póvoa de Santa Iria. O designado “Algatec Eco Business Park” vai aproveitar as condições de 11 tanques (lagoas) de salmoura desactivados há décadas para desenvolver a criação em larga escala de microalgas, plantas aquáticas ricas em nutrientes com um leque cada vez mais alargado de aplicações. No total, o projecto deverá envolver um investimento de 22 milhões de euros, com apoios significativos do programa de financiamento comunitário Mar 2020, e gerar cerca de 100 postos de trabalho. O volume de negócios anual deverá rondar os 10 milhões de euros.

Trata-se de um empreendimento do grupo português A4F (Algae for Future), que tem já cerca de 15 anos de experiência no desenho, instalação e operação de unidades de produção de microalgas. Segundo Nuno Coelho, presidente da comissão executiva da A4F, as microalgas (organismos só visíveis com auxílio de microscópio) são uma matéria-prima encarada como um importante activo do presente e do futuro, já que é possível utilizar estas microalgas para a alimentação humana ou animal, para o fabrico de produtos farmacêuticos e de cosméticos, para fertilizantes, para tratamento de águas residuais e de solos contaminados ou para o fabrico de bioplásticos, de fuel ou de produtos biomédicos.

Os mercados mundiais necessitam, por isso, de uma maior produção de microalgas, para reduzir o seu custo e para responder as diversas possibilidades de utilização. Ao mesmo tempo, a produção de microalgas tem um efeito ambiental positivo, porque estas plantas aquáticas também absorvem muito dióxido de carbono. Precisam, todavia, de condições climatéricas específicas, sobretudo com tempo seco e com algum nível de calor. Esta é uma actividade que está mais desenvolvida no Médio Oriente (Israel), no Japão e nos Estados Unidos (Califórnia) e menos desenvolvida na Europa central e do Norte. “As microalgas são seres unicelulares completamente invisíveis à vista desarmada. São plantas aquáticas, que fazem a fotossíntese e consomem CO2 (dióxido de carbono), libertando oxigénio”, explicou Nuno Coelho, frisando que os produtores de microalgas são, na prática, “agricultores” ou “aquacultores”.

“As microalgas precisam de alguma água e, sobretudo, de CO2. Precisam, também, de ser colhidas com muita regularidade. Podemos ter mais de 300 colheitas por ano”, vincou o CEO da A4F. As microalgas também necessitam de água em movimento e, por isso, um dos primeiros passos do projecto da Póvoa será a instalação de bombas nos 11 tanques envolvidos. Ao mesmo tempo será instalada tecnologia que permite “resguardar” as microalgas em períodos mais chuvosos.

Póvoa de Santa Iria foi, segundo Nuno Coelho, a primeira escolha. “Não só pela sua localização geográfica de excelência (junto a Lisboa, à beira Tejo e com um número elevado de horas de sol por ano), mas também pelo facto de estar perto de uma indústria (Solvay) com a qual poderemos partilhar meios. Já identificámos 35 pontos de contacto, que nos permitem ter acesso a vapor, a energia, a CO2. Há aqui possibilidades de desenvolver sinergias fantásticas”, sustenta o CEO da A4F.        

Novo cluster

O Algatec vai, assim, ocupar uma área de 14 hectares a sul da cidade da Póvoa de Santa Iria e a A4F vai, também, transferir os seus espaços administrativos e de laboratório para o complexo industrial da Solvay. O objectivo final é desenvolver ali um cluster associado às microalgas, que envolva áreas de investigação, produção, transformação e comercialização. Quando estiver concluído, o parque deverá permitir a produção de 600 toneladas de microalgas por ano (peso seco) e a absorção de mais de duas mil toneladas de dióxido de carbono. Nuno Coelho admite mesmo que o crescimento do projecto poderá vir a obrigar a comprar CO2 para alimentar as microalgas.

“Neste momento somos confrontados com uma necessidade muito grande de conseguir muitas áreas de produção de microalgas para diminuir os custos de produção. Este projecto da Póvoa de Santa Iria vai ter um papel muito importante, não só em Portugal, como em termos mundiais. Neste momento não temos capacidade para produzir o suficiente para dar resposta, estamos aquém das necessidades mundiais, mas não temos dúvidas que iremos lá chegar”, prevê Nuno Coelho.    

Luís Saldanha da Gama, administrador-delegado da Solvay Portugal, explicou que, depois da reestruturação do complexo industrial da Póvoa (a principal fábrica que ali existia, que produzia clorato de sódio, fechou em 2013), foi criado o Solvay Business Park, com uma área total de cerca de 30 hectares, onde já se instalaram sete empresas. “Houve aqui uma grande reestruturação e abriram-se janelas de oportunidade. Este projecto do Algatec é uma referência para o futuro”, vincou.

Já Alberto Mesquita, presidente da Câmara de Vila Franca de Xira, realçou as características inovadoras e amigas do ambiente deste projecto e o emprego qualificado que vai criar.

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