Luís Amado defende que cooperação deve estar no centro da acção dos Estados

A cooperação "deve estar no centro da acção política dos Estados", afirmou ontem o ministro dos Negócios Estrangeiros português, no arranque da iniciativa Os Dias do Desenvolvimento, que hoje termina em Lisboa.

Luís Amado recordou discussões de há uma década, quando foi secretário de Estado para a Cooperação, condicionadas pela oposição entre comércio e ajuda, "trade not aid", e defendeu que o caminho certo é "trade and aid e não trade not aid": "conciliar abertura dos mercados com ajuda ao desenvolvimento".

"A matriz de crescimento económico está em crise e tem de ser adaptada às novas condicionantes que nos são apresentadas por esta crise", disse Luís Amado, que apontou também "os limites da acção do Estado, a única instituição a que os povos se podem agarrar", mas que não pode por si só resolver parte dos problemas.

Para o ministro, o momento é de "reflexão séria sobre o paradigma de desenvolvimento que adoptámos à escala global", mas - por "oposição à confrontação e ao conflito" - "a cooperação internacional num quadro multilateral é essencial para que o mundo encontre [uma] estabilidade que generalize os modelos de bem-estar".

Marcada pela ausência de alguns dos participantes anunciados, devido aos condicionamentos no transporte aéreo provocados pela nuvem de cinza vulcânica, a terceira edição da iniciativa Os Dias do Desenvolvimento, em que participam cerca de uma centena de organizações e que levou à montagem de dezenas de stands no centro de congressos da cidade, permite aos visitantes contactarem com experiências concretas de cooperação. Exemplos: do sonho concretizado de construir uma fábrica de móveis em Timor-Leste, nascido na cabeça do presidente da Câmara Municipal de Paredes, ao projecto do Instituto Politécnico de Leiria de dar forma a uma TV Comunitária e Redes Sociais baseadas na Internet, na Guiné-Bissau.

A iniciativa arrancou com a discussão do tema Energia e Desenvolvimento. João Gomes Cravinho, secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, recordou que "um terço da população mundial não tem acesso a electricidade" e outro terço só a tem "algumas horas por dia". Depois de lamentar a falta de resultados na conferência de Copenhaga sobre alterações climáticas, em Dezembro, recordou o compromisso do Governo português de contribuir com 36 milhões de euros entre 2010 e 2012 para projectos de cooperação que ajudem países parceiros a reforçar a cobertura eléctrica e a reduzirem a sua factura energética, como já está a ser feito com Moçambique. "Não podemos esperar por um acordo global, devemos avançar com os instrumentos que temos", disse, referindo-se ao incentivo às energias renováveis como uma das novas áreas de cooperação.

O mesmo raciocínio foi desenvolvido pelo secretário de Estado da Energia, Carlos Zorrinho: "Com as energias renováveis podemos levar as fontes de energia junto das populações." "Há riscos de outros vulcões se estarem a formar, vulcões sociais decorrentes de muitas assimetrias existentes", alertou.

O primeiro dia da iniciativa incluiu debates sobre Governação, Segurança e Desenvolvimento e sobre a relação entre Media, Cidadania e Desenvolvimento.

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